Agências das Nações Unidas pediram pausas humanitárias na Faixa de Gaza por sete dias para permitir a realização de duas campanhas de vacinação para evitar a disseminação da variante circulante do poliovírus tipo 2.
O plano é vacinar mais de 640 mil crianças após a descoberta do agente causador da poliomielite nas águas residuais do território. O pedido segue-se à emissão de uma nova evacuação de áreas no sul e centro de Gaza, antes consideradas como zona humanitária segura.
Unidades de saúde e agentes comunitários
A Organização Mundial da Saúde, OMS, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, planejam que a imunização aconteça entre o final de agosto e setembro.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, a vacina definitiva contra a poliomielite é a paz e um cessar-fogo humanitário imediato. Ele declarou a jornalistas, em Nova Iorque, que a poliomielite vai além da política e transcende todas as divisões.
No pronunciamento, ele considerou essencial a “Pausa da Poliomielite” por ser impossível conduzir uma campanha de imunização contra a doença com a guerra acontecendo por toda parte.
Como obrigação compartilhada, Guterres pede união e mobilização “não para lutar contra as pessoas, mas contra a poliomielite”. Para ele é preciso derrotar o vírus cujo efeito seria desastroso “não apenas para as crianças palestinas em Gaza, mas também nos países vizinhos e na região” se este não for controlado.
Para as agências, as pausas nos combates permitiriam que crianças e famílias chegassem seguras às unidades de saúde e que agentes comunitários tivessem acesso aos menores sem possibilidades de chegar a esses locais.
O comunicado das duas agências enfatiza que sem pausas humanitárias, a entrega da campanha não será possível.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, lamentou que novas ordens de evacuação tenham sido emitidas pelas autoridades israelenses, mesmo dentro da chamada “zona humanitária segura”.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, até 15 de agosto pelo menos 40.005 palestinos já teriam sido mortos e outros 92.294 ficaram feridos.
Escala da morte e destruição
Para a Unrwa, a situação faz com que “uma vez mais o medo se espalhe, pois as famílias não têm para onde ir e continuam presas em um pesadelo sem fim de morte e destruição em uma escala impressionante”.
Em outro desenvolvimento, a porta-voz do Escritório da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, comentou as mortes na aldeia de Jit na Cisjordânia. Ela destacou que o ataque isolado de forças de Israel “é a consequência direta da política de assentamento” na área.
Ela recordou relatos nos últimos anos sobre ataques realizados por ocupantes de assentamentos a comunidades palestinas em suas terras na Cisjordânia marcados pela impunidade que considera “o ponto crucial da questão”.
Mortes na Cisjordânia
Estima-se que desde 7 de outubro morreram 609 habitantes na Cisjordânia, incluindo 146 crianças. O número inclui oito mulheres e pelo menos quatro pessoas com deficiência em atos que o escritório ressalta que “precisam parar e a chave para isso será a responsabilização dos autores.”
Por outro lado, a relatora especial da ONU sobre Tortura*, Alice Jill Edwards, condenou a mais recente alegação de agressão sexual realizada por soldados israelenses contra um homem palestino sob custódia.
O ato se segue à comunicação formal com Israel em maio sobre várias alegações de tortura e outros tratamentos ou punições cruéis, desumanos ou degradantes contra palestinos detidos desde que iniciaram os confrontos há 10 meses.
* Relatores Especiais atuam em sua capacidade individual, não são funcionários da ONU e não recebem salário.