Ao menos 212 pessoas foram presas na Rússia por participarem de vigílias não autorizadas em homenagem ao líder opositor Alexei Navalni, morto em circunstâncias misteriosas na sexta (16) numa prisão no Ártico.
A conta é da ONG de monitoramento de direitos humanos OVD-Info, e abrange detenções ocorridas na sexta e neste sábado (17). Elas ocorreram em dez cidades, e o maior número de presos foi registrado em São Petersburgo: 109 pessoas.
Em Moscou, foram 39 os detidos. As duas maiores cidades russas concentram o maior contingente de classe média alta do país, franja da população em que Navalni tinha mais apoiadores. No geral, contudo, o líder opositor nunca teve densidade nacional em termos eleitorais.
Os manifestantes participavam de vigílias, que a polícia considerou equivalentes a manifestações sem permissão da prefeitura —logo, sob as regras russas, ilegais. A Procuradoria de Moscou havia feito um alerta contra concentrações. Na maior parte dos casos, os apoiadores de Navalni apenas depositaram flores junto a monumentos às vítimas do sistema de campos de prisioneiros soviético, o Gulag.
Na capital, o monumento fica em uma área particularmente sensível: em frente à sede do FSB, o sucessor da temida polícia secreta KGB, na praça Lubianka (centro). Havia bastante policiais na região e as flores deixadas na sexta foram recolhidas à noite.
Não há registro de confrontos. Os números são bastante modestos também: os atos contra a prisão de Navalni, em 2021, juntaram milhares de pessoas e uma escala proporcional de prisões. Em termos de manifestações como um todo, a maior ocorrida desde a repressão daquele ano foi em setembro de 2022, quando 1.300 foram detidos protestando contra a mobilização de 300 mil reservistas para a Guerra da Ucrânia.
Em São Petersburgo, um padre foi detido após anunciar que rezaria uma missa para Navalni, mas a Igreja Ortodoxa, alinhada ao Kremlin, veio a público dizer que o religioso não era seu integrante. O jornal independente Novaia Gazeta, que foi fechado e agora opera online a partir da Europa, anunciou a transmissão pelo YouTube de uma missa ortodoxa em memória do ativista rezada em Dusseldorf (Alemanha).
Seu editor-chefe, o prêmio Nobel da Paz Dmitri Muratov, disse na sexta que considerou o falecimento do opositor de Putin “um assassinato”.
A morte de Navalni, 47, segue misteriosa. Governos ocidentais e oposicionistas russos culpam Vladimir Putin por ela, no mínimo devido às condições brutais de encarceramento na prisão conhecida como Lobo Polar, onde na sexta a temperatura chegou a -24ºC.
A assessora do ativista, Kira Iarmich, disse neste sábado que a mãe de Navalni foi notificada oficialmente pelo governo da morte do filho. Mas o único necrotério da região em que fica a cadeia, no norte russo, ainda não recebeu o corpo do ativista, e Iarmich exigiu que as autoridades o liberem para a família.
Ainda não há detalhes da necropsia do ativista, que foi visto dois dias antes com boa aparência em uma audiência virtual com um juiz de Moscou. Iarmich afirmou que o resultado deverá ser divulgado só na semana que vem.
Segundo o Serviço Federal Prisional russo, ele morreu após desmaiar durante uma caminhada. Navalni cumpria uma pena de 30 anos e meio de cadeia, acusado de corrupção, desrespeito à corte e extremismo.
A rede estatal russa RT afirmou, baseando-se em informações anônimas, que ele foi atendido por 30 minutos e que a causa da morte foi uma trombose. Não houve confirmação disso e, mesmo que haja, dificilmente os apoiadores de Navalni acreditarão no que disser o Estado.