Donald Trump e seus aliados mais próximos estão preparando uma reformulação radical do governo americano, caso ele conquiste novamente a Casa Branca.
Aqui estão alguns de seus planos, que envolvem ampliar a repressão contra imigrantes, direcionar o Departamento de Justiça para processar adversários, aumentar os poderes do presidente, subverter as políticas comerciais dos EUA e recuar do engajamento militar americano na Europa, além de empregar de forma unilateral tropas em cidades governadas pelo Partido Democrata.
Repressão extrema contra a imigração ilegal
Caso retorne ao poder, Trump planeja uma expansão massiva da política de repressão contra a imigração ilegal adotada no seu primeiro mandato. Entre outras coisas, ele promoveria:
- Deportações massivas. O principal conselheiro para imigração de Trump, Stephen Miller, disse que uma segunda administração do republicano buscaria aumentar o volume de deportações em dez vezes —o que representaria mais de 1 milhão por ano.
- Aumento no número de agentes para operações de polícia de imigração. Trump planeja direcionar agentes federais e a Guarda Nacional para atuar no controle migratório. Ele também permitiria o uso de tropas federais para a apreensão de imigrantes.
- Construção de campos para a detenção de imigrantes. A equipe de Trump planeja usar recursos militares para construir “grandes instalações de detenção” para imigrantes para o período em que os casos de deportação são analisados.
- Pressão contra outros países para receberem potenciais solicitantes de asilo nos EUA. Trump planeja reativar os chamados acordos de “terceiro país seguro” com nações da América Central e expandi-los para a África e outros locais. O objetivo é enviar pessoas que buscam asilo nos EUA para outros países.
- Nova proibição de entrada nos EUA de pessoas de determinadas nações de maioria muçulmana. Trump planeja suspender o programa de refúgio e novamente proibir visitas da maioria de países muçulmanos, reestabelecendo a versão do veto revogado por Joe Biden em 2021.
- Alteração em direitos de cidadania. Uma administração Trump declararia que crianças nascidas de pais imigrantes sem documentos não têm direito a cidadania e deixaria de emitir para elas documentos como cartões de Seguridade Social e passaportes.
Uso do Departamento de Justiça para processar adversários
Trump declarou que ele usaria os poderes da Presidência para buscar vingança contra aqueles que ele vê como inimigos. Seus aliados desenvolveram uma justificativa jurídica para acabar com a independência do Departamento de Justiça em relação ao presidente. Trump sugeriu que ele:
- Direcionaria investigações criminais contra Biden e sua família. Como presidente, Trump pressionou o Departamento de Justiça a investigar seus adversários. Se reeleito, ele prometeu nomear um promotor especial para “ir atrás” de Biden e sua família.
- Buscaria acusações formais contra inimigos que o desafiam politicamente. Trump citou o precedente dos seus próprios processos para declarar que, se virar presidente de novo e alguém o desafiar politicamente, ele poderia dizer: “vá lá e os denuncie”.
- Miraria em jornalistas com processos. Kash Patel, uma confidente de Trump, ameaçou jornalistas com ações legais se o republicano retornar ao poder. A campanha depois distanciou Trump desses comentários.
Expansão dos poderes do presidente
Trump e seus aliados têm como objetivo alterar o equilíbrio de poderes por meio da expansão da autoridade presidencial sobre toda e qualquer parte do governo federal que atualmente opera de forma independente da Casa Branca. Trump disse que ele planeja:
- Colocar agências independentes sob o controle do presidente. O Congresso estabeleceu que várias agências regulatórias devem operar de forma independente da Casa Branca. Trump prometeu colocá-las sob controle do presidente, o que deve gerar uma disputa judicial.
- Retomar a prática conhecida como “apreensão de fundos”. Ele prometeu voltar a um sistema pelo qual o presidente tem o poder de se recusar a gastar recursos que o Congresso destinou para programas que o presidente não gosta.
- Reduzir proteções de emprego para dezenas de milhares de servidores públicos. Durante a Presidência de Trump, ele adotou uma ordem executiva que tornou mais fácil a demissão de servidores de carreira e a substituição desses quadros por funcionários leais. Biden revogou essa ordem, mas Trump disse que a republicaria em um segundo mandato.
- Expurgar servidores de agências de inteligência, de segurança, do Departamento de Estado e do Pentágono. Trump menosprezou servidores de carreira em agências que atuam na segurança nacional e na política externa e os retratou como um membros de um “deep state” (Estado profundo) maligno que ele quer destruir.
- Indicar advogados que legitimariam sua agenda. Advogados indicados politicamente na primeira administração Trump algumas vezes levantaram objeções a propostas da Casa Branca. Vários dos conselheiros mais próximos de Trump estão agora selecionando advogados vistos como mais prováveis a abraçar teorias jurídicas agressivas sobre o alcance do poder presidencial.
Expandir de forma agressiva seus esforços para subverter a política comercial dos EUA
Trump planeja expandir de forma acentuada o uso de tarifas num esforço de afastar os EUA da integração com a economia global, ao mesmo tempo em que quer aumentar empregos e salários americanos ligados à indústria. Ele disse que vai:
- Estabelecer uma “tarifa básica universal”, um novo imposto sobre a maioria dos produtos importados. Trump disse que planeja impor uma tarifa sobre a maioria dos produtos manufaturados no exterior, tendo aventado que esse imposto de importação pode ser de 10%. Além de aumentar preços para os consumidores, essa política ameaça criar uma guerra comercial de escala global.
- Implementar novas restrições comerciais contra a China para afastar as duas maiores economias do globo. Trump disse que vai “eliminar gradativamente todas as importações chinesas” de eletrônicos e outros produtos essenciais, além de impor novas regras para impedir que empresas americanas realizem investimentos na China.
Trump há tempos deixou claro que vê a Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA, não como uma força multiplicadora mas como um dreno de recursos americanos por aproveitadores. Ele disse que vai:
- Reduzir potencialmente os recursos da Otan ou retirar os EUA da aliança. Quando foi presidente, ele ameaçou retirar os EUA da Otan. No site da sua campanha, Trump diz que planeja reavaliar de forma fundamental o propósito da aliança, o que aumenta a apreensão de que ele poderia enfraquecer ou acabar com ela.
- Resolver a Guerra da Ucrânia “em 24 horas”. Ele afirmou que terminaria com o conflito no Leste Europeu em um dia. Não detalhou como faria isso, mas sugeriu que teria feito um acordo para impedir o início da guerra ao deixar a Rússia simplesmente se apropriar de território ucraniano.
Usar força militar no México e em solo americano
Trump foi mais claro sobre seu plano de usar força militar americana em território mais próximo aos EUA. Ele disse que:
- Declararia guerra contra cartéis de droga no México. Trump divulgou um plano para combater os cartéis de droga mexicanos com o uso de força militar. Caso os EUA usem suas Forças Armadas em território mexicano sem autorização, isso violaria a lei internacional.
- Usaria tropas federais na fronteira. Apesar de em termos gerais ser ilegal usar militares para aplicação da lei no território americano, há exceção com base na Lei da Insurreição. A equipe de Trump recorreria a essa lei para usar soldados como agentes de imigração.
- Usaria tropas federais em cidades governadas por democratas. Trump chegou perto de empregar militares da ativa nos protestos por justiça social em 2020 que em alguns casos se converteram em distúrbios —e permanece atraído pela ideia. Ele disse que, numa próxima vez, enviaria forças federais para estabelecer a ordem em cidades governadas por democratas.