A nova resolução que tenta alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza vai ser votada pelo Conselho de Segurança da ONU na tarde desta segunda-feira (10), um dia após os Estados Unidos finalizarem o texto elaborado durante seis dias de negociações entre os 15 membros do órgão.
O plano, apresentado no final de maio pelos EUA como uma iniciativa de Israel, propõe uma trégua de três fases. Para ser aprovada, a resolução precisa de pelo menos nove votos a favor e nenhum voto contra de EUA, França, Reino Unido, China ou Rússia, que têm poder de veto.
Na primeira fase, haveria um cessar-fogo completo por seis semanas, a retirada de todas as tropas das áreas habitadas da Faixa de Gaza e a libertação de reféns sequestrados pelo Hamas em troca de centenas de prisioneiros palestinos. Ao mesmo tempo, passaria a haver um fluxo de 600 caminhões de ajuda humanitária entrando em Gaza por dia, de acordo com o presidente americano, Joe Biden.
Na segunda fase, Hamas e Israel negociariam um fim para a guerra, e o cessar-fogo continuaria em vigor durante essas negociações. Esse ponto contraria aquele que tem sido o mantra do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, desde o início do conflito —de que a guerra só terminaria com a destruição completa da facção. A terceira fase consistiria de um plano de reconstrução do território palestino.
O texto da proposta insta ambas as partes a implementarem integralmente seus termos sem demora e sem condições, além de esclarecer que, se as conversas na primeira fase durarem mais de seis semanas, o cessar-fogo “continuará enquanto as negociações prosseguirem”.
Os EUA finalizaram o texto no domingo (9). Antes mesmo disso, na última quinta-feira (6), o Brasil manifestou apoio ao plano ao lado de países como Argentina, França, Alemanha e Reino Unido.
“Apelamos aos líderes de Israel, bem como ao Hamas, para que assumam todos os compromissos finais necessários para fechar este acordo e trazer alívio às famílias dos nossos reféns, bem como às pessoas de ambos os lados deste terrível conflito, incluindo as populações civis”, diz trecho da nota divulgada pelo Itamaraty na ocasião.
Mesmo com o respaldo de diversos países, ainda não está claro se o rascunho será aprovado, já que a posição de Rússia e China ainda é uma incógnita.
Em março, os dois países foram responsáveis por vetar uma resolução proposta por Washington sob a argumentação de que o texto não era claro o suficiente sobre a necessidade de um cessar-fogo. Antes disso, os EUA que vinham bloqueando tentativas de trégua —foram três as propostas vetadas pelos EUA: de Brasil, Emirados Árabes Unidos e Argélia.
Três dias depois, o conselho aprovou, pela primeira vez desde o início da guerra, uma resolução que pedia um cessar-fogo. O texto havia sido proposto pelo grupo de dez membros não permanentes (Equador, Japão, Malta, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia, Suíça, Argélia e Guiana). A resolução recebeu o apoio de 14 dos 15 membros do órgão, já que os Estados Unidos se abstiveram.
Além da trégua, o texto pedia a soltura imediata e incondicional dos reféns —sem atrelar o cessar-fogo a essa libertação, como queriam os americanos— e a garantia do acesso humanitário à região, onde metade da população está em nível crítico de fome após os bloqueios impostos por Tel Aviv. Desde então, o número de caminhões com ajuda teve um leve aumento em abril e despencou em maio, segundo a agência de assuntos humanitários da ONU (Ocha, na sigla em inglês).
Em uma tentativa de pressionar as partes a aceitarem a atual proposta de trégua, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou nesta segunda em Israel após passar pelo Egito em sua oitava visita ao Oriente Médio desde o início do conflito. No Cairo, o chefe da diplomacia dos EUA instou os países da região a “pressionarem o Hamas” pelo cessar-fogo.
Nesta segunda, o chanceler da Autoridade Palestina, Riyad al-Maliki, disse a uma estação de rádio local que os sinais para aprovar o texto são positivos. “Esperamos que esta proposta seja aceita”, afirmou. O órgão a que pertence governa a Cisjordânia, não a Faixa de Gaza, onde o conflito se desenrola e o Hamas está no poder desde 2007.
Apesar dos esforços, não há garantias de sucesso. A visita acontece um dia após um integrante do gabinete de guerra de Israel, o centrista Benny Gantz, deixar o governo. Rival de Netanyahu, ele exigiu, sem êxito, a adoção de um “plano de ação” para o pós-guerra em Gaza.