José Dias Fernandes, deputado eleito por portugueses que vivem na Europa pelo Chega, partido de ultradireita contrário à migração em Portugal, foi durante anos um imigrante em situação ilegal na França.
Ele vive ainda hoje lá, mas já chegou a ser expulso duas vezes até conseguir obter a residência legal. Aos olhos do Chega, que se tornou a terceira força do Parlamento após a eleição que levou a direita tradicional ao poder, os imigrantes ilegais deveriam ser expulsos e impedidos de regressar e legalizar a sua situação nos cinco anos seguintes.
Fernandes, no entanto, voltou a França, mesmo depois de ter sido expulso. Em uma entrevista a um jornal franco-lusófono, ele conta que foi durante a presidência do socialista François Mitterrand (1981-1995) que Fernandes conseguiu a sua autorização de residência. Ele se diz solidário a todos aqueles que, como ele, procuraram melhores condições de vida noutro país ―mesmo que de forma ilegal.
Natural de Viana do Castelo (330 km ao norte de Lisboa), Fernandes emigrou há 50 anos e trabalha na França como empresário. Saiu de Portugal na década de 1970, mas durante anos viveu e trabalhou como imigrante ilegal naquele país. “Fui expulso duas vezes [da França]. É verdade”, começa por reconhecer numa entrevista ao LusoJornal. “Tentei Andorra e voltei para França e fui expulso novamente. Voltei em 1978, outra vez. Quando passou a François Mitterrand, tive ocasião de fazer os papéis”, diz.
Ao longo da entrevista, Fernandes conta ainda que auxiliou “centenas” de imigrantes ilegais portugueses na França, ajudando a criar “dezenas de empresas”. “Só se faziam papéis na França [atribuição de residência legal] a quem fosse empresário. Como eu decidia quem ia trabalhar como subempreiteiro, ajudei muito português a criar a sua empresa e a dar trabalho. Sei as dificuldades do imigrante comum”, afirma na entrevista.
No seu programa, o Chega propõe criminalizar todos os imigrantes que tenham residência ilegal em solo português e impedir a permanência de imigrantes ilegais em território nacional, “assegurando que quem for encontrado nessas circunstâncias fica impedido de regressar a Portugal e de legalizar a sua situação nos cinco anos seguintes”. Caso medida semelhante estivesse em vigor na França, Fernandes não teria conseguido voltar a França uma terceira vez.
Nesta quarta-feira, numa publicação na sua página de Facebook em que não faz qualquer referência ao presidente do Chega, André Ventura, Fernandes optou por dedicar os seus agradecimentos ao militante do partido Carlos Medeiros “pela excelente campanha na Suíça”, que representou metade dos votos no Chega de portugueses na Europa.