A mais que provável vitória de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos —ainda mais certa depois do atentado da Pensilvânia— levanta uma questão: por que a democracia parece incapaz de produzir líderes jovens viáveis?
Trump, com seus 78 anos, é até considerado novo em comparação a Joe Biden, 81. É verdade, qualquer um dos dois dariam um ótimo Papai Noel, mas essa é a realidade.
Nos EUA, a Presidência de Biden e a possível volta de Trump ilustram uma tendência de líderes envelhecidos. Mas não é só nas terras do tio Sam. Na China, Xi Jinping, 70, mantém um controle rígido do poder. No Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, 78, é novamente presidente e mais que provável recandidato. Na Índia, Narendra Modi, 73, e na Rússia, Vladimir Putin, 71, exemplificam esse apego ao poder.
Um dos fatores que explica essa tendência é a longevidade cada vez maior dos políticos, que continuam ativos até não poderem mais. Os interesses que se formam em torno deles são poderosos, criando um sistema que os mantém no poder e dificulta a ascensão de uma nova geração.
Esses líderes, muitas vezes, possuem redes de apoio e financiamento robustos, além de uma base eleitoral consolidada, o que torna difícil para novos candidatos competir em pé de igualdade.
Podemos comparar esse cenário ao das grandes bandas de rock, como U2 e Rolling Stones, que continuam atraindo multidões, às vezes até em hologramas. Essas bandas foram criadas numa era em que a comunicação era menos atomizada e mais centralizada, permitindo que alcançassem um status quase mítico. Hoje, a comunicação “peer-to-peer” e as redes sociais fragmentam a atenção do público, dificultando que novas estrelas alcancem a mesma dimensão.
Assim como as lendas do rock continuam dominando os palcos, os líderes políticos de longa data ocupam o centro do poder, ofuscando novas lideranças. A ditadura da hierarquia forte aliada à falta de renovação interna e à resistência ao novo, fazem dos partidos políticos verdadeiros lares de terceira idade para milionários à espera do céu.
Para a democracia produzir líderes jovens e viáveis na era conectividade global, é preciso promover internamente a participação ativa das futuras gerações, o que não é do interesse das pretéritas: mas também a literacia política do povo deve ser fortalecida para formar eleitores mais informados e engajados.
Além disso, impõe-se reduzir as barreiras à entrada de novos candidatos, como são a necessidade de financiamentos significativos e as complexidades burocráticas dos processos eleitorais. Somente com esta renovação a transformação chegará à liderança.
Imaginemos essa campanha eleitoral entre dois velhos bisavôs. O combate dos chefes virou competição de esgrima de bengalas e o prêmio de consolação já não será mais a liderança da oposição, mas a bancada geriátrica.
Continuando essa reflexão sobre o futuro da democracia, cabe dizer aos velhos que é hora da inovação e a diversidade tomarem o palco principal, ou ainda acabamos por ressuscitar mortos e obedecer a hologramas mandados por inteligência artificial.
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