A insegurança alimentar e a desnutrição atingem novos patamares no oeste e centro da África, enquanto os fundos para lidar com as necessidades diminuem. Segundo o Programa Mundial de Alimentos, PMA, cerca de 49,5 milhões de pessoas devem passar fome entre junho e agosto de 2024.
O aumento da fome em 4% em relação a 2023 pode ser impulsionado por fatores como conflitos, crise climática e alta dos preços de alimentos e combustíveis. No Sahel, níveis críticos de desnutrição infantil foram vistos em várias nações.
Dietas saudáveis
O PMA alerta que a tendência é particularmente preocupante nos países costeiros. A alta de pessoas enfrentando fome aguda poderá alcançar 6,2 milhões de junho a agosto de 2024, 16% a mais em relação ao ano anterior.
A análise de novembro de 2023 projeta uma produção de cereais e tubérculos na região. O total estará ligeiramente acima dos níveis do ano passado e da média de cinco anos devido às chuvas melhores neste ano.
Os preços dos principais alimentos permanecem bem acima da média dos últimos cinco anos, especialmente arroz, milho, painço, sorgo, mandioca e óleo vegetal, apesar de declínios sazonais nos custos de commodities locais em comparação ao ano passado.
De acordo com o PMA, a situação nutricional permanece preocupante, especialmente em partes do Mali, noroeste da Nigéria e Burquina Faso. Isso se deve a sistemas alimentares frágeis que não atendem às necessidades nutricionais específicas de mulheres e crianças; acesso limitado a serviços sociais básicos; e práticas deficientes de cuidado e higiene.
Falta de financiamento
Mais de dois em cada três lares no oeste e centro da África não podem pagar por dietas saudáveis. Além disso, oito em cada 10 crianças com idades entre seis e 23 meses não consomem o número mínimo de grupos alimentares necessários para um crescimento e desenvolvimento ideais.
No período até outubro passado, 1,9 milhão de crianças menores de cinco anos foram admitidas para tratamento de desnutrição aguda em nove países do Sahel. O total representa um aumento de 20% em comparação com o mesmo período em 2022.
O custo de uma dieta diária nutritiva no Sahel central, em países como Burquina Faso, Mali e Níger, é 110% maior que o salário-mínimo diário da região. Cada vez mais lares dependem de mercados locais para obter alimentos, mesmo em áreas rurais, de acordo com o Relatório de Segurança Alimentar e Nutrição de 2023.
O custo de uma dieta saudável na África é tão alto quanto nos Estados Unidos, apesar do Produto Interno Bruto, PIB norte-americano ser mais de 35 vezes maior que o da região africana.
Para enfrentar a insegurança alimentar e desnutrição, as agências da ONU atuando na África pedem aos governos nacionais e parceiros financeiros que priorizem programas que fortaleçam os sistemas alimentares e meios de subsistência resilientes ao clima.
Outras recomendações são investir em sistemas de proteção social e melhorar a gestão de recursos naturais, incluindo a água, como acelerador de resiliência e desenvolvimento.
A análise do PMA também mostrou que cerca de 94 milhões de pessoas no oeste e Centro da África virem sob “estresse” alimentar entre outubro e dezembro de 2023. Sem apoio, essas comunidades correm o risco de passar para os níveis de “crise” e “emergência” de fome no futuro.