Muito antes do WhatsApp e até mesmo do MSN Messenger, outro programa para computadores era o favorito para conversas online — inclusive no Brasil. O ICQ foi muito usado da segunda metade dos anos 1990 até o fim da década seguinte e marcou uma geração de pessoas que desbravaram o começo da internet comercial.
Ele foi um dos primeiros mensageiros instantâneos, ao lado de nomes como o Internet Relay Chat (IRC) e o AOL Instant Messenger (AIM), conquistando legiões de usuários que queriam conversar com conhecidos ou fazer novas amizades.
Aos poucos, entretanto, o público foi migrando para outros serviços e o ICQ virou apenas uma memória de seus recursos mais marcantes, como o barulho de notificação de novas mensagens e o número de identificação. Mas você sabe o que aconteceu com esse serviço antes tão popular?
Florescendo para o sucesso
O ICQ nasceu oficialmente em novembro de 1996, fruto de uma desenvolvedora israelense chamada Mirabilis. O nome dele é uma sigla que remete foneticamente à frase “I seek you”, ou “Eu procuro você” na tradução literal do inglês. Já a logo da flor representa a Mirabilis jalapa, nome científico da planta chamada por aqui de Maravilha.
Em vez do email, cada pessoa ao se cadastrar recebia uma combinação numérica usada no login e para adicionar outros usuários, os UINs. Mesmo chegando a até nove dígitos, não é raro encontrar quem usou o programa e ainda se lembra do seu código pessoal.
Uma versão antiga do ICQ. (Imagem: Old Version/Divulgação)Fonte: Old Version
Gratuito e leve para baixar e instalar, o ICQ rapidamente ganhou fama global. Por volta de 2001, ele tinha mais de 100 milhões de usuários em todo o globo — um número ainda mais impressionante levando em conta que estamos falando de um período de popularização dos PCs e do ambiente online.
Além disso, aos poucos ele foi ganhando novos recursos, incluindo transferência de arquivos, grupos de conversa e o status “Invisível”, para você aparecer offline para os outros.
As primeiras complicações
Parte dos problemas do ICQ envolveram a sua troca de donos. Ainda no auge do serviço, em junho de 1998, a Mirabilis foi adquirida pela rival AOL. O serviço seguiu relativamente independente e ficou doze anos sob o controle dessa pioneira da internet.
Com ela mesma em crise e o ICQ já em baixa, ela vendeu o mensageiro em 2010 para o grupo de origem russa Digital Sky Technologies. Essa companhia é o que hoje conhecemos como Mail.Ru, um dos conglomerados de tecnologia mais poderosos do país e dono do Telegram.
Uma das interfaces mais modernas do app. (Imagem: TechSpot/Divulgação)Fonte: TechSpot
A partir desse ponto, o ICQ deixa de ser prioridade na empresa e já era um rival que pouco ameaçava nomes como o crescente MSN, além de Google Talk e Skype.
O ICQ seguiu em atividade e tentou ao menos dois grandes relançamentos: um em 2014, que incluiu aplicativos para Android e iOS, e outro em 2020, durante a pandemia da covid-19, quando as comunicações à distância ficara mais frequentes. Ele agora tinha até criptografia nos chats e suporte para videoconferências.
Porém, nenhum dos momentos foi o suficiente para reviver a popularidade — ele teve picos momentâneos de download, inclusive quando o WhatsApp foi alvo de críticas por mudanças nos termos de uso, mas nada que o sustentasse a longo prazo.
As últimas pétalas
Por outro lado, o ICQ começou a virar notícia por motivos ruins. Em 2018, denúncias alegavam que agências de espionagem da Rússia tinham acesso a mensagens de usuários. Além disso, ele passou a ser usado por grupos que se aproveitavam do ambiente pouco monitorado para organizar cibercrimes e compartilhar materiais ilícitos.
Em setembro de 2023, ainda no ar, o ICQ foi suspenso pela Justiça no Brasil por ser usado para compartilhar vídeos e imagens de violência sexual. Com problemas parecidos em outros países e atualizações apenas pontuais, o Mail.Ru decidiu encerrar as atividades do mensageiro após 28 anos no ar.
A mensagem de despedida no site oficial. (Imagem: ICQ/Divulgação)Fonte: ICQ
Em 26 de junho de 2024, o ICQ deixou oficialmente de existir e todo o seu serviço foi descontinuado. Apesar do fim da vida controverso, quem conversou pelo programa em seu auge tem boas memórias desses tempos em que a comunicação online ainda dava seus primeiros passos.