À medida que se multiplicam os apelos de boicote aos produtos de Israel em todo o mundo, uma campanha publicitária na Cisjordânia ocupada incentiva o consumo de produtos locais. Com isso, os palestinos buscam alternativas aos produtos israelenses onipresentes em suas lojas.
“Palestino e para os palestinos —nosso produto é suficiente”, proclamam os cartazes, folhetos e adesivos nos supermercados da Cisjordânia.
“Trata-se de mostrar os produtos palestinos”, explica Omar Bawatneh, gerente de um supermercado em Ramallah. Água, leite, detergente, ou papel higiênico: o “made in Palestine” ocupa lugar de destaque em seu estabelecimento.
Segundo estimativas da cadeia de supermercados, o consumo de produtos israelenses passou de 90% para 60% desde 7 de outubro, data do início da guerra entre Israel e o Hamas.
Entre seus clientes, estão jovens que desenvolveram uma consciência política e consomem cada vez mais produtos palestinos, conta Bawatneh.
“Eles olham os rótulos e procuram na Internet a lista de produtos a boicotar”, acrescenta o gerente, referindo-se ao movimento internacional BDS, sigla em inglês para boicote, desinvestimento e sanções contra Israel.
Lançada em 2005 por organizações da sociedade civil palestina, a campanha é regularmente acusada de antissemitismo, especialmente pelo governo americano e por Israel.
“O movimento BDS se opõe, categoricamente, a todas as formas de racismo, incluindo islamofobia e antissemitismo”, explica seu cofundador, Omar Barghuti, afirmando se inspirar no movimento anti-Apartheid sul-africano para reivindicar direitos para os palestinos.
Seus criadores têm três exigências: o fim da ocupação militar israelense de 1967, o desmantelamento do que consideram um sistema de apartheid e o respeito pelo direito dos refugiados palestinos de retornarem para suas terras.
Para isso, o BDS defende um boicote aos produtos israelenses, incluindo esportivos, culturais e acadêmicos, e pede que se exerça pressão sobre as empresas estrangeiras que colaboram com Israel.
Dezoito anos depois de seu lançamento, a campanha adquiriu dimensão internacional com cerca de 40 braços no exterior. “Apoio este movimento porque só poderemos mudar as coisas com a pressão internacional”, disse à agência de notícias AFP Ofer Neiman, membro israelense do grupo.
A campanha utiliza os princípios da não violência e dos direitos humanos para provocar mudanças e oferece a todos numa oportunidade de participar, acrescenta o ativista de esquerda.
“Tento boicotar os produtos procedentes dos assentamentos israelenses que se espalham pelos territórios palestinos, mas é impossível prescindir das mercadorias israelenses na vida quotidiana”, afirma o proprietário de uma loja de ferragens no centro de Ramallah. Banheiras e encanamentos são israelenses, por exemplo.
De acordo com um comerciante palestino que prefere não ser identificado, seus clientes querem “os melhores” produtos para as suas casas, querendo dizer com isso “israelenses”.
Segundo o Banco Mundial, “todos os investimentos e projetos de desenvolvimento na Cisjordânia estão sujeitos à aprovação israelense”. A instituição acrescenta que os territórios palestinos dependem de ajuda internacional.
Na mercearia de Mohamedi Ali, em Al-Bireh, cidade adjacente a Ramallah, “há dez anos que há zero produção israelense”. “Recuso-me a dar dinheiro que irá para os militares israelenses e que, depois, vão matar os palestinos”, afirma.
Quando precisa abastecer sua pequena loja, ele diz comprar apenas produtos turcos, jordanianos, ou chineses.