Muitos dos navios mercantes que se arriscam a entrar no mar Vermelho, com a crescente ameaça dos rebeldes do Houthi — grupo apoiado pelo Irã que controla parte do Iêmen —, estão com homens armados. Além do risco do lado direito do estreito de Bab el-Mandeb, onde fica a costa iemenita, há perigos que envolvem piratas do lado esquerdo, na Somália.
A região é uma das mais importantes para a navegação comercial do mundo, sendo o único acesso ao canal de Suez, trajeto mais curto entre o Mediterrâneo, o oceano Índico e o leste asiático, e movimenta bilhões de dólares.
Várias embarcações que apareciam em sistemas de monitoramento em tempo real nesta terça-feira (19) já não exibiam o porto de destino em suas identificações, mas apenas a informação “guardas armados a bordo”.
As principais associações da indústria naval pediram às empresas que adotassem cautela em relação a esse tipo de medida. Elas foram instadas a “concluir uma avaliação de risco completa” que considere “o risco de escalada” da violência.
A empresa britânica de segurança marítima Ambrey informou nesta semana que houve um “confronto armado” entre guardas a bordo de um navio e agressores, também armados, que chegaram em uma lancha.
Guardas privados armados têm sido implantados há anos a bordo de navios comerciais que navegam por essas águas e vêm ajudando a conter ataques de pirataria somali há mais de uma década, disseram fontes do setor naval.
O registro de navegação das ilhas Marshall, uma das bandeiras mais importantes de navegação no mundo, afirmou em uma nota separada na última quinta-feira (14) que os navios foram aconselhados a “reavaliar as regras para o uso da força com suas empresas privadas de segurança marítima”.
“Deve ser feita uma clara distinção entre suspeitos de ataque com armas leves e forças militares com armamentos mais avançados”, afirmou o aviso, acrescentando que não se aconselha o envolvimento com forças militares, pois “pode resultar em uma escalada significativa”.
O aviso da indústria mencionou que navios que desligam seus transponders de rastreamento para evitar detecção também podem complicar os esforços de resgate caso encontrem problemas.
O Houthi sequestrou o transportador de veículos Galaxy Leader, em 19 de novembro, usando um helicóptero militar, homens fortemente armados e lanchas de apoio. Não houve reação da tripulação, e o navio foi levado para um porto no Iêmen, onde permanece até hoje, juntamente com os 25 tripulantes.
Os ataques que o grupo tem realizado nos últimos dias, todavia, não podem ser evitados por guardas. Eles usam mísseis e drones suicidas para atingir os navios — ao menos 20 foram danificados.
Piratas da Somália
O navio graneleiro Ruen, de bandeira maltesa, foi sequestrado na semana passada por piratas da Somália, país próximo ao Iêmen — os dois são separados por cerca de 150 km, no golfo de Áden.
O Ministério da Defesa da Espanha manifestou receio de que piratas estejam retornando às águas do golfo e do mar Vermelho, em meio às tensões provocadas pelos houthis.
Um navio de guerra espanhol foi enviado às pressas na sexta-feira para verificar a situação do Ruen. O ministério afirmou em um comunicado que o navio “está sob controle de piratas desde a manhã de 14 de dezembro”, marcando a primeira confirmação oficial do destino do navio.
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“Isso foi avaliado como provavelmente sendo o primeiro sequestro de um navio mercante por piratas somalis desde o ARIS 13 [navio-tanque capturado], em 2017. A Ambrey avaliou que o evento é provavelmente, em parte, uma consequência da instabilidade política na região da Puntlândia.
A Eunavfor (força naval da União Europeia) informou à Reuters na segunda-feira que o incidente ainda estava em andamento e que mantinha “estreita colaboração com as autoridades locais somalis”.
EUA anunciam coalizão
Na segunda-feira, o Pentágono anunciou a formação de uma coalizão militar composta de dez países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Holanda, Canadá, Noruega, Bahrein e Seychelles.
A iniciativa, chamada Operação Guardião da Prosperidade, visa garantir a segurança e a liberdade de navegação no mar Vermelho. A coalizão atuará sob a égide da Força Naval Internacional Forças Marítimas Combinadas, um grupo de 39 países dedicado a proteger o fluxo de comércio e melhorar a segurança marítima em diversas regiões.
O Pentágono destacou que a escalada dos ataques dos houthis ameaça o livre-comércio, põe em risco marinheiros e viola o direito internacional.
O secretário de Defesa dos EUA enfatizou a importância de enfrentar o desafio representado pelos houthis, um ator não estatal que lançou mísseis balísticos e drones contra navios mercantes de diversas nações que transitam legalmente em águas internacionais.