O surpreendente aumento nas infecções por dengue em todo o mundo em 2023 representa uma ameaça potencialmente elevada à saúde pública, disse a Organização Mundial da Saúde, OMS, nesta sexta-feira.
A agência relatou mais de 5 milhões de infecções por dengue e 5 mil mortes este ano em todo o mundo, sendo quase 80% nas Américas, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental.
Aumento de infecções pelo aquecimento global
Em conversa com jornalistas em Genebra, a líder da equipe da OMS sobre arbovírus, Diana Rojas Alvarez, disse que a ameaça exige “a máxima atenção e resposta em todos os níveis”.
Segundo Alvarez, “as mudanças climáticas têm impacto na transmissão da dengue porque aumentam as chuvas, a umidade e a temperatura”. Perante o alerta, a OMS declarou estar pronta para apoiar os países no controle dos atuais surtos de dengue e na preparação para a próxima temporada de casos.
A dengue é a mais comum das infecções virais transmitidas por mosquitos infectados. Ela é encontrada principalmente em áreas urbanas em locais com climas tropicais e subtropicais.
O aumento do número de casos notificados de dengue em mais países ocorre pois os mosquitos infectados prosperarem agora em novos locais devido ao aquecimento global.
Sinais de alerta
Embora 4 bilhões de pessoas estejam em risco de contrair dengue, a maioria dos infectados não apresenta sintomas e normalmente se recupera dentro de uma a duas semanas.
No entanto, as infecções graves por dengue são marcadas por choque, sangramento grave ou comprometimento de órgãos, segundo a OMS.
A especialista da OMS também destacou que estes sintomas perigosos muitas vezes começam “depois que a febre passa”, pegando profissionais de saúde desprevenidos.
Os sinais de alerta a serem observados incluem dor abdominal intensa, vômitos persistentes, sangramento nas gengivas, acúmulo de líquidos, letargia, inquietação e aumento do fígado.
Como não existe tratamento específico para a dengue, a detecção precoce e o acesso a cuidados médicos adequados são cruciais para diminuir a probabilidade de morte devido à forma grave da doença.
Casos e surtos em países antes livres da doença
Diana Rojas Alvarez acrescentou que “é também preocupante que surtos de dengue estejam ocorrendo em países frágeis e afetados por conflitos na região do Mediterrâneo Oriental, como Afeganistão, Paquistão, Sudão, Somália e Iêmen”.
A prevalência global de mosquitos mudou nos últimos anos devido ao fenômeno El Niño de 2023, que acentuou os efeitos do aquecimento global das temperaturas e das alterações climáticas, disse a OMS.
Ambos os fatores estão associados ao fato de países anteriormente livres de dengue, como França, Itália e Espanha, reportarem casos de infecções originadas no país, a chamada transmissão autóctone, e não no estrangeiro.
O vetor da doença é o mosquito Aedes aegypti, que está amplamente distribuído na Europa.
Diana Rojas Alvarez lembrou que normalmente, a Europa relata “casos importados” das regiões endémicas”, mas este ano foram identificados conjuntos de casos relacionados com transmissão local, inclusive porque “os verões estão cada vez mais quentes”.