Quando o futebol salva: a história de Shamar Nicholson – 25/12/2023 – O Mundo É uma Bola – EERBONUS
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Quando o futebol salva: a história de Shamar Nicholson – 25/12/2023 – O Mundo É uma Bola

Pode o futebol salvar a vida de alguém?

No sentido macro, não só o futebol, mas todo esporte, ao ser empregado como política pública para os jovens, tende a tornar uma sociedade melhor.

Esse jovem, focado em uma atividade esportiva física e/ou mental (por exemplo, o xadrez), estaria, teoricamente, mais longe de “se perder na vida”: seguir o caminho da criminalidade, envolver-se com drogas, andar com más companhias e outros desvios periculosos.

No sentido micro, individualizando-se a questão, um jogador que hoje atua na França afirma que o futebol o livrou de uma situação que possivelmente resultaria em sua prisão ou até em sua morte.

Shamar Nicholson, 26, é jamaicano nascido em Kingston, a capital do país caribenho. Cresceu em Trench Town, um gueto da cidade de 1,2 milhão de habitantes conhecido pelo dia a dia de violência e delinquência.

Para tentar não se envolver com o ambiente nocivo ao seu redor, Shamar, reconhecidamente um brigão (“eu era um encrenqueiro”, afirma o próprio), começou a direcionar sua energia para jogar bola, frequentando o Boy’s Town, clube da vizinhança.

Em 2015, contudo, ocorreu uma tragédia familiar que o fez interromper a atividade esportiva. Seu pai foi morto a tiros durante uma partida de futebol, e o assassino era alguém que Shamar conhecia.

“Meu pai era meu ídolo, eu o admirava. É difícil ter pensamentos positivos quando perdemos alguém que amamos”, declarou o jogador em entrevista à revista francesa So Foot.

Com a raiva à flor da pele, pensou em se tornar um gângster. “Quando ele [pai] foi morto, a violência estava crescendo dentro de mim. Eu estava saindo com as pessoas erradas. Pensei em fazer coisas ruins, em matar gente.”

“Eu poderia ter conseguido uma arma, é mais fácil do que você pensa. As pessoas especulavam, diziam: ‘Com certeza ele vai se vingar e se tornar uma pessoa ruim’.”

De acordo com Shamar, seus parentes, em especial sua mãe, o impediram de se entranhar em vias tortuosas. “Eles me disseram: ‘Lá, ou você morre ou vai para a prisão. Você não pode viver assim’.”

A decisão foi difícil, porém ele conseguiu, com o apoio familiar e lembrando de acontecimentos pesados no mundo do crime (“tenho amigos que morreram”), retomar o foco no esporte.

“Concentrei-me totalmente no futebol. Sem distrações. Decidi fazer todos os sacrifícios necessários para me profissionalizar no exterior.”

Shamar prosseguiu atuando no Boy’s Town, mesmo sem receber salário. Atacante grandalhão (1,92 m) e artilheiro, chamou a atenção apenas, contudo, de um clube da periferia da Europa, o Domzale, da Eslovênia, em 2017.

Mesmo assim, não hesitou. “Disse a mim mesmo que era a melhor oportunidade para eu ir mais longe.”

Os primeiros meses nos Bálcãs foram duros: hotel-treino-hotel-treino-hotel. Shamar não tinha amigos, a comida e o clima eram estranhos, não falava o idioma. Em seu quarto, ele chorava.

Mas as boas atuações no time renderam ao obstinado jamaicano uma transferência em 2019 para um centro de maior expressão, a Bélgica. Passou a defender o Charleroi, onde permaneceu por três anos.

No ano passado, depois de uma temporada em que marcou 13 gols no Campeonato Belga, valorizou-se e foi negociado com o Spartak de Moscou, um dos grandes times da Rússia, por 8 milhões de euros (R$ 43 milhões pelo câmbio atual).

Nesta temporada, o Spartak o emprestou ao Clermont Foot, da primeira divisão da França, país que tem um dos principais campeonatos nacionais na Europa.

Lá, Shamar tem encarado o desafio da luta contra o rebaixamento. Sua equipe, uma das mais fracas da liga, está na última colocação –o líder é o PSG, 29 pontos à frente. Em 13 partidas, o camisa 23 anotou somente dois gols.

O titular da seleção jamaicana, porém, olhando em retrospectiva, não se vê em situação que deva ser lamentada, pelo contrário. E quer que sua escolha e seu progresso sejam exemplos na Jamaica.

“Mudei e tenho orgulho, porque muitas crianças poderão se identificar com a minha jornada.”

FONTE

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