Muitos sabiam e fingiam não ver. Exigiram das vítimas acordos de confidencialidade, depois de levar pelas mãos menores de idade até os criminosos.
Bill Cosby, Harvey Weinstein, Jeffrey Epstein, R. Kelly e agora, Sean “Diddy” Combs, um dos mais ricos e poderosos empresários que emergiram do hip-hop.
Basta consultar o documento federal online, que começa com “Durante décadas, Sean Combs, o réu” e procede, enumerando a longa carreira de violência, extorsão e abuso sexual.
Na entrevista coletiva em que anunciou, na terça-feira (17), a primeira rodada de acusações contra Combs, o promotor federal Damian Williams admitiu não ter resposta para uma pergunta óbvia: por que demoraram tanto a investigar?
Em novembro passado, uma ação civil movida pela ex-namorada do rapper, Cassandra Ventura, fornecia detalhes grotescos sobre espancamento, estupro e ameaças armadas. Em menos de 24 horas, Combs acertou uma indenização estimada em soma de 8 dígitos com Ventura, iludido pelo poder de estancar a enxurrada de denúncias e processos que viriam, inclusive de homens que trabalhavam para sua gravadora.
Mas, como revelou a revista Rolling Stone, numa reportagem apurada com dezenas de depoimentos, ao longo de seis meses, desde a faculdade, o futuro rapper não hesitava em intimidar com violência física. Sua certeza de impunidade chegou ao ponto de anunciar que ia explodir o carro de um rival amoroso —e cumpriu a promessa, usando um coquetel molotov.
Com exceção da única mulher punida, a cafetina do finado Jeffrey Epstein, a socialite britânica Ghislaine Maxwell, cumprindo pena de prisão, nenhuma figura proeminente, homem ou mulher, pagou com a liberdade por facilitar ou ocultar as centenas de crimes cometidos pelo quinteto citado acima. Falta um notório acusado de múltiplos estupros desde os anos 1990, o outrora poderoso empresário musical Russell Simmons, que fugiu para Bali, onde abriu um hotel spa.
Já em 2002, o repórter Ken Auletta sabia das denúncias que rondavam Harvey Weinstein. Mas fracassou em conseguir depoimentos confirmando o que ouvia para escrever um perfil do empresário de cinema, que só foi denunciado em 2017, graças a testemunhos de vítimas.
Há muito se argumenta que agressores sexuais não são motivados por desejo sexual, mas pelo impulso de exercer poder e inspirar medo. O que vai tornar mais curioso, a partir de agora, visitar o elenco de personagens com dinheiro e poder que facilitaram ou se calaram sobre os crimes de Sean Combs.
Um caso que atrai pouca atenção pode jogar luz sobre os beneficiados pela rotina de impunidade. Um juiz decidiu recentemente que a atriz Julia Ormond pode seguir adiante com um processo, não só contra Harvey Weinstein, mas também contra os estúdios Disney e contra dois dos mais poderosos agentes de Hollywood, da empresa CAA, que a representavam nos anos 1990.
Naquela década, Julia era uma estrela contracenando com Brad Pitt, Harrison Ford e Sean Connery. Até revelar que foi abusada sexualmente por Weinstein num quarto de hotel. Seus agentes a aconselharam a se calar, mesmo sabendo de várias outras acusações anteriores, e desistiram de representá-la.
O promotor que deve tentar manter Sean Combs na cadeia falou em conspiração para se referir aos crimes do rapper. A longa produção escabrosa de Sean “Diddy” Combs tem coautores.
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