Se você é um aficionado do futebol mundial, e o acompanha há pelo menos 15 anos, sabe muito bem quem é Andrés Iniesta.
Se você não é, ou suas memórias esportivas são curtas, saberá agora: Andrés Iniesta é o autor do gol do título da Espanha na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.
Aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação no estádio FNB, em Joanesburgo, o camisa 6 recebeu passe de Fàbregas na grande área, dominou, deixou a bola pingar uma vez e, antes da chegada da marcação de Van der Vaart, chutou forte para superar o goleiro Stekelenburg.
1 a 0, resultado final, e Iniesta, craque do Barcelona, tornava-se o maior herói de seu país no primeiro título mundial da Fúria, ou da Roja, como muitos preferem chamar a seleção espanhola.
Não haveria momento de maior glória na carreira do habilidoso e criativo meia, bem mais armador que artilheiro, que continuou a jogar pela seleção (inclusive nas Copas do Brasil e da Rússia) e pelo Barcelona (erguendo uma série de troféus) até 2018.
Nem haverá.
Já meio veterano, Iniesta decidiu deixar o clube em que é um dos maiores ídolos e se aventurar em outro continente. Partiu para a Ásia.
Rebaixava seu status profissional pela primeira vez, já que o nível do jogo na Espanha é consideravelmente superior ao praticado no Japão.
Tinha como principal missão levar o Vissel Kobe, equipe fundada em 1966, ao seu primeiro título da J League, o campeonato nacional.
Mesmo tendo boas atuações, fracassou em 2018, e em 2019, e em 2020, e em 2021, e em 2022. Nesse período, os títulos que vieram foram os da Copa do Imperador (2019) e da Supercopa do Japão (2020).
Ironia do destino, no fim de 2023, poucos meses após a saída de Iniesta, o Vissel Kobe ganhou a J League.
Ao trocar o clube japonês pelo Emirates, dos Emirados Árabes Unidos, na metade do ano passado, tendo atuado só quatro vezes na J League-2023, o espanhol rebaixava seu status profissional pela segunda vez.
Ganharia mais dinheiro, estaria em novos ares (mais quentes e secos), mas a liga japonesa é superior tecnicamente à emiradense.
No Oriente Médio, Iniesta viveu a pior temporada de sua longa carreira de mais de 20 anos.
O recém-promovido Emirates, da cidade de Ras al-Khaimah, não foi páreo ante os adversários, perdeu 16 de 25 partidas (ainda falta) jogar uma) e voltará à segunda divisão.
Rebaixado ao ir para o Japão, rebaixado ao ir para os Emirados, Iniesta, que fez cinco gols e deu uma assistência nos 20 jogos de que participou no Emiradão 2023/2024, viu-se pela primeira vez na vida rebaixado em um campeonato.
Pode-se concluir que tudo isso decorre de escolhas que se mostraram, no decorrer do tempo, malfeitas. E denota-se que, fazendo a adaptação a um conhecido provérbio, “um craque só não faz verão”.
No Barcelona, Iniesta esteve sempre rodeado de excelentes jogadores (Messi, Xavi, Piqué, Busquets, David Villa, Daniel Alves e outros), foi treinado pelo magistral Pep Guardiola. Jogou clássicos memoráveis contra os “galácticos” do Real Madrid. No Japão e nos Emirados, dezenas de “zés-ninguém” ao seu redor.
Iniesta poderia ter esticado a carreira na Catalunha, faturado mais algumas taças, caminhado para uma aposentadoria sem seguidos reveses e seguidas frustrações.
Ocorreu de forma diferente, e é meio deprimente perceber que um protagonista de final de Copa do Mundo pode encerrar a carreira tão por baixo. Seu contrato com o Emirates termina no fim deste mês, e há a opção de renovação por mais uma temporada.
Será que Iniesta disputará a Segundona do Emiradão antes de pendurar as chuteiras? Seria uma experiência nova, mesmo que esportivamente pobre.
Fisicamente, com 40 anos completados há menos de um mês, ele evidentemente está debilitado na comparação com anos anteriores. Tecnicamente e taticamente, contudo, continua capacitado.
Poderia o Barcelona, o clube que o buscou aos 12 anos, em 1996, nas categorias de base do Albacete, para transformá-lo em craque, resgatá-lo.
Propor-lhe um contrato curto, de um ano. Financeiramente, sem grandes despesas para o time, sem grandes ganhos para o jogador.
O carequinha Iniesta, do alto do seu 1,71 m, jogaria algumas partidas, faria algumas ótimas jogadas, ganharia alguns muitos aplausos de fãs do Barça (e certamente também dos adversários). Voltaria a receber holofotes em um grande clube e em um grande centro do futebol.
Teria um final digno no futebol. Um final que um herói de final de Copa do Mundo merece.