Após reunião fechada no Conselho de Segurança nesta terça-feira, a coordenadora sênior Humanitária e de Reconstrução para Gaza, Sigrid Kaag, comentou as quatro áreas prioritárias de atuação que apresentou aos membros do órgão.
A primeira diz respeito a rotas de abastecimento e acesso ao enclave, a segunda trata da distribuição de ajuda dentro de Gaza, a terceira da garantia de um ambiente que favoreça a entrega de auxílio e a quarta o estabelecimento de um mecanismo de verificação da ONU, conforme definido pela Resolução 2720 de 2023.
Removendo obstáculos e restrições
Em conversa com jornalistas na sede da ONU em Nova Iorque, a coordenadora sênior explicou que o novo mecanismo terá como foco melhorar o “volume, qualidade, velocidade e continuidade da entrega de bens humanitários e comerciais”.
Ela afirmou que existem oportunidades “de fazer mais por via terrestre a partir da Jordânia” e disse que autoridades israelenses e jordanianas estão tendo “discussões construtivas” em torno da proposta.
A especialista também defendeu o aumento de pontos de passagem de ajuda entre Israel e Gaza e disse que é preciso superar a “divergência de pontos de vista sobre o que é permitido entrar ou quais seriam os motivos de rejeição” por autoridades israelenses.
Sigrid Kaag afirmou que quer “tentar remover o maior número possível de obstáculos ou restrições que puder”.
Ela enfatizou que os bens comerciais têm de ser autorizados a regressar, afirmando que “não haverá recuperação e muito menos reconstrução no futuro” sem esta ampliação, pois os suprimentos humanitários não são suficientes.
“Não há substituição” para a Unrwa
Ao ser questionada sobre a recente perda de financiamento por parte da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, após alegações sob investigação de envolvimento de funcionários em ataques do Hamas, ela disse que o enfraquecimento da agência representa um risco operacional com impacto direto na vida das pessoas.
A coordenadora sênior abordou a necessidade de reconhecer o “papel central” que a Unrwa desempenha na prestação de ajuda humanitária e serviços de apoio à população civil, afirmando que “não há substituição” para o trabalho da agência.
Ela destacou a enorme estrutura e capacidade da Unrwa e o seu conhecimento sobre a população de Gaza.
Reunião encorajadora
A Resolução 2720 estabelece a meta de agilizar, facilitar e acelerar a assistência humanitária para a população civil em Gaza e pede a criação de um mecanismo da ONU para verificar e monitorar as remessas de ajuda.
A coordenadora sênior explicou que o mecanismo vai ser implementado por fases, mas a ausência de um cessar-fogo limita a margem de manobra. Por ora, o foco está em estabelecer uma base de dados que ajude na definição de prioridades.
Após esta que foi sua primeira reunião com o órgão de Paz e Segurança da ONU desde que assumiu o cargo em 8 de janeiro, Sigrid Kaag afirmou que se sentiu encorajada pelas “reiteradas e claras vozes de apoio de todos os membros do Conselho” em relação ao mandato sob sua responsabilidade.
Segundo ela, o indicador que mais importa para sua atuação é o de atender as necessidades da população em Gaza. A representante da ONU disse que sua “sincera intenção” é ficar baseada e trabalhar de Gaza, assim que as condições permitirem.
Após a sessão desta terça-feira, a vice-chefe da missão da França na ONU, Nathalie Broadhurst, falou em nome do Conselho de Segurança, destacando o apoio contínuo à ONU em Gaza e à implementação das Resoluções para abordar a crise no enclave.
A França está atualmente na presidência rotativa do Conselho de Segurança em janeiro.