Em sua visita à Indonésia, o papa Francisco fez nesta quarta-feira (4) um elogio a mulheres que têm muitos filhos. Ao lado do presidente indonésio, Joko Widodo, afirmou: “No seu país, as pessoas têm três, quatro ou cinco filhos, é um exemplo para todos os países, enquanto alguns preferem ter apenas um gato ou um cão pequeno. Isto não pode dar certo.” Widodo respondeu com um sorriso.
Em 2022, durante uma audiência geral no Vaticano, ele disse que quem escolhe criar um animal de estimação em vez de ter um filho está sendo egoísta. “É uma negação da paternidade e da maternidade e tira nossa humanidade”, disse à ocasião.
A taxa de fecundidade da Indonésia, porém, está até abaixo da média mundial. De acordo com o Banco Mundial, com dados de 2022, a nação do Sudeste Asiático tem uma taxa de 2,2 filhos por mulher, ante 2,3 do índice global. A taxa do Brasil é de 1,6 filho por mulher.
Com 17.500 ilhas, a Indonésia abriga a maior população muçulmana do mundo (242 milhões, 87% de seus habitantes) e tem 8 milhões de católicos (menos de 3%).
O pontífice pediu em seu discurso um diálogo inter-religioso maior como resposta “ao extremismo e à intolerância”, no início de sua longa viagem pela Ásia.
O tema é um dos principais da visita de três dias à Indonésia, que inclui um encontro nesta quinta-feira (5) com representantes das seis religiões oficialmente reconhecidas no país.
“A Igreja Católica deseja incrementar o diálogo inter-religioso. Desta forma, podem-se eliminar preconceitos e desenvolver um clima de respeito e confiança mútuos, indispensável para enfrentar desafios comuns; entre os quais a contraposição ao extremismo e à intolerância que, distorcendo a religião, tentam impor-se através do engano e da violência”, afirmou o papa de 87 anos em discurso no palácio presidencial.
A Indonésia luta há décadas contra o extremismo islâmico, responsável pelo atentado com explosivos na ilha turística de Bali de outubro de 2002, que deixou 202 mortos.
O papa também falou sobre a situação internacional e afirmou que os conflitos violentos “muitas vezes são o resultado da falta de respeito mútuo, do desejo intolerante de fazer prevalecer a todo o custo os próprios interesses, a própria posição ou narrativa histórica parcial, mesmo quando isso implica sofrimentos intermináveis para comunidades inteiras e resulta em verdadeiras guerras sangrentas”.
“Liberdade e tolerância, é isto que a Indonésia e o Vaticano desejam propagar”, respondeu Widodo.
Centenas de crianças e jovens em trajes tradicionais e bandeiras da Indonésia e do Vaticano receberam Francisco, que também assistiu a um desfile militar e ouviu os hinos dos dois Estados.
Na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, na capital Jacarta, o líder católico encorajou o clero local à fraternidade, pedindo que permaneçam “abertos e amigos de todos”.
TERCEIRO PAPA NO PAÍS
Depois de um voo de 13 horas na terça-feira, Francisco, que tem se deslocado em uma cadeira de rodas, tirou metade do dia para descansar, e nesta quarta-feira não aparentou sentir efeitos do “jet lag” ou do calor na capital indonésia.
O argentino é o terceiro papa a visitar a Indonésia, depois do italiano Paulo 6º (1897-1978), em 1970, e do polonês João Paulo 2º (1920-2005), em 1989.
A maratona do pontífice por quatro países do Sudeste Asiático e da Oceania (Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor Leste e Singapura) estava prevista para 2020, mas foi adiada devido à pandemia de Covid-19.
Na sexta-feira, ele deve desembarcar em Papua-Nova Guiné, antes de seguir para Timor Leste e encerrar o giro pela região em Singapura. Completará, quando voltar a Roma, um percurso de 32 mil quilômetros, o mais longo desde que foi eleito papa, em 2013. A viagem, a 45ª ao exterior de seu pontificado, é um desafio para Francisco, que sofreu vários problemas de saúde nos últimos anos.