Um primeiro caso de cólera foi detectado no norte do Líbano, aumentando os temores de que os deslocados pelo bombardeio israelense possam estar em risco de contrair a doença, que pode se tornar fatal.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus, disse que um plano de resposta foi ativado para fortalecer a vigilância, o rastreamento de contatos e a coleta de amostras de água.
Baixa imunidade à cólera
A identificação do vírus altamente infeccioso foi confirmada em Akkar, a província mais ao norte do país. Falando em Genebra na quarta-feira à noite, Tedros sublinhou que as autoridades de saúde libanesas lançaram uma campanha de vacinação oral em agosto, visando 350 mil pessoas.
No entanto, ele afirmou que esta campanha foi “interrompida pela escalada do confronto” entre o Hezbollah e os militares israelenses, marcada pela intensificação dos ataques de Israel no mês passado, em meio aos contínuos lançamentos de foguetes do Hezbollah contra as comunidades israelenses.
O representante interino da OMS no Líbano, Abdinasir Abubakar, expressou preocupação com o fato de que muitos dos que fugiram da violência no sul do país não têm proteção contra a cólera, que se prolifera em condições precárias de água e saneamento.
O especialista afirmou que a doença pode se espalhar muito rápido, “porque algumas dessas comunidades do sul e de Beirute não têm imunidade à cólera”. Ele classificou o risco de propagação como “muito alto”.
Bombardeios fatais
Ataques aéreos intensos foram relatados no leste do Líbano durante a noite, na sequência da destruição de um prédio do governo na cidade de Nabatieh, na quarta-feira, que matou 16 pessoas, incluindo o prefeito.
Tedros disse que a OMS já distribuiu suprimentos médicos para hospitais para tratar vítimas do bombardeio. A agência também está trabalhando com a Cruz Vermelha Libanesa para equipar bancos de sangue com suprimentos para doação segura.
O chefe da agência de saúde da ONU disse que outra medida em curso é o treinamento de cirurgiões para salvar vidas. Ele ressaltou que “a solução para esse sofrimento não é ajuda, mas paz.”
As autoridades libanesas relataram que cerca de 2,2 mil pessoas foram mortas no país desde outubro passado, com intensificação das trocas de tiros entre o Hezbollah e os militares israelenses após o início da guerra em Gaza.
Ataques à serviços de saúde
De acordo com dados de monitoramento da OMS, desde que a escalada da violência começou há um mês, houve 23 ataques verificados a serviços de saúde que resultaram em 72 mortes e 43 feridos entre profissionais de saúde e pacientes.
Tedros acrescentou que quase metade de todos os centros de saúde primários em áreas afetadas por conflitos fecharam e 11 hospitais foram total ou parcialmente evacuados.
Segundo ele “um número crescente de unidades de saúde está tendo que fechar, particularmente no sul, devido a bombardeios intensos e insegurança”.
O diretor da OMS afirmou que “os hospitais já estão sob enorme pressão, pois lidam com um fluxo sem precedentes de feridos, enquanto tentam sustentar serviços essenciais”.