Porta-voz da Unifil no Líbano não descarta reação a Israel – 19/10/2024 – Mundo – EERBONUS
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Porta-voz da Unifil no Líbano não descarta reação a Israel – 19/10/2024 – Mundo

As tropas da ONU não vão ceder às pressões do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para deixar o sul libanês. É o aviso de Andrea Tenenti, porta-voz da Unifil, missão de paz da entidade que atua na fronteira do Líbano com Israel.

Tenenti afirma que Tel Aviv, com seus ataques contra as bases da ONU, põe em risco a vida dos soldados da missão de paz e viola a legislação humanitária internacional. Diz ainda que não descarta reação das tropas da ONU contra as forças israelenses.

“Autodefesa é parte de qualquer resolução e missão de paz, pode-se usá-la quando há ameaças sérias às tropas. Mas, pensando de forma pragmática, se o uso da autodefesa for aumentar a violência, isso vai ser útil?”, diz à Folha.

Netanyahu afirma que a resolução 1.701, adotada pelo Conselho de Segurança da ONU em 2006 para garantir uma zona desmilitarizada próxima da fronteira, fracassou porque o Hezbollah continua usando a região para armazenar armas e promover ataques.

A Unifil foi alvo de vários ataques das forças israelenses no sul do Líbano, e soldados da missão de paz ficaram feridos. Como o sr. vê esse cenário?

É uma evolução muito perigosa da situação. Temos sido muito veementes ao apontar que se tratou de um ataque deliberado contra uma missão de paz, uma violação da resolução 1.701 da ONU e da lei humanitária internacional. Um incidente muito sério, especialmente considerando que tinham dito para nós sairmos de nossas posições. Isso faz com que analisemos a situação de forma diferente.

A missão tem direito de se defender? Vai reagir aos ataques de Israel?

Autodefesa é parte de qualquer resolução e missão de paz, pode-se usá-la quando há ameaças sérias às tropas. Mas, pensando de forma pragmática, se o uso da autodefesa for aumentar a violência, isso vai ser útil? A pessoa que está no terreno, comandando os soldados da missão de paz, é que vai tomar essa decisão. A ideia principal é que somos uma missão de paz, queremos desescalar as situações, não aumentar as tensões. Não queremos ser parte do conflito. Portanto, há a possibilidade de se defender, mas depende da situação.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que as tropas deveriam deixar a área onde estão. A Unifil pretende sair?

O Conselho de Segurança da ONU, o secretário-geral [António Guterres] e todos os 50 países que contribuem para a Unifil decidiram que precisamos ficar. Estamos no Líbano a pedido do governo libanês e do Conselho de Segurança. Não é possível ter um país decidindo o destino de uma missão de paz em outro país. Precisamos ficar para monitorar a situação. Ainda que nossa capacidade de patrulhamento seja limitada, ocupamos 50 posições ao longo da fronteira. É importante ter um árbitro na área e alguém para coordenar com outras agências a entrega de ajuda humanitária para todos os vilarejos, que estão em situação muito precária. Ainda há muitas pessoas nesses locais.

Segundo Netanyahu, a missão da ONU está servindo de “escudo humano” para o Hezbollah.

Na realidade, o que vimos nas últimas semanas foi o Exército israelense entrando em uma de nossas bases e colocando nossas tropas em perigo. Para completar, há o Hezbollah atirando do outro lado. Todos estão colocando os soldados da missão de paz em perigo. Não diria que estão sendo usados como escudos humanos, mas a vida dos soldados da missão de paz está em risco, e os dois lados são responsáveis por isso.

O que acontece se a missão da Unifil sair do Líbano?

Imagine se, de repente, 50 mil soldados da missão de paz deixam de estar lá. Não tem ninguém monitorando, nenhuma presença da comunidade internacional, ninguém reportando as violações dos dois lados. Sem mencionar as pessoas que continuam lá nos vilarejos e precisam de assistência.

De acordo com a resolução 1.701, não deveria haver integrantes do Hezbollah nem armas do grupo na região desmilitarizada, mas isso está acontecendo há muitos anos. Os ataques contra Israel desde o 7 de Outubro aumentaram. Autoridades israelenses afirmam ser necessário aumentar os poderes da Unifil, para que vocês possam combater o Hezbollah, já que as forças libanesas não o fazem. O que o sr. acha?Qualquer mudança em nossas atribuições precisa ser aprovada pelo Conselho de Segurança. Se ele decidir aumentar os poderes da missão, é preciso encontrar países que queiram mandar soldados para isso.

O fato de os soldados das missões de paz estarem sendo atacados não ajuda…

Sim, já afirmamos várias vezes, não há solução por meio de ações militares ou violência, é preciso ter soluções políticas e diplomáticas. Com ações militares, talvez haja estabilidade em curto prazo, mas as causas do conflito continuarão existindo. Antes do conflito do ano passado, tivemos 17 anos sem conflagração, o período mais longo de estabilidade no sul do Líbano. Não estava tudo perfeito, não estou dizendo que não havia armas lá. Quando aconteceu [o ataque de] outubro do ano passado, voltamos para a estaca zero. Mas estávamos tentando, reuníamo-nos para discutir a implementação da resolução 1.701, dois países em guerra reunidos na mesma sala. Havia várias questões pendentes: não há tropas libanesas suficientes no sudeste, não podemos fazer buscas em propriedades privadas, não podemos desarmar o Hezbollah.

Agora que o líder do grupo terrorista Hamas, Yahya Sinwar, foi morto em Gaza, e o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, foi morto no Líbano, Netanyahu diminuirá a intensidade da guerra?

Esta é uma ótima pergunta para ser feita a ele. Esperamos que haja vontade política para encontrar uma solução, porque a realidade é que está se desencadeando um conflito regional. E haveria consequências catastróficas não apenas para a região, mas para o mundo.


Raio-X | Andrea Tenenti

Italiano, é porta-voz da Unifil, a missão da ONU no Líbano. Teve diversos cargos no organismo multilateral ao longo dos últimos 30 anos.

FONTE

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