Na primeira noite após os Estados Unidos e aliados ocidentais da Otan liberaram o uso de suas armas pela Ucrânia contra território russo, as forças de Vladimir Putin promoveram um grande ataque aéreo contra alvos em quase todo o país invadido em 2022.
O recado russo foi duro na noite de sexta (31) e madrugada de sábado (1º). Segundo os relatos iniciais, foi o maior desde um mega-ataque ocorrido em 22 de março, que havia sido o segundo mais intenso do conflito, mas ainda não há um balanço numérico de armamentos utilizados.
Além do grande número de armamentos, chamou atenção o escopo do ataque. Foram alvejadas regiões no norte, centro, sul e oeste ucranianos, incluindo perto das fronteiras polonesas e húngara. Houve explosões relatadas em pelo menos nove cidades, e alarmes soaram em todo o país.
O foco foi, novamente, o sistema de energia do país. Cinco regiões foram afetadas com blecautes, e houve danos mais severos em Vinnitsia (centro). Canais locais falavam em sete mortos, mas não houve confirmação oficial ainda.
Também houve diferentes modelos de armas empregados. Foram lançados drones de origem iraniana Shahed-136 nas ondas iniciais, para atrair defesa aérea. Depois vieram mísseis de cruzeiro supersônicos Kh-101 e ao menos seis bombardeiros estratégicos Tu-95, que decolaram de Olenia e Engels, na Rússia.
Houve ao menos duas ondas dessas, levando à loucura quem acompanhou os sistemas de alerta em canais de Telegram ucranianos.
Também foram relatados disparos de mísseis de cruzeiro subsônicos Kalibr de navios, algo que não ocorria havia tempo devido à destruição de embarcações da Frota do Mar Negro russa. Eles foram presumivelmente lançados do mais distante mar Cáspio.
Por fim, caças MiG-31K levantaram voo, mas não se sabe até aqui se os modelos hipersônicos Kinjal que costumam levar foram empregados no ataque.
Nesta sexta, Estados Unidos e Alemanha confirmaram ter concedido permissão ao governo de Volodimir Zelenski para que os ucranianos usem armas ocidentais contra alvos militares dentro da Rússia pela primeira vez.
Também na sexta, autoridades russas acusaram a Ucrânia de promover bombardeios em Donetsk, controlada pela Rússia, no leste da Ucrânia. Informações emitidas pelo líder da República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, afirmam que cinco pessoas morreram, enquanto outras ficaram feridas.
Tanto o escritório do premiê Olaf Scholz, quanto o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disseram que as ações terão de se limitar ao sul russo, perto da fronteira da região ucraniana de Kharkiv. Desde 10 de maio, a área é objeto de uma nova frente aberta por Putin.
As forças russas fizeram lá os maiores avanços desde os primeiros dias da guerra. As linhas parecem estabilizadas, mas ao custo de muitas reservas ucranianas de outros pontos da frente de batalha de 1.000 km. Com isso, houve ganhos de Moscou no leste e no sul também.
A dramaticidade da situação fez acordar o Ocidente, após quase seis meses de letargia devido à protelação americana em aprovar novas ajudas a Kiev, um subproduto da briga no Congresso entre republicanos de Donald Trump e os democratas de Joe Biden, o presidente que enfrentará o antecessor em novembro.
Nas últimas semanas, a França sugeriu o envio de tropas para a Ucrânia e diversos países começaram a liberar o emprego de suas armas contra a Rússia em si, não só as áreas ocupadas. A região de Belgorodo virou um teatro da guerra, com ataques diários até aqui com armas ucranianas.
Putin reagiu com exercícios nucleares, renovando esse tipo de ameaça aos rivais, e falou sobre uma guerra global à espreita. Prometeu atacar alvos britânicos se mísseis de Londres disparados pelos ucranianos atingirem bases na Rússia.
Na quinta (30), uma reunião dos chanceleres da Otan em Praga discutiu o assunto. A Dinamarca anunciou, no mesmo dia, que permitira o emprego dos 19 caças F-16 que irá fornecer futuramente a Kiev contra alvos na Rússia.
Na sequência vieram os relatos anônimos da autorização americana, a mais importante sem dúvida, dado o peso dos EUA no apoio bélico a Kiev, e a confirmação nesta sexta. Os limite apresentados por Washington e Berlim são um teste de temperatura de água: visam medir a reação russa, como já ocorreu com outras linhas vermelhas no passado.
É preciso, claro, ver de fato o que irá acontecer na prática, como o próprio Zelenski disse. Por ora, o padrão do Kremlin de um grande ataque após uma má notícia política se manteve, mas é incerto o que ocorrerá quando houver algum dano significativo dentro da Rússia causado por armas ocidentais.