O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, está na corda bamba nesta segunda-feira (28) depois que sua coalizão governante perdeu a maioria legislativa em eleições antecipadas.
“Estamos recebendo um julgamento severo”, admitiu Ishiba, de 67 anos, que assumiu como líder do Partido Liberal Democrático (PLD) em 1º de outubro e imediatamente convocou as eleições.
O povo japonês “expressou seu forte desejo de que o PLD reflita e se torne um partido que aja de acordo com o desejo do povo”, acrescentou no domingo (27) após o fechamento das urnas.
A televisão nacional NHK e outros meios de comunicação informaram que o PLD, no poder de forma quase ininterrupta desde 1955, perdeu sua maioria legislativa pela primeira vez desde 2009.
Pior ainda, as projeções sugerem que a coalizão do PLD e seu parceiro menor Komeito não alcançaram a meta de Ishiba de 233 assentos no Parlamento, de um total de 456 cadeiras.
O PLD teria obtido 191 assentos e o Komeito 24, segundo a contagem da NHK na segunda-feira.
A moeda japonesa, o iene, atingiu na segunda sua cotação mais baixa em três meses como consequência do resultado eleitoral.
No meio da manhã (em horário local), a moeda japonesa estava cotada a 153,88 ienes por dólar, o nível mais baixo desde julho.
Antes da votação, a mídia especulou que, em caso de um resultado assim, Ishiba poderia renunciar para assumir a responsabilidade pela derrota, tornando-se assim o primeiro-ministro mais efêmero do pós-guerra.
O atual recorde é detido por Naruhiko Higashikuni, que esteve 54 dias no cargo em 1945, logo após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial.
Caso permaneça, Ishiba deverá liderar um governo minoritário ou buscar novos parceiros de coalizão.
“Se não conseguirmos manter uma maioria como resultado do severo julgamento do público, pediremos ao maior número possível de pessoas que colaborem conosco”, declarou aos jornalistas Shinjiro Koizumi, chefe eleitoral do PLD.
Os eleitores da quarta economia mundial estão ressentidos com a inflação e um escândalo de financiamento que contribuíram para afundar o ex-primeiro-ministro Fumio Kishida.
“Tomei minha decisão principalmente por sua política econômica e suas medidas anti-inflacionárias”, explicou Yoshigiro Uchida, 48, entrevistado pela AFP na saída de um colégio eleitoral em Tóquio.
Os números indicam o pior resultado do PLD desde que perdeu o poder em 2009, recuperado em 2012 com a vitória do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, morto em 2022, vítima de um atentado a tiros.
Durante a campanha, Ishiba prometeu construir “um novo Japão”, revitalizar as regiões rurais deprimidas e resolver a “emergência silenciosa” do declínio populacional do país através de medidas voltadas para as famílias, como promover o trabalho flexível.
No entanto, ele recuou em seu compromisso de permitir que casais casados tenham dois sobrenomes diferentes e nomeou apenas duas mulheres em seu gabinete.
Ishiba prometeu não apoiar ativamente os candidatos envolvidos em escândalos, mas o jornal Asahi indicou que o PLD pagou 20 milhões de ienes (131.000 dólares) às delegações locais dirigidas por esses responsáveis, provocando a indignação da oposição.
O Partido Democrático Constitucional (PDC), principal força de oposição no Parlamento, aumentou significativamente seu número de assentos no Parlamento, segundo informou a emissora NHK, ao conquistar 143 assentos.
Seu líder, o popular ex-primeiro-ministro Yoshihiko Noda, criticou no sábado “as políticas do PLD [que] consistem em implementar rapidamente medidas para aqueles que lhes dão muito dinheiro”.
“Mas aqueles em posições vulneráveis, que não podem doar dinheiro, foram ignorados”, acrescentou o opositor.
Apesar dessas críticas, o cientista político Masato Kamikubo, da Universidade Ritsumeikan, aponta que a posição de Noda “é bastante semelhante à do PLD”. “Ele é basicamente um conservador”, diz.
Por isso, “o PDC ou Noda podem ser uma alternativa ao PLD. Muitos eleitores pensam assim”, acrescenta.
No entanto, a chegada desta formação ao governo é igualmente “difícil porque a oposição está muito dividida”, aponta este especialista.
Os analistas preveem que, dependendo de sua magnitude, esse revés eleitoral para o PLD poderia provocar pânico nos mercados financeiros, pouco acostumados a esse tipo de situação.