O alto comissário da ONU para os direitos humanos, o austríaco Volker Türk, disse nesta terça-feira (18) que o número de civis mortos em conflitos ao redor do mundo cresceu 72% em 2023, de acordo com dados das Nações Unidas.
Foram 33 mil vítimas civis de guerras e outros conflitos no ano passado, detalha um relatório do órgão concluído em maio. Mas a ONU alerta que o número provavelmente é muito maior, o que mostra “uma alarmante falta de respeito pelo direito humanitário internacional“.
O relatório aponta três conflitos que puxaram o aumento: a guerra atual entre Israel e o Hamas, cujo estopim foi o ataque terrorista de 7 de outubro, a Guerra da Ucrânia e a guerra civil no Sudão, que começou em abril de 2023.
O conflito na Faixa de Gaza é o que mais impacta o cenário delineado pela ONU. Cerca de 21 mil pessoas foram mortas no território palestino depois de bombardeios israelenses nos primeiros três meses do conflito, de outubro a dezembro. Hoje, são mais de 37 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
A ONU diz ainda que a guerra em Gaza é “uma guerra contra crianças” e que milhares foram mortas e feridas.
A guerra civil no Sudão, que já dura mais de um ano, começou depois que facções rivais das Forças Armadas do país entraram em confronto após darem um golpe de Estado em 2021. As Nações Unidas dizem que o risco de genocídio “aumenta a cada dia” no conflito e que pessoas são perseguidas por sua etnia. Mais de 12 mil civis foram mortos no conflito em 2023.
A invasão russa da Ucrânia continua a vitimar a população civil ao longo da linha de frente do conflito, e houve um aumento de 16% no número de pessoas mortas por minas terrestres, de acordo com o documento.
Ao apresentar o relatório na abertura da 56ª sessão do Conselho de Direitos Humanos do órgão, em Genebra, Türk disse que “é doloroso ter que começar pela crueldade da guerra. Em março [na última reunião], falei sobre o direito à paz. Desde então, os conflitos se intensificaram”. O comissário fez um apelo à comunidade internacional para que “encontre o caminho para a paz”.
Segundo Türk, a proporção de mulheres mortas no ano passado por conta de guerras dobrou e a de crianças triplicou em comparação com 2022.
De acordo com o comissário, a proliferação dos conflitos representa uma carga cada vez maior para as organizações humanitárias, que dependem dos países doadores —a diferença entre o financiamento necessário para lidar com crises humanitárias e os recursos disponíveis hoje é de mais de US$ 40 bilhões, disse Türk.
Outras crises em lugares como a República Democrática do Congo, o Mali, a Nigéria e Mianmar também contribuíram para o aumento no número de civis mortos