Após a declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que a covid-19 era oficialmente uma pandemia, em março de 2020, o mundo se voltou mais para a comunicação à distância. Redes sociais foram impulsionadas em acesso e novas ideias também surgiram para atender a essa nova demanda.
Um dos serviços que nasceu durante o confinamento foi o Clubhouse. O aplicativo era uma forma de comunicação em grupo por áudios e, em questão de meses, virou um dos assuntos mais quentes em tecnologia.
Você se lembra do Clubhouse? (Imagem: Getty Images)Fonte: GettyImages
A proposta e a exclusividade inicial no acesso pareciam receita para o sucesso e, até certo ponto, ele foi um fenômeno. Porém, tão rápido quanto o seu surgimento foi a queda – hoje em dia, é difícil encontrar alguém que saiba qual a situação atual do serviço.
Mas o que aconteceu com esse aplicativo? Em um mercado disputado e dinâmico quanto o de plataformas digitais, é preciso ter mais do que uma boa ideia para se manter relevante. Acompanhe para saber mais!
Clubhouse: a plataforma saiu primeiro para os VIPs, depois para o mundo
O Clubhouse foi lançado em março de 2020 como um aplicativo para iOS. A startup existia meses antes, criada pelos empreendedores Paul Davison e Rohan Seth.
Davison era um veterano do Vale do Silício, com uma empresa já vendida para o Pinterest. A ideia inicial da dupla era lançar um serviço para podcasts sob o nome Talkshow, mas os planos mudaram.
Paul e Rohan, criadores do Clubhouse. (Imagem: Glory Media/Divulgação)Fonte: Glory Media
O funcionamento do Clubhouse é baseado em salas, nomeadas por assunto ou o nome do responsável. A comunicação era feita apenas por áudio, sendo que falar é apenas opcional: se quiser, o usuário poderia simplesmente ficar como espectador e escutar os demais.
As falas eram organizadas por um botão de mão levantada, que se tornou também a logo do aplicativo. O moderador da sala concedia a permissão aos interessados, controlando o fluxo.
A interface original do app. (Imagem: Google Play Store/Divulgação)Fonte: Google Play Store
O aplicativo do Clubhouse era gratuito para baixar e usar, sem qualquer tipo de monetização inicial. Porém, o seu acesso era baseado em um fator de exclusividade: você só podia criar uma conta no serviço se recebesse um convite de alguém já cadastrado.
No começo de 2021, quando atintiu o seu ápice, o Clubouse chegou a ter uma avaliação de mercado de US$ 2 bilhões. Ele ainda registrou quase 2 milhões de usuários ativos, além de ultrapassar 9,5 milhões de downloads nas lojas digitais mobile.
Além de juntar criadores de conteúdo e desconhecidas, o app passou a ser usado pontualmente por celebridades. Até mesmo nomes da tecnologia, como Mark Zuckerberg e Elon Musk – anos antes de comprar o Twitter – foram anfitriões ou participantes de conversas no app.
Queda vertiginosa do Clubhouse após a Pandemia
Com o passar dos meses, o Clubhouse começou a perder popularidade. O serviço passou a registrar quedas na quantidade de usuários e downloads, além de ficar cada vez menos em evidência na imprensa. Além disso, o serviço passou a ser alvo de críticas sobre as poucas funções e a falta de moderação, entre outros problemas.
A demora em implementar funções importantes foi vista como uma das razões da sua derrocada. Só em maio de 2021, por exemplo, o Clubhouse ganhou um aplicativo para Android e depois acabou com o esquema de convites.
A concorrência de plataformas digitais já era alta em 2021. (Imagem: Getty Images)Fonte: GettyImages
Além disso, ele demorou até começar a monetizar usuários (por meio de “gorjetas” a quem participava de salas) e permitir a gravação ou o replay de conversas nativamente.
No mesmo ano de 2021, o Twitter copiou o formato de salas de chat em áudio com os Spaces — uma função relativamente bem sucedida na plataforma e que existe até hoje. Já o público mais jovem ou gamer preferiu reuniões a partir do Discord.
Outro fator prejudicial para os negócios foi a situação da pandemia. O retorno gradual ao convívio presencial, a chegada da vacina e a flexibização do distanciamento social reduziram ainda mais os acessos.
O próprio público já passava pelo período de fadiga de conversas via áudio ou vídeo, que afetou também serviços como o Zoom. No primeiro semestre de 2022, os downloads caíram pela metade e a quantidade de salas mantidas diariamente também despencou.
O Clubhouse ainda existe?
O aplicativo Clubhouse ainda está no ar e em funcionamento, mas hoje ele é bem diferente do serviço original.
A situação mudou de forma radical no ano passado. Em abril de 2023, a companhia demitiu metade dos funcionários para enxugar as operações. Antes disso, ela lançou uma função chamada “Houses”, que limitava chats a grupos fechados de amigos.
Em setembro, ela apresentou o “novo Clubhouse”. O aplicativo agora era um serviço de mensagens com ferramentas sociais para você se comunicar com seus contatos ou descobrir novas amizades.
O novo formato e o funcionamento renovado do Clubhouse. (Imagem: Clubhouse/Divulgação)Fonte: Clubhouse
Os chats em áudio ainda são a função principal do app, mas agora as conversas são assíncronas – assim como no WhatsApp, os participantes podem enviar recados de voz e eles são ouvidos quando a outra pessoa estiver disponível.
A plataforma até se rendeu às mensagens de texto, mas de uma forma diferente: você escreve o conteúdo que deseja enviar e um recurso do app usando IA converte ele em áudio para uma voz customizada que se parece com a sua.
As vozes customizadas do Clubhouse. (Imagem: Clubhouse/Divulgação)Fonte: Clubhouse
Além disso, ele agora trabalha com o slogan “friends over followers” (“amigos acima de seguidores”), posicionando o app como uma forma de valorizar os contatos mais próximos – em vez de apenas engajamento.
Apesar de corajosas, as tentativas de mudança de imagem e estratégia do Clubhouse dificilmente farão com que ele volte a ter a popularidade do começo da sua existência.
E você, chegou a usar o aplicativo na época que estávamos de quarentena devido ao Covid-19? Para mais matérias nostálgicas como essa, continue de olho no TecMundo. Aproveite para entender que fim levou o ICQ. Até a próxima!