A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo em centenas de simpatizantes do ex-presidente da Bolívia Evo Morales, nesta segunda-feira (15), em Sucre, a capital administrativa do país. A repressão ocorreu quando os manifestantes tentaram tomar um tribunal em protesto contra a decisão que inabilitou Evo de ser candidato novamente à Presidência.
Os militantes exigem a renúncia dos magistrados do Tribunal Constitucional, órgão máximo de Justiça do país. Eles lançaram pedras e entraram em confronto com a polícia, que respondeu com o gás lacrimogêneo, segundo imagens transmitidas pela imprensa local.
Até a publicação e última atualização desta reportagem, não há relato de feridos ou presos.
As autoridades instalaram cercas ao redor da sede do tribunal e mobilizaram a tropa de choque contra protestos.
Evo pediu a seus apoiadores que se mobilizassem após uma recente sentença da corte que o proíbe de concorrer nas presidenciais de 2025.
Segundo os magistrados, a reeleição ilimitada não é um direito humano —como estabelecia uma decisão anterior da própria corte, de 2017.
A nova sentença implica que Evo, que governou a Bolívia de 2006 a 2019, não pode se candidatar a um novo mandato, como tem pretendido em meio a embates internos de seu partido e com o atual presidente, Luis Arce.
“A restrição à possibilidade de reeleição indefinida é uma medida adequada para garantir que uma pessoa não se perpetue no poder”, afirma a sentença de 82 páginas publicada no site do tribunal no fim de dezembro.
“Isso é uma prova da cumplicidade de alguns juízes com o ‘plano negro’ que o governo executa por ordens do império e com a conspiração da direita boliviana”, escreveu Evo no X após a nova sentença.
Além de se opor ao veredito do Tribunal Constitucional, os apoiadores de Evo também se mobilizaram contra a decisão da Justiça de prorrogar os mandatos dos magistrados dessa e de outras cortes, diante da falta de um acordo para convocar eleições judiciais.
“Esses criminosos que seguem aí têm que ir embora para suas casas, se não forem por bem, o povo vai tirá-los”, disse o vereador Rodolfo Avilés, do MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Evo Morales, em meio ao protesto.
Evo havia anunciado sua nova candidatura à Presidência em setembro, em meio a uma crescente tensão com Arce, que já atuou como ministro da Economia do líder cocalero e era seu herdeiro político. Na ocasião, o ex-presidente disse ter sido obrigado a concorrer ao posto devido a ataques do atual governo que, nas suas palavras, atentariam “fisicamente” contra sua vida.
Logo em seguida, um congresso do partido de ambos os políticos, o MAS escancarou o racha entre eles. A sigla não só aproveitou o evento para expulsar o atual presidente de seus quadros, usando como justificativa o fato de que ele havia boicotado reunião, como modificou seus estatutos para que apenas militantes com dez anos de partido pudessem se candidatar à liderança do partido —Arce não cumpriria a exigência.
Coube, assim, à Justiça eleitoral boliviana a decisão sobre a chefia da legenda, com o Tribunal Superior Eleitoral decidindo no final de outubro que ela não poderia ser exercida por Evo.
Naquele momento, a corte entendeu, de forma unânime, que o congresso do MAS durou um dia a menos do que o previsto, além de vários líderes da plataforma, incluindo o próprio ex-presidente, não terem apresentado os certificados que comprovariam que integram o partido há mais de uma década.
Evo classificou a anulação de sua eleição ao comando do MAS de golpe e acusou o governo Arce de estar por trás da medida. “O Tribunal Superior Eleitoral viola suas próprias resoluções ao executar ordens políticas que recebe do governo para tentar nos banir”, escreveu na ocasião.
Em 2019, Evo se viu forçado a renunciar em meio a protestos que questionaram sua vitória nas eleições para um novo mandato e se exilou no México. Quem assumiu o poder interinamente foi Jeanine Áñez, que dois anos mais tarde foi presa e condenada a dez anos de prisão sob a acusação de organizar um golpe de Estado.