Luzes, peregrinos, decorações e a tradicional árvore de Natal na Praça da Manjedoura, em Belém, cidade na atual Cisjordânia onde Jesus nasceu, segundo a Bíblia, foram substituídos no Natal de 2023 por um presépio adaptado: o menino Jesus está deitado em meio a escombros na gruta. Maria, São José e os pastores tentam resgatá-lo.
A instalação foi colocada na Igreja Evangélica Luterana de Belém como uma referência à guerra Israel-Hamas na Faixa de Gaza que, em breve, completará três meses. A cidade que depende do turismo religioso marcou a celebração deste Natal com luto e sofrimento.
Segundo a rede qatari de notícias Al Jazeera, uma ação de militares de Israel na Cisjordânia ocupada na noite de Natal foi realizada também em Belém. Repórteres da rede relatam que forças de Tel Aviv entraram em diversas casas da cidade e de outros locais, como Jenin, Nablus e Ramallah, em busca de cidadãos palestinos.
A população local denuncia o que chama de “uma campanha de assédio”. As incursões na Cisjordânia, assim como as prisões em massa de cidadãos palestinos, cresceram desde 7 de outubro, quando teve início a guerra após o Hamas invadir o sul de Israel.
Enquanto isso, em Gaza, autoridades dizem que a noite de Natal foi uma das mais mortais nesta guerra. Um ataque aéreo na região central de Maghazi teria deixado ao menos 70 pessoas mortas. Outro no sul, em Khan Yunis, teria deixado 23 vítimas. No total, afirmam os órgãos controlados pelo Hamas, morreram 250 pessoas em apenas um dia.
As ruas de Belém estavam praticamente desertas, mas um local, a Igreja de Santa Catarina, na Basílica da Natividade, reuniu ao menos 1.500 fiéis, segundo a imprensa do Vaticano, para a tradicional liturgia do Patriarca Latino de Jerusalém, o italiano Pierbattista Pizzaballa.
Na missa, o patriarca disse que neste ano “todos estiveram tomados pela triste e dolorosa sensação de que não há espaço para a alegria e a paz”, referindo-se ao conflito armado que já deixou mais de 20,6 mil mortos e 54 mil feridos em Gaza, segundo autoridades de saúde ligadas ao Hamas.
“As palavras ‘não havia lugar para eles’ descrevem uma situação que agora é conhecida por todos. Embora vivam na sua própria terra, ouvem continuamente que ‘não há lugar para eles’. Durante décadas, esperaram que a comunidade internacional encontrasse soluções para acabar com a ocupação sob a qual são forçados a viver e as duas consequências”, discursou o italiano, falando sobre os palestinos.
Junto ao patriarca, que também é responsável pelas comunidades católicas de Israel, de todo o território palestino ocupado, da Jordânia e de Chipre, estava o cardeal polonês Konrad Krajewski, prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade que foi enviado pelo papa Francisco para demonstrar solidariedade em meio à guerra.
Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que costuma comparecer à missa anualmente, não esteve presente neste ano.