O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, reuniu-se nesta quarta-feira (10) com representantes da oposição da Venezuela e apresentou uma proposta para “paz política” a poucos meses da eleição presidencial no país do ditador Nicolás Maduro, marcada para 28 de julho, cuja lisura do processo vem sendo questionada por parte da comunidade internacional.
Considerado um aliado de Maduro, Petro disse se tratar de uma proposta democrática para garantir o “bem-estar do povo venezuelano”. Ele não especificou, entretanto, quem eram seus interlocutores nem revelou detalhes do plano.
A reunião com opositores fez parte da agenda de viagem de Petro a Caracas, onde o colombiano também encontrou Maduro no Palácio de Miraflores, a sede do regime. Ao ditador, o presidente reiterou sua defesa da “paz política na Venezuela” e disse que a Colômbia “pode ajudar muito” nos diálogos, segundo comunicado divulgado por Bogotá.
A visita diminuiu o mal-entrar entre a diplomacia dos dois países que se criou após Petro descrever, na semana passada, a inabilitação de Marina Corina Machado como um “golpe antidemocrático” na Venezuela. Machado é a principal opositora ao regime chavista e está impedida de exercer cargos públicos por 15 anos.
“Falei com o presidente Maduro sobre a proposta que fiz a ele e a setores da oposição, talvez a mais importante neste momento para garantir que este país possa ter paz política”, afirmou Petro. “Fundamentalmente, uma intermediação, uma mediação colombiana para alcançar a paz política.”
Representantes da PUD (Plataforma Unitária Democrática), a mais importante força de oposição ao regime venezuelano, negaram ter participado do encontro, assim como o círculo próximo de Corina Machado, a vencedora com folga das primárias opositoras que foi posteriormente inabilitada.
Desde agosto de 2021, governo e oposição na Venezuela mantêm um processo de negociação com mediação da Noruega. Nos diálogos, as partes estabeleceram, por exemplo, que as eleições devem ser realizadas com lisura e a presença de observadores internacionais.
Mas a inabilitação de Machado e o veto à candidatura de sua substituta, Corina Yoris, vêm motivando críticas e questionamentos da comunidade internacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, mudou o tom com Caracas e afirmou que não há justificativa política ou jurídica para se proibir um adversário de disputar eleições.
Em março, a professora universitária Corina Yoris, 80, viu seu debute na política institucional frustrado ao não conseguir inscrever seu nome na plataforma eleitoral. “Fizemos todas as tentativas de inserir os dados e o sistema está completamente fechado para poder entrar digitalmente”, disse ela na ocasião.
Durante o processo de inscrição, que terminou à meia-noite de 25 de março, foram registrados 13 candidatos, incluindo Maduro, que aspira a um terceiro mandato de seis anos. Embora nove dos candidatos se definam como antichavistas, a maior parte é rotulada pela oposição tradicional como “colaboradores” do governo.
Diante do bloqueio à Corina Yoris, a PUD registrou Edmundo González Urrutia como nome do grupo, mas inscrito pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), absorvida pela PUD. Segundo a aliança, no entanto, o nome de Urrutia é provisório, e busca apenas garantir representação da força no pleito até que consiga “inscrever sua candidata por direito”.
Fora Urrutia, o principal rival de Maduro nas eleições de julho até aqui é Manuel Rosales, considerado o nome mais “palatável” ao regime dentro da coalizão opositora. Ele é figura conhecida na política venezuelana e atualmente governador de Zulia, um estado de grande produção de petróleo na fronteira com a Colômbia.
Maduro aspira iniciar um terceiro mandato que o levaria a completar 18 anos no poder, quatro a mais do que somava seu antecessor e padrinho político, Hugo Chávez, ao morrer em 2013.
Com a crise econômica e humanitária que se instalou nos últimos anos, porém, ele foi perdendo apoio popular. Diferentes pesquisas de opinião publicadas por meios independentes do país indicam que sua rejeição hoje chega a cerca de 80% da população, por isso ele tenta encurralar os adversários.