O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar neste sábado (15) a conduta do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, na guerra contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza.
“O primeiro-ministro de Israel, ele não quer resolver o problema. Ele quer aniquilar os palestinos em cada gesto, cada ato”, afirmou Lula a jornalistas na Puglia, no sul da Itália, onde participou da reunião de cúpula do G7.
“Vamos ver se ele vai cumprir a decisão do tribunal internacional. Vamos ver se ele vai cumprir a decisão tirada da ONU agora.”
Lula fazia menção a uma resolução pedindo o cessar-fogo no conflito aprovada pelo Conselho de Segurança na ONU na segunda-feira (10). A medida não tem efeito prático —esta foi a segunda vez que uma moção com esse teor passou no órgão. Mas aumenta a pressão para que Tel Aviv e Hamas cheguem a um acordo.
As falas, dadas no último compromisso do presidente na Europa antes de voltar ao Brasil, têm potencial para reabrir a contenda diplomática entre Brasil e Israel iniciada em fevereiro, depois de Lula comparar as ações de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto nazista durante um giro pelo Oriente Médio para participar da cúpula da União Africana.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse ele na ocasião, em uma entrevista em Adis Abeba, na Etiópia.
Neste sábado, o presidente brasileiro disse ainda que mantinha “150%” da posição sobre o conflito que manifestou na época. Não ficou claro, no entanto, se Lula se referia particularmente à fala em que fez a correlação entre Gaza e o Holocausto nazista ou outros discursos e entrevistas críticos a Israel menos polêmicos feitos durante a mesma viagem.
A comparação levou a chancelaria israelense declarar o petista persona non grata no país, e fazer reprimendas ao embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto —ato que representa uma mudança de protocolo, já que esse tipo de mensagem costuma ser passado nas sedes das chancelarias.
“Não esqueceremos nem perdoaremos”, disse o chanceler Israel Katz ao embaixador brasileiro na época. O governo brasileiro convocou Meyer de volta ao Brasil em resposta.
Lula já havia feito críticas a Netanyahu antes do episódio que abriu a crise. Em outubro, durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, ele afirmou por exemplo que o premiê israelense quer “acabar com a Faixa de Gaza” e que se esquece que o território palestino não abriga apenas soldados do Hamas, mas também mulheres e crianças.
Já em dezembro, ao ser entrevistado pela rede qatari Al-Jazeera durante viagem a três países do Golfo, Arábia Saudita, Qatar e Dubai, ele criticou a condução da guerra e afirmou que o conflito deflagrado em Gaza “não é uma guerra tradicional, mas um genocídio que mata milhares de crianças e mulheres que não têm culpa alguma”.
Questionado sobre a postura de Netanyahu, Lula disse que, “como governante, ele é uma pessoa muito extremista, de extrema direita e com sensibilidade baixa em relação aos problemas do povo palestino”. “Ele pensa que os palestinos são pessoas de terceira ou quarta classe.”
Neste sábado, autoridades de saúde de Gaza, ligadas ao Hamas, atualizaram a cifra de palestinos mortos no conflito para 37.296. Não se sabe quantos destes são civis e quantos são terroristas.
Na mesma data, o Exército israelense afirmou que oito de seus soldados morreram em uma explosão em Rafah, na fronteira com o Egito. Em maio, o órgão divulgou que cerca de 700 militares e membros das forças de segurança morreram desde o início dos enfrentamentos, além de aproximadamente 800 civis, a grande maioria durante o mega-ataque do Hamas de 7 de outubro.
O conflito na Ucrânia foi o principal tema dessa edição da reunião de cúpula do G7, com o anúncio, após meses de negociações, de um empréstimo de US$ 50 bilhões para Kiev. O novo aporte será viabilizado com o uso de dinheiro russo congelado em instituições principalmente localizadas na Europa.
A primeira-ministra italiana e anfitriã do evento, Giorgia Meloni, exaltou a reunião dos líderes das sete maiores economias do mundo e negou controvérsias sobre a ausência de menções ao aborto na declaração conjunta, divulgada nesta sexta (14) —o termo teria sido retirado a pedido dela, segundo a imprensa local.
A guerra Israel-Hamas não deixou, no entanto, de aparecer nas discussões grupo que reúne as principais economias do mundo, e uma menção ao conflito também consta no documento final da cúpula. Nele, os países-membros do grupo dizem estar unidos no apoio à proposta de acordo apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no mês passado.
Organizado em três fases, o plano prevê o cessar-fogo imediato, a libertação de todos os reféns e uma espiral de paz que leve à solução de dois Estados. Segundo o americano, quem hoje impede a efetivação da proposta é o Hamas.
A declaração não deixa, no entanto, de cobrar Israel por mais responsabilidade em sua resposta ao grupo terrorista palestino. “Estamos profundamente preocupados com as consequências para os civis das operações terrestres em Rafah“, diz o texto, citando a cidade palestina no extremo sul de Gaza, na fronteira com o Egito, em que ficaram concentradas centenas de milhares de deslocados internos pelo conflito. “Apelamos ao governo de Israel para que se abstenha de tal ofensiva”, dizem os líderes.