Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Recentemente foram criados estereótipos baseados no período temporal que nascemos. É natural que soframos influência de quando nascemos, sobre nossos comportamentos, bem como valores e atitudes. Atualmente, se reconhecem seis gerações e seus respectivos períodos de nascimento:
A partir do reconhecimento das gerações e suas características, são levantadas questões como: Qual delas cuida mais da sua saúde? Quem usa mais telas? Quais são mais preocupadas com trabalho? E com o lazer? Qual geração faz mais atividade física?
A respeito da última questão, é notável como a necessidade de movimento físico reduziu no avançar das décadas. Escrevo isso, enquanto máquinas trabalham em minha casa: lavando roupas, louças e um robô aspirador limpa a casa, ou seja, praticamente não gasto energia em tarefas domésticas. Isso não era possível sequer para uma geração anterior à minha, presuma para a da minha avó.
Apesar do pouco esforço em casa, reservo uma hora ou mais do meu dia para praticar exercícios, um conceito que também teve sua importância alterada ao longo das gerações. Somos rodeados de pessoas de quase todas as gerações e temos diversos exemplos à nossa volta, mas para ir além das observações empíricas e individuais, é fundamental consultarmos às evidências científicas sobre o tema.
As pesquisas sobre atividade física X gerações
Uma pesquisa na Holanda analisou a participação esportiva de diferentes gerações, nascidas entre 1920 e 1999. Por meio de uma análise de três bancos de dados da população holandesa, os pesquisadores notaram bruscas diferenças entre o período de nascimento das pessoas (eles não usam os termos citados acima nas pesquisas). As gerações mais novas têm praticado mais esportes do que as mais antigas.
A prevalência de participação esportiva semanal foi maior nos nascidos entre 1990 e 1999, quando comparados às outras gerações. Na Holanda, as gerações mais novas estão fazendo melhor do que as mais antigas, quando o assunto é atividade física.
Os Millennials e a Geração Z se destacaram. Dentre as explicações para o resultado, estão a maior consciência e atenção sobre os benefícios da atividade física, bem como mais oportunidades em relação ao tipo e locais para a prática, por parte dos mais jovens.
No Canadá, as gerações mais novas também estão mais ativas, durante seu tempo de lazer e no transporte, mas também estão mais sedentárias, pois ficam mais tempos sentados, especialmente a Geração Z. Para os pesquisadores, atenção deve ser dada aos nascidos entre 1975 e 1984, ou seja, gerações X e Y, para conseguirem aumentar o movimento em suas vidas.
Parece que as gerações mais novas estão mais ativas do que as mais antigas.Fonte: Getty Images
No relatório do Conselho de Atividade Física dos Estados Unidos de 2018, os mais ativos foram os Millennials (46%), seguido pela Geração Z (45%), Geração X (44%) e os Boomers (31%). Talvez a busca por exercícios pela geração Millennials tenha relação com sua saúde mental, pois esses adultos têm apresentado elevadas prevalências de ansiedade e depressão e podem buscar o movimento como tratamento.
Dados recentes confirmam que as gerações mais ativas são os Millennials e a Geração Z, chamados de “gerações ativas” e representando cerca de 80% dos alunos em academia. Os Millennials têm sido chamados de fanáticos pelo fitness, muito porque gostam de se exercitar.
Para nós, exercício não é apenas uma questão de saúde, mas de socialização e diversão.
No Brasil, quando anos atrás perguntamos a praticantes de musculação em academias, o que os motivava para a prática, os motivos mais citados foram: prevenção de doenças, condição física, diversão, controle do estresse, aparência, controle do peso, afiliação, competição, reabilitação da saúde e reconhecimento social.
Manter uma rotina de exercícios físicos regulares é saudável e recomendável em qualquer geração.Fonte: Getty Images
Os motivos prevenção de doenças, controle de peso corporal, controle do estresse, afiliação e reabilitação da saúde se correlacionaram à idade dos praticantes de exercícios físicos, sendo que estes se tornaram mais importantes com o avançar da idade.
Tais resultados parecem ser coerentes com a hipótese de que antigamente a atividade física (qualquer movimento do corpo) era mais necessária durante as atividades da vida, dentro do trabalho e em casa mediante atividades domésticas. Quando quase tudo se automatizou, nossos movimentos foram minimizados.
O exercício aparece como uma alternativa para a falta de movimento diária. As gerações mais novas já têm consciência da importância, além de mais oportunidades para se mover por meio de exercícios físicos. O fato é que podemos ter diferentes razões para nos exercitar, mas todos nós temos a mesma necessidade de nos movimentar, independente da geração.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.