Ramon Menezes é o novo técnico da seleção brasileira de futebol.
Interino, é verdade, com a missão inicial (que talvez seja a única) de comandar a equipe em amistoso em março contra o Marrocos.
Mas não deixa de ser uma oportunidade que muitos treinadores gostariam de ter.
Há interinos que em tempos recentes acabaram efetivados em grandes seleções, casos de Gareth Southgate (Inglaterra) e Lionel Scaloni, este o maior exemplo de sucesso, já que campeão do mundo com a Argentina na Copa do Qatar.
Quando saiu o anúncio, tive uma resposta óbvia e me fiz uma pergunta incômoda.
A pergunta: quem é esse Ramon Menezes? Incômoda porque, como não tenho acompanhado com atenção as categorias de base da seleção brasileira, não sabia que era ele o titular do cargo de comandante do time sub-20.
Vendo o rosto dele, lembrei-me imediatamente do jogador Ramon. Só Ramon, nada de Menezes. É curioso como, quando o jogador vira técnico, o sobrenome então desconhecido aparece. Alguns exemplos: Muricy Ramalho, Cristóvão Borges, Antônio Carlos Zago, Roger Machado.
Bom meio-campista articulador, “baixinho” (1,70 m), o mineiro Ramon atuou por várias equipes de 1989 a 2013, entre elas Cruzeiro, Atlético-MG, Bahia, Vitória, Vasco, Fluminense e Botafogo.
Ele, e essa foi minha principal lembrança, foi em 2002 chamado de “QI de alface” por Levir Culpi, então treinador dele no Galo, durante uma discussão antes de um treinamento no qual o meia atuaria entre os reservas.
Com essas palavras, o intelecto de Ramon era questionado, já que alface não possui QI (quociente de inteligência). O caso parou na Justiça, que em 2005 condenou o Atlético a pagar R$ 50 mil ao atleta, já que o impropério partiu de um funcionário do clube.
Muitos anos depois, em 2016, Levir afirmou em uma entrevista que se arrependia por ter insultado Ramon dessa forma.
Por muito tempo, contudo, a expressão “pegou”, devido à repercussão. Quando jornalistas ou torcedores citavam Ramon em conversas, e o interlocutor não sabia de imediato quem ele era, esclarecia-se: “O QI de alface”. Ruim, depreciativo, mas era assim.
Pois Ramon, 50, chegou agora aonde Levir, 69, jamais esteve e jamais estará: o comando da seleção brasileira. Resultado de êxito recente com a equipe sub-20, campeã neste começo de ano do Sul-Americano da categoria, na Colômbia.
Com a escolha de Ramon, vem a resposta óbvia: a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) está com tremenda dificuldade para definir quem comandará o Brasil no ciclo até a Copa do Mundo de 2026, que será na América do Norte (a organização ficará a cargo de EUA, México e Canadá).
Houve alguns rumores, falou-se em opções estrangeiras (o italiano Carlo Ancelotti apareceu, e ainda aparece, como o nome mais forte). A conclusão é que a confederação não vê alternativa decente entre os técnicos brasucas.
E está difícil mesmo achar alguém que seja consenso, como era Tite quando assumiu a seleção, em meados de 2016.
Além do aumento na quantidade de gringos treinando equipes da primeira divisão do Brasileiro –como os portugueses Abel Ferreira (Palmeiras), Vítor Pereira (Flamengo) e Luís Castro (Botafogo), o uruguaio Paulo Pezzolano (Cruzeiro) e o argentino Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza)–, não há alguém que desperte confiança na torcida ou nos dirigentes.
Eu pensava, e até comentei com algumas pessoas, que Renato Portaluppi (Renato Gaúcho) poderia ser o escolhido.
O técnico do Grêmio não é um novato na profissão, já falou anteriormente que gostaria de comandar o Brasil e possui títulos relevantes no currículo: uma Libertadores e duas Copas do Brasil.
Da nova safra, quem tem mais espaço na mídia são Fernando Diniz (Fluminense), uma espécie de “Guardiola genérico”, cuja filosofia de jogo (muitas vezes enaltecida) não traz títulos, e o personalista Rogério Ceni (São Paulo), muito bom no Fortaleza e que quase perdeu com o Flamengo, na rodada final, um Brasileiro ganho (o de 2020).
Dos nomes com bastante rodagem na profissão, Mano Menezes já teve sua chance com a seleção (2010 a 2012), e Dorival Júnior…
Bom, o educadíssimo Dorival eu sempre considerei um treinador medíocre, sem grande potencial. Mas ressalte-se que faz anos circula por times de elite, e recentemente faturou tanto Libertadores como Copa do Brasil com o Flamengo.
Parecia, junto com Renato Gaúcho, o nome mais propenso a ser convidado para a seleção. A interinidade de Ramon mostra que não passava de uma propensão enganosa.
Os demais treinadores em atividade no Brasil, e nascidos aqui, não merecem ser citados. Podem ser bons profissionais em alguns momentos, porém estão longe do nível que a seleção brasileira precisa.
Então vamos mesmo de Ramon, a conferir se ele é bom. Tendo sucesso no amistoso de março, pode, por que não?, seguir os passos de Southgate e Scaloni.