As mulheres brasileiras estão com tudo nesses Jogos Olímpicos de 2024, e nós temos a comemorar muito mais do que as medalhas.
Não só estamos vendo um belo desempenho da delegação feminina como, historicamente, esse feito representa mais um passo importante numa ascensão meteórica.
Em outras palavras: a mulherada foi entrando de mansinho na festa, depois de ser deixada de escanteio por décadas, e em pouco tempo tá botando pra quebrar.
Um século para a primeira medalha
Desde que a pioneira Maria Lenk competiu em natação nas Olimpíadas de Los Angeles em 1932, estreando a participação feminina brasileira nos jogos, o esporte feminino nacional teve que enfrentar um longo e tortuoso caminho evolutivo, pontuado por proibições, limitações e preconceitos.
O futebol feminino, por exemplo, foi proibido por Getúlio em 1941 e só voltou a ser regulamentado em 1983 — quando a modalidade masculina já acumulava 3 copas do mundo.
Nesse ínterim, inúmeras mulheres atletas tiveram que batalhar por espaço, entre conhecidas e esquecidas. Um exemplo é a judoca Soraia André, que peitou inúmeros desafios dentro e fora dos tatames & do contexto olímpico e conta sua história no livro “Japonegra: uma história de superação, fé e amor”.
As primeiras medalhas olímpicas femininas brasileiras foram conquistadas quase um século depois dos primeiros jogos, em 1996 — todas em modalidades coletivas.
Durante as disputas em Atlanta, as duplas Jaqueline & Sandra e Adriana & Mônica levaram, respectivamente, ouro e prata no vôlei de praia; o basquete levou prata; e o vôlei de quadra ganhou bronze.
A partir daí, as atletas brasileiras ganharam medalhas em todas as edições que se seguiram.
O recorde histórico absoluto até agora foi Tóquio (2020), com 9 medalhas de um total de 21 conquistadas pela delegação brasileira (aliás, um recorde histórico também).
Entre elas, três de atletas que também foram premiadas este ano: Rebeca Andrade (com ouro em salto e prata no individual — a primeira atleta a levar 2 medalhas numa única edição) e Rayssa Leal (bronze no skate, o que a converteu na mais jovem medalhista olímpica do Brasil).
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Mundialmente, a participação feminina nos jogos olímpicos também superou inúmeras marcas nas últimas décadas.
A edição londrina de 2012, por exemplo, contou com uma quantidade inédita de atletas mulheres de todo o mundo (4676 participantes). Foi também a primeira Olimpíada da história que permitiu a participação de mulheres em todas as modalidades (sendo que esportes tradicionalmente considerados ‘de machow’ como boxe e luta livre foram as últimas fronteiras conquistadas).
Nos jogos de 2016, no Rio, 44% das medalhas foram conquistadas por mulheres — outro recorde mundial.
Desde então, y que maravilha, a ascensão feminina vem sendo claríssima como os cielos de Parrí.
No caso do Brasil, nem terminamos a edição 2024 e já temos o mesmo número de vitórias femininas de Tóquio. Tudo indica que poderemos superar as medalhas masculinas pela primeira vez na história.
Longe vai o tempo (graças a las deusas) em que Pierre de Coubertin, fundador dos jogos olímpicos modernos, declarou que “uma Olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, deselegante e imprópria”.
Lá por 1901, apenas 5 anos depois do re(nascimento) das Olimpíadas, Coubertin reiterou sua completa oposição à participação de mulheres nos jogos, definindo-os como “a exaltação solene e periódica do atletismo masculino”, com “o aplauso das mulheres como recompensa”. Teve que engolir militantes como a Alice Milliat, que lançou uma Olimpíada feminina em Paris, em 1922; e, homem do seu tempo, morreu insistindo que a aspiração mais elevada da mulher deveria ser “companheira do homem” e “mãe de família”.
Pois, Coubertin, pega essa: em 2024, os aplausos (e conquistas) são pra todes.
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