A Otan, aliança militar de 32 membros liderada pelos Estados Unidos, está envolvida diretamente em um confronto com a Rússia devido à Guerra da Ucrânia. A afirmação foi feita nesta segunda (27) pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Ele criticou em entrevista ao jornal Izvestia a sugestão dada pelo secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, para que os países ocidentais que fornecem armas para Kiev permitam o emprego delas contra alvos no território legal russo.
“A Otan está aumentando o grau de escalada, flertando com retórica militar e caindo em êxtase militar”, disse o porta-voz de Vladimir Putin. Questionado se havia risco de confronto direto com a Rússia, ele disse: “Eles não estão se aproximando, eles estão nele”.
As declarações de Stoltenberg haviam sido publicadas na sexta (24) pela revista britânica The Economist. Em um movimento raro, ele pressionou os EUA, cujo governo é o mais reticente em escalar o envolvimento ocidental na guerra iniciada por Vladimir Putin em 2022.
O temor, explorado pelo presidente russo desde seu primeiro discurso sobre a invasão, é que uma embate direto se torne o começo da Terceira Guerra Mundial, potencialmente nuclear e catastrófica. Nas últimas semanas, Putin tem reiterado esse risco, dizendo que a Rússia está pronta para o pior.
Para críticos dessa cautela, como Stoltenberg, o russo está blefando e a aposta tem de ser coberta. As discussões têm sido abertas: Reino Unido e Suécia já deram a autorização para o uso de suas armas contra solo russo, e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que essa era uma decisão que ele não recomendaria, mas que caberia a Kiev.
Os EUA são os maiores apoiadores militares dos ucranianos, mas a ajuda engasgou neste ano devido à resistência da oposição republicana no Congresso a aprovar novos pacotes, que acabou sendo vencida. Mas o presidente Joe Biden, até aqui, evitou o envio de armas com potencial ofensivo.
Seu colega francês, Emmanuel Macron, já vinha sendo acusado por Putin por ter sugerido enviar soldados para a Ucrânia. Nesta segunda, o chanceler húngaro, Peter Szijjártó, disse que seus colegas europeus querem fazer o mesmo.
“É óbvio que tais ideias malucas em tempos de guerra podem ter consequências dramáticas, trágicas e extremamente perigosas. Tais declarações são perigosas mesmo em tempos de paz e, em tempos de guerra, podem facilmente tornar-se realidade”, disse ele após uma reunião com seus pares da União Europeia, em Bruxelas.
A Hungria, também membro da Otan, é o país europeu mais alinhado à Rússia, com quem tem diversos laços econômicos. Szijjártó afirmou que Budapeste não irá dar aval ao 14º pacote de sanções europeias contra Moscou porque ele irá ferir seus interesses.
Enquanto isso, em Madri, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, assinou um acordo para receber o equivalente a R$ 6,3 bilhões em equipamentos militares para os ucranianos, incluindo mísseis para o sistema antiaéreo Patriot e 19 tanques Leopard-2A4.
Kiev, sob pressão em diversos pontos da frente de batalha com os russos, tem apostado cada vez mais em ataques assimétricos. Mira a especialmente vulnerável Frota do Mar Negro de Moscou e tem feito bombardeios com drones de sua produção contra refinarias, cidades e até a rede de radares contra mísseis nucleares dos rivais.
O Kremlin diz que irá atacar alvos militares de países que tiverem armas suas usadas contra alvos na Rússia, citando especificamente o Reino Unido, o que levaria o conflito que mudou a geopolítica para um território desconhecido. Para tentar se fazer ouvir, promoveu exercícios com armas nucleares táticas, de emprego em campo de batalha.