Os mais de 10 mil atletas que utilizaram a Vila Olímpica e Paralímpica durante os Jogos de Paris-2024 se depararam com estruturas de aparência insólita, misto de guarda-sol e disco voador. Batizados de para-PMs, são grandes filtros eletrostáticos, instalados para purificar o ar respirado pelos esportistas.
Segundo a empresa francesa que os inventou, os para-PMs recolhem até 95% das partículas finas de 2,5 micrômetros, as chamadas PM2,5, suspensas no ar. Ainda experimentais, os aparelhos são um símbolo do esforço —até agora, bem-sucedido— que vem sendo feito nos últimos anos para melhorar o ar na Grande Paris.
Segundo o Airparif, órgão independente que monitora a qualidade do ar na região parisiense, a concentração de partículas finas caiu 40% de 2013 a 2023. Também diminuiu a concentração de outros poluentes, como o dióxido de nitrogênio. Os índices, porém, continuam acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A prefeitura estima que 1.500 parisienses morrem todos os anos devido ao excesso de PM2,5 no ar.
A medida mais vistosa, nos últimos anos, foi a redução da circulação de veículos poluentes no centro da capital. Em 2015, Paris foi a primeira cidade francesa a impor “zonas de baixa emissão”, onde só podem circular veículos considerados limpos: basicamente, carros elétricos, a hidrogênio ou híbridos. No mês que vem, o preço para estacionar um SUV não híbrido na região central de Paris durante uma hora passará de € 6 (R$ 37) para € 18 (R$ 110).
Em 2018, as marginais do rio Sena foram transformadas em vias para pedestres. Nos últimos cinco anos, dezenas de ruas foram vegetalizadas —vedadas aos automóveis e ajardinadas. De 2001 a 2021, Paris passou de 200 km a 1.094 km de ciclovias. Neste ano, pela primeira vez a bicicleta superou o automóvel em número de deslocamentos individuais na cidade.
No entanto, persiste uma grande disparidade nos níveis de poluição conforme a região onde se vive. Por exemplo, quem mora perto do périphérique, o anel rodoviário da capital francesa, inala um ar pior.
Prefeita da cidade há dez anos, Anne Hidalgo quer reduzir a velocidade máxima no anel de 70 para 50 km/h. “Isso permitirá salvar vidas, reduzindo o número de acidentes, a poluição do ar e o barulho”, diz a prefeita adjunta para assuntos ambientais, Anne-Claire Boux. A medida enfrenta resistência de adversários políticos de Hidalgo, segundo os quais a decisão não é de sua alçada.
A localização do parisiense, acima ou abaixo da terra, também pode influir na qualidade do ar. Um levantamento feito no metrô de Paris pela agência francesa de segurança sanitária, divulgado em janeiro, mostrou três estações com níveis de partículas finas acima do recomendado, e 31 com nível considerado mediano. A estação mais poluída é a de Belleville, inaugurada em 1903.
Começou a ser aplicado neste ano em Paris o “Plano Clima 2024-2030”, um conjunto de 400 medidas a serem tomadas até o fim da década. O objetivo é não apenas melhorar a qualidade do ar, mas preparar a cidade para o aquecimento global. Em 25 de julho de 2019, a máxima em Paris foi de 42,6°C, recorde histórico. Um grupo de especialistas em clima prevê que já em 2030 possam ocorrer máximas de 50°C na cidade.
Entre as medidas do Plano Clima estão a criação de 300 hectares de áreas verdes (hoje a cidade tem cerca de 1.900 hectares) e o plantio de 170 mil árvores (atualmente são cerca de 500 mil).
Apesar de ambicioso, o projeto parisiense se baseia nos resultados obtidos até agora. A pegada de carbono de Paris —a emissão de dióxido de carbono de empresas e de moradores— caiu um terço nas últimas duas décadas.
Na tarde ensolarada da última quinta-feira (19), à beira do Sena, Emmanuelle Philipidhis, 72, e Christine Kirk, 75, desfrutavam do ar menos poluído da cidade onde moraram durante a vida inteira. “Era pior nos anos 1950, quando o aquecimento era a carvão”, lembra Christine. “Moro perto de uma usina de incineração de lixo. Se deixo a janela aberta e saio de casa, na volta fica tudo sujo”, conta Emmanuelle.