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China e Austrália concordaram em fortalecer seus laços comerciais após a ida do premiê Anthony Albanese a Pequim. Depois de vários anos marcados por tensões, os dois países emitiram uma declaração conjunta comprometendo-se a resolver suas diferenças e a aprimorar a cooperação em áreas de interesse mútuo, como mudanças climáticas, saúde e segurança regional.
Foi a primeira visita de um premiê da Austrália à China em sete anos.
Eleito no ano passado, Albanese se distanciou da retórica confrontativa do seu antecessor, Scott Morrison, que irritou Pequim ao denunciar supostas interferências chinesas na política australiana. Ele chegou a pedir investigações independentes sobre as origens da Covid e se aproximou militarmente dos EUA e do Reino Unido.
- A China respondeu às ações de Morrison impondo tarifas e barreiras comerciais aos exportadores australianos de produtos como vinho, carne bovina, cevada, lagosta e carvão;
- Especialistas estimaram que, no auge, as restrições causaram prejuízos na casa dos US$ 13 bilhões (cerca de US$63 bi) anualmente.
O tom do encontro entre Albanese e Xi Jinping dessa vez foi bem mais ameno. O líder chinês disse ao australiano que os dois países não tinham “rancores ou disputas históricas e nenhum conflito fundamental de interesses” e fez votos de um novo capítulo nas relações pautado em “confiança e sucesso mútuo”. Ele chegou a brincar com Albanese, chamando os demônios da Tasmânia, animal endêmico da Austrália, de “fofos”.
A China também expressou interesse em aderir ao Parceria Transpacífico, um acordo de livre comércio que engloba a Austrália e outros países do Pacífico. Ele foi inicialmente promovido pelo governo Barack Obama para isolar Pequim. Donald Trump, porém, deixou a aliança tão logo chegou à Casa Branca em 2017.
Por que importa: no sistema chinês, decisões da liderança são rapidamente adotados por todo o aparato estatal. Dessa forma, a sinalização de Xi em prol da normalização das relações sino-australianas representa um passo significativo para atenuar tensões entre os dois países.
A aproximação evoluiu após a eleição de Albanese. Desde então, houve encontro dos ministros das Relações Rxteriores dos dois países, a China libertou uma jornalista sino-australiana presa desde 2020 sob acusações de espionagem e a Austrália concordou em retirar queixas contra Pequim à Organização Mundial do Comércio.
O que também importa
★ Autoridades da província de Guangdong, no sul da China, reprimiram clubes de simulação da ONU nas escolas locais. Esses grupos simulam debates diplomáticos e são populares entre os estudantes que pensam em estudar no exterior. Segundo a Radio Free Asia, autoridades da cidade de Foshan acusaram um clube de disseminar ideias “separatistas” e “subversivas”, após organizadores proporem discussões sobre “autonomia e constituições provinciais”. Ao menos um membro foi preso.
★ Um ex-coronel da Força Aérea de Taiwan foi condenado a 20 anos de prisão por administrar uma rede de espionagem militar para a China. A Justiça taiwanesa entendeu que Liu Sheng-shu recrutou oficiais da ativa para transmitir segredos militares a Pequim. Segundo a investigação, Li foi recrutado pela inteligência chinesa durante uma viagem de negócios em 2013 e recebeu milhares de dólares pelo serviço, que foram pagos a empresas de fachada. A Justiça condenou outros cinco oficiais a penas de 6 meses a 20 anos por envolvimento no caso.
★ Um comitê disciplinar do Partido Comunista anunciou uma investigação contra Zhang Hongli, ex-vice-diretor do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC). Segundo o órgão, Zhang é suspeito de cometer “sérias violações disciplinares e legais”, uma expressão oficial para suposta corrupção. Antes de trabalhar no ICBC, o executivo esteve no Deutsche Bank, onde foi acusado de ter transferido cerca de US$ 3,9 milhões (R$ 19 milhões) para uma empresa offshore.
Fique de olho
Delegações dos EUA e da China realizaram na segunda-feira (6) a primeira negociação para o controle de armas nucleares desde o governo de Barack Obama.
O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, disse que o diálogo entre os dois lados sobre a questão se somam a “esforços para gerir o relacionamento [sino-americano] de forma responsável e garantir que a concorrência entre os dois países não se transforme em conflito.”
Outros detalhes sobre a pauta do encontro não foram divulgados.
Por que importa: embora um avanço real em direção a um acordo de não proliferação nuclear sino-americano não seja esperado, só a participação chinesa em tratativas do tema já é uma surpresa. Pequim se recusa há anos a conversar com Washington sobre o assunto, usualmente destacando que o armamento dos Estados Unidos é dezenas de vezes maior que o chinês.
O encontro pode ser visto como um sinal de boa-vontade da China às vésperas da potencial visita de Xi Jinping à conferência da Assembléia de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em San Francisco, na semana que vem.
Para ir a fundo
- A UFRJ realiza no dia 21 de novembro um minicurso virtual sobre a estratégia energética dos países do Brics. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui. (gratuito, em português).
- A editora Zouk colocou em pré-venda o livro “Diplomacia cultural chinesa” de Paulo Menechelli. A obra é uma adaptação da pesquisa de doutorado do pesquisador, considerado uma das principais referências brasileiras sobre as estratégias chinesas de soft power no cinema. (pago, em português).