O anúncio das forças armadas israelenses de pausas táticas nos combates no sul de Gaza não produziu nenhuma melhora na entrega de ajuda ao enclave. Segundo os trabalhadores humanitários da ONU, a ordem pública entrou em colapso e a situação de saúde se agravou ainda mais.
Falando de Jerusalém, o representante da Organização Mundial da Saúde, OMS, no Território Palestino Ocupado, Richard Peeperkorn, relatou casos de gestantes que pediram cesarianas antecipadas para garantir que pudessem dar à luz. O receio era que não conseguirem acessar um hospital mais tarde devido à situação de segurança.
Dignidade e privacidade perdidas
Apontando para os problemas de acesso aos últimos hospitais em funcionamento em Gaza, Peeperkorn relatou que os profissionais de saúde, obstetras e médicos tratam níveis muito mais altos de bebês com baixo peso ao nascer do que antes da guerra.
A representante especial da ONU Mulheres para o Território Palestino Ocupado, Maryse Guimond, afirmou que a população foi quase totalmente privada da capacidade de garantir a segurança alimentar, o abrigo, a saúde e a subsistência.
Falando a jornalistas em Genebra, Guimond, descreveu que as pessoas estão amontoadas em abrigos improvisados e sem os itens essenciais mais básicos.
Em uma escola que se transformou em abrigo administrado pela Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, há apenas 25 banheiros para as 14 mil pessoas que buscam segurança dentro do complexo e para as outras 59 mil que acampam do lado de fora, observou ela.
Evacuações médicas
Desde o início da guerra, em 7 de outubro, após os ataques terroristas liderados pelo Hamas em Israel, cerca de 4,8 mil pacientes foram evacuados de Gaza por necessidade médica, a maioria para o Egito e outros lugares da região.
Mas pelo menos outros 10 mil pacientes agora precisam de tratamento especializado fora do enclave. Segundo Peeperkorn, metade dos casos está relacionado à guerra e a outra metade a doenças crônicas como câncer, doenças cardiovasculares e outras doenças não transmissíveis, incluindo casos graves de saúde mental.
Cerca de 50 a 100 evacuações médicas costumavam ser feitas regularmente de Gaza para hospitais na Cisjordânia antes da guerra. O representante da OMS fez um apelo para a reabertura da passagem de fronteira de Rafah, no sul do enclave, ou para que Kerem Shalom fosse usada em seu lugar.
Segundo a OMS, desde o fechamento da passagem de Rafah pelas autoridades israelenses em 7 de maio, a passagem de Kerem Shalom, no extremo sul da Faixa de Gaza, tem sido o único ponto operacional de entrada de ajuda no sul do enclave.
As autoridades israelenses disseram no último domingo que haveria uma pausa nos combates ao longo da estrada que vai de Kerem Shalom para a cidade de Khan Younis.
A rota é crucial para a distribuição de ajuda a partir da passagem de fronteira para o sul e o centro de Gaza, depois que mais de 1 milhão de pessoas terem sido forçadas a sair de Rafah em resposta ao início da operação terrestre israelense no local.
Respeito à lei humanitária
O Escritório da ONU de Assistência Humanitária, Ocha, também demonstrou preocupações e insistiu na responsabilidade de Israel, de acordo com a lei humanitária internacional, como potência ocupante, de garantir que os suprimentos de ajuda, incluindo combustível, cheguem àqueles que mais precisam, inclusive abordando a “completa destruição da lei e da ordem” e relatos de saques.
Segundo o porta-voz do escritório, Jens Laerke, os combates na área podem ter diminuído como resultado desses movimentos coordenados, mas esse não é o único impedimento para a coleta de ajuda na área entre Kerem Shalom e a estrada de Salah Al Din.
Benefícios fracionários
A OMS avalia que o impacto do fechamento da passagem de Rafah, o aumento dos combates e o contínuo deslocamento forçado dos habitantes de Gaza significam que o trabalho no local “é apenas uma fração” do que deveria ser feito.
Segundo a agência da ONU, neste momento, por meio de Kerem Shalom, as equipes têm de liderar e instruir veículos blindados para garantir que a comunidade internacional continue entrando e saindo da Faixa de Gaza, sendo o tráfego um apenas um dos principais problemas enfrentados.