O presidente russo, Vladimir Putin, e o ditador norte-coreano Kim Jong-un começaram nesta quarta-feira (19), na Coreia da Norte, uma cúpula bilateral na qual buscam impulsionar os vínculos de defesa entre os dois países dotados com armas nucleares, em meio à ofensiva militar de Moscou na Ucrânia.
A Rússia está lutando contra a política “hegemônica e imperialista” de décadas dos Estados Unidos e seus aliados, disse Putin, segundo a agência de notícias estatal russa RIA.
Segundo agências de notícias russas, Kim Jong-un afirmou que pretende aprimorar ainda mais a cooperação estratégica com Moscou.
“A situação no mundo está se tornando mais complicada e mudando rapidamente”, afirmou. “Nesta situação, pretendemos fortalecer ainda mais os contatos estratégicos com a Rússia, com a liderança russa.”
É a primeira viagem de Putin em 24 anos à capital do obscuro regime da Coreia do Norte. O presidente russo e o ditador norte-coreano realizaram uma reunião de cúpula após uma grande cerimônia de boas-vindas na praça Kim Il Sung, em Pyongyang, disseram os meios de comunicação russos, enquanto prometiam desenvolver os laços entre suas nações.
Como cartão de visitas, o presidente ordenou o início de um exercício militar de dez dias com 40 navios e 20 aeronaves de sua Frota do Pacífico em torno das águas da península coreana e do Japão, pontos que concentram quase 80 mil militares americanos.
Putin chegou à praça decorada com bandeiras da Rússia e da Coreia do Norte e grandes retratos dos dois líderes, segundo imagens da imprensa estatal.
Uma guarda de honra, incluindo soldados montados, e uma grande multidão de civis se reuniram na praça às margens do rio Taedong, que atravessa a capital. A cena incluiu crianças segurando balões e retratos gigantes dos dois líderes com bandeiras nacionais adornando o Grande Salão de Estudos do Povo.
Kim saudou Putin antes de iniciar as conversas na Casa Estatal de Hóspedes Kumsusan, onde era esperado que assinassem um “acordo estratégico”, acrescentaram as agências.
Antes de iniciar a viagem, Putin expressou satisfação pelo “firme apoio” da Coreia do Norte à sua operação militar na Ucrânia.
Moscou e Pyongyang são aliados desde o final da Guerra da Coreia (1950-1953) e têm fortalecido suas relações desde o início da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022.
“A Rússia apoiou [a Coreia do Norte] e seu heroico povo na sua luta para defender seu direito de escolher por si mesmos o caminho da independência, originalidade e desenvolvimento no enfrentamento com o astuto, perigoso e agressivo inimigo (…) e a apoiará constantemente no futuro”, escreveu Putin em uma coluna publicada no jornal oficial norte-coreano Rodong Sinmun e na agência oficial de notícias KCNA.
Ele afirmou também que Pyongyang “apoia firmemente” a ofensiva russa na Ucrânia e agradeceu por isso.
Países ocidentais há meses acusam os norte-coreanos de fornecer munições à Rússia para a guerra na Ucrânia em troca de assistência tecnológica, diplomática e alimentar.
O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, afirmou que a visita de Putin mostra o quanto a Rússia precisa do apoio de líderes autoritários para levar a cabo sua ofensiva na Ucrânia.
“O que nos preocupa é o aprofundamento da relação entre esses dois países”, declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby.
O assessor diplomático de Putin, Yuri Ushakov, apresentou a viagem como um evento importante para ambos os países, atingidos por sanções ocidentais, e mencionou a “possível” assinatura de “um acordo de cooperação estratégica global”.
O líder russo viajou com seu chanceler Serguéi Lavrov e com o ministro da Defesa, Andrei Belousov.
Putin, que é objeto de uma ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional, reduziu suas viagens ao exterior, mas realizou algumas para visitar aliados chave, como a China.
O ministro ucraniano dos Assuntos Exteriores, Dmytro Kuleba, exortou a comunidade internacional a contrariar a “amizade” entre Putin e o líder norte-coreano Kim Jong Un, aumentando os envios de armas para Kiev.
“A melhor maneira de responder é continuar fortalecendo a coalizão diplomática por uma paz justa e duradoura na Ucrânia e entregar mais munição para a Ucrânia”, disse Kuleba à AFP.