A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, deve instalar 208 unidades habitacionais emergenciais no Rio Grande do Sul para apoiar os afetados pelas inundações no estado.
Falando à ONU News nesta sexta-feira, de Brasília, o responsável de comunicação da agência, Miguel Pachioni, revelou que uma parte já está nas áreas afetadas e o restante deve chegar entre este sábado e a próxima semana.
Habitação para refugiados
“Até o presente momento, nossos depósitos de instalações em Roraima, mais especificamente em Boa Vista, o nosso galpão já liberou o envio de oito unidades emergenciais de habitação que já estão no terreno de Rio Grande do Sul. Chegaram ao longo dessa semana. Outras 100 unidades foram enviadas e a previsão de chegada para amanhã. Foram enviadas do nosso depósito da Colômbia. Outras 100, também da Colômbia, serão enviadas na próxima semana. São 208 unidades emergenciais de habitação, que serão instaladas de acordo com as demandas do governo federal, alinhada com a demanda do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, para atender a população afetada pelas enchentes.”
O representante do Acnur ressalta que as estruturas são uma solução temporária, com uma duração média prevista de cinco anos. Pachioni explica que essas estruturas visam aliviar a sobrecarga dos abrigos improvisados e melhorar a qualidade do alojamento para a população afetada pelas enchentes.
Outros itens como galões, mochilas, fraldas para adultos, lonas, lâmpadas solares, mosquiteiros e kits sanitários e de higiene estão a caminho do Rio Grande do Sul. Mais itens estão sendo despachados dos estoques da agência na Colômbia e no Panamá.
O Acnur e a Organização Internacional para as Migrações, OIM, estão visitando os abrigos para fazer um levantamento dos refugiados, dos que precisam de proteção internacional e dos migrantes para avaliar suas necessidades e apoiar os casos mais urgentes.
Os entrevistados expressaram preocupação com seu futuro, especialmente com o local para onde voltarão e quando. O Acnur e seus parceiros estão priorizando a reemissão de documentos perdidos.
As organizações lideradas por refugiados no Rio Grande do Sul estão coletando e distribuindo doações e trabalhando como voluntárias em abrigos de emergência. De acordo com dados do governo, o estado do Rio Grande do Sul abriga mais de 21 mil venezuelanos que foram realocados do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela, desde abril de 2018.
2 milhões de pessoas atingidas
Segundo a agência, mais de 2 milhões de pessoas foram atingidas pelas tempestades no Sul do Brasil, incluindo 43 mil refugiados e outras pessoas que precisam de proteção internacional, principalmente venezuelanos, haitianos e cubanos.
As enchentes são o maior desastre relacionado ao clima no sul do Brasil e causaram 163 mortes e desabrigaram 580 mil pessoas. Mais de 65 mil ainda estão em centros de acomodação temporária.
Segundo o Acnur, 93% das cidades e vilas do Rio Grande do Sul foram afetadas. Estima-se que sejam necessários US$ 3,21 milhões para apoiar a resposta do Acnur, incluindo assistência financeira aos indivíduos afetados e itens essenciais de socorro.
Uma equipe especializada em gestão de abrigos, documentação e prevenção da violência de gênero foi mobilizada para as áreas do desastre e está coordenando o recebimento dos itens de socorro enviados pelo Acnur.
A equipe também está fornecendo assistência técnica para melhorar o funcionamento dos abrigos, especialmente em Porto Alegre, a capital do estado.
Mudança climática
Mesmo com a redução das chuvas e a queda no nível dos rios, a situação no Rio Grande do Sul é muito preocupante. A previsão do tempo para os próximos dias indica chuvas e ventos fortes, tempestades elétricas e possível queda de granizo em partes do território. Há previsão de um ciclone na região, que deve causar chuvas com ventos constantes na costa do Rio Grande do Sul.
Os eventos climáticos extremos no Brasil têm sido mais frequentes e devastadores nos últimos anos, incluindo secas na região amazônica e chuvas severas nos estados da Bahia e do Acre, aos quais o Acnur tem respondido.
O Acnur alerta que o financiamento para lidar com os impactos da mudança climática é insuficiente para atender às necessidades dos deslocados à força e das comunidades que os acolhem.
Na avaliação da agência, sem ajuda para se preparar e resistir a esses impactos, para incluí-los nos planos nacionais de adaptação e para se recuperar de choques relacionados ao clima, eles correm o risco de serem deslocados. Ainda é necessária mais ajuda para fornecer socorro vital às famílias que perderam tudo.
Em abril de 2024, o Acnur lançou seu primeiro Fundo de Resiliência Climática para aumentar a resiliência dos refugiados, das comunidades deslocadas e de seus anfitriões à crescente intensidade dos eventos climáticos extremos relacionados às mudanças climáticas.
Outras partes do mundo afetadas por inundações
No Afeganistão, inundações repentinas e chuvas fortes, que começaram em 10 de maio, causaram grandes danos e perda de vidas no norte, nordeste e oeste. Milhares de casas e hectares de terras agrícolas foram danificados ou destruídos, e mais de 300 pessoas morreram.
O Acnur tem respondido com outras agências, avaliando as necessidades e distribuindo tendas de emergência, itens não alimentícios e kits de roupas. Com seus parceiros, a agência também está monitorando as preocupações com a proteção, incluindo os casos relatados de separação de famílias, e está oferecendo apoio psicológico.
A situação no leste da África também continua preocupante. No Quênia, mais chuvas fortes nesta semana inundaram partes do campo de Kakuma, afetando abrigos e instalações públicas, incluindo clínicas de saúde e escolas. O Acnur e seus parceiros estão distribuindo itens de socorro, ajudando a evacuar os mais afetados para áreas seguras e reabilitando abrigos danificados.
Em Burundi, a agência, com o governo e parceiros, está ajudando os mais afetados por meio de realocações em locais temporários, fornecimento de água potável, assistência em dinheiro para necessidades urgentes e distribuição de materiais escolares para crianças.
No Sudão do Sul, no Sudão e na Somália, há previsão de mais chuvas, e os rios continuarão a transbordar nas próximas semanas. Muitos refugiados e pessoas deslocadas estão hospedados em locais que podem ser severamente afetados.