O Senado americano votou nesta quinta-feira (2) pela aprovação da almirante Lisa Franchetti para comandar a Marinha dos Estados Unidos. Como Chefe de Operações Navais, ela se torna a primeira mulher a se juntar ao grupo de elite de oficiais militares superiores que compõem o Estado-Maior Conjunto dos EUA.
A nomeação foi aprovada por 95 votos a 1, em um momento em que o Senado pressionava para preencher vagas críticas na liderança militar. Um senador republicano tem tentado bloquear as nomeações para as posições em protesto contra a política de aborto do Pentágono.
A veterana naval com 38 anos de serviço é ex-chefe da 6ª Frota dos EUA e das forças navais dos EUA na Coreia do Sul, e também serviu como comandante de ataque de porta-aviões. Sua nomeação pelo presidente americano Joe Biden marca a primeira vez que uma mulher é indicada para chefiar um ramo do serviço militar do Pentágono.
A Guarda Costeira dos EUA é liderada por uma mulher – a almirante Linda Fagan – mas essa divisão está subordinado ao Departamento de Segurança Interna e não ao Departamento de Defesa.
Quem é Lisa Franchetti
Franchetti nasceu na cidade de Rochester, no estado americano de Nova York, e tem atualmente 59 anos. Ela estudou jornalismo na Universidade de Northwestern, em Illinois. Enquanto ainda estava na universidade, ingressou no Programa de Treinamento do Corpo de Oficiais da Reserva Naval e entrou para o serviço militar em 1985.
Antes de sua nomeação como primeira mulher a comandar a Marinha dos EUA, ela serviu como vice-chefe e chefe interina de operações navais. Oficial de guerra de superfície, Franchetti foi diretora de estratégia, planejamento e política do Estado-Maior Conjunto dos EUA de 2020 a 2022, segunda vice-chefe de operações navais para o desenvolvimento do combate em 2020, e comandante da 6ª Frota dos EUA de 2018 a 2020. Também foi a segunda mulher promovida a almirante quatro estrelas na Marinha dos EUA e a primeira mulher a servir no Estado-Maior Conjunto.
Casada, mãe de uma filha e adepta da corrida em seu tempo livre, Franchetti passou por muitos dos mesmos cargos que outros altos oficiais navais de guerra —capitã de navio, comandante de ataque de porta-aviões, comandante de frota. Mas ela foi a primeira mulher a assumir muitas dessas funções.
“Ela é um modelo para muitas jovens oficiais, principalmente oficiais de guerra de superfície, e sempre considerou como uma missão pessoal ser a mentora que ela nunca teve, ou que teve muito poucas”, disse o vice-almirante aposentado Ron Boxall, ao site Defense News.
O almirante aposentado James Foggo, superior de Franchetti quando ela chefiava a 6ª Frota dos EUA, conta ter conversado diversas vezes com a militar veterana sobre a intersecção entre ser oficial da Marinha e mulher.
“Uma das coisas que ela disse é que aprendeu há muito tempo que não é preciso sacrificar sua feminilidade ou sua identidade de gênero para ser uma boa líder na Marinha”, disse Foggo ao Defense News.
“Em outras palavras, você não precisa abaixar a voz. Não precisa gritar. Não precisa usar palavrões. Você pode simplesmente liderar. Você pode ser uma líder eficaz ouvindo sua equipe, cuidando dela, compreendendo sua equipe. Isso é liderança e não tem a ver com gênero.”
O impasse no Senado americano
Nos últimos nove meses, o senador republicano do Alabama, Tommy Tuberville, tem impedido o Senado de maioria democrata de confirmar quase 400 promoções militares. Ele se opõe a uma política do Pentágono que paga as despesas de viagem de militares que trabalham em estados onde o aborto é limitado ou ilegal, para realizar o procedimento em outros locais.
Ainda assim, Tuberville votou pela aprovação de Lisa Franchetti para comandar a Marinha. O único voto contrário à indicação foi do também republicano Roger Marshall, ex-capitão do Exército e senador pelo Kansas.
Na quarta-feira à noite, os colegas republicanos de Tommy Tuberville romperam com ele pela primeira vez e leram em tom dramático os nomes dos 61 nomeados para permitir que cada um obtivesse uma votação individual no plenário, ignorando na prática a posição do senador.
O republicano do Alasca, Dan Sullivan, repreendeu Tuberville, dizendo que “as carreiras das tropas americanas estão sendo punidas por uma disputa política com a qual eles não têm nada a ver e nenhum poder para resolver”.
Autoridades militares e legisladores disseram que ele está colocando em risco a segurança nacional dos EUA durante os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.
“Ambas as partes devem trabalhar juntas para garantir que nossos militares tenham pessoal completo e estejam totalmente equipados para defender o povo americano a qualquer momento, mas particularmente neste momento de crise”, disse o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, em comunicado na quinta-feira.
O secretário de Defesa, Lloyd Austin, disse estar “feliz” por algumas posições terem sido aprovadas, mas acrescentou que o “atraso sem precedentes na confirmação dos principais líderes militares prejudicou a prontidão de nossos militares e sobrecarregou desnecessariamente nossas famílias militares”.
*Com a colaboração da BBC News Brasil.
Este texto foi originalmente publicado aqui