O que o mundo pensa da disputa entre Kamala e Trump – 22/10/2024 – Mundo – EERBONUS
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O que o mundo pensa da disputa entre Kamala e Trump – 22/10/2024 – Mundo

Sentado na Europa, é fácil acreditar que o mundo inteiro está desejando Kamala Harris. Não é bem assim. Muitos governos poderosos querem que Donald Trump vença a eleição presidencial dos EUA.

O campo pró-Trump inclui Israel, Rússia, Índia, Hungria, Argentina e Arábia Saudita. No campo pró-Kamala estão Ucrânia, a maior parte da União Europeia, Reino Unido, Japão, Canadá, Brasil, África do Sul e muitos outros.

O interesse da Rússia em uma vitória de Trump é óbvio. A perspectiva de que os EUA liderados por Trump cortem a ajuda à Ucrânia daria a Vladimir Putin a vitória que até agora lhe foi negada no campo de batalha. O comentário sorridente do líder russo de que preferiria que Kamala vencesse simplesmente demonstra que ele domina a arte da trollagem.

O sonho de Putin é o pesadelo da UE. Se a Ucrânia for derrotada, o lado oriental da UE e da Otan ficará exposto à possível agressão russa. Mesmo que Trump não retire de fato os EUA da Otan (como alguns ex-assessores disseram que ele poderia fazer), ele poderia prejudicar gravemente a aliança ao repetir sua sugestão de que os EUA não defenderão automaticamente seus aliados da Otan.

A promessa de Trump de impor tarifas de 10% a 20% sobre todas as importações também é uma grande ameaça para a economia europeia e, em especial, para os grandes países exportadores, como a Alemanha. Isso poderia desencadear uma guerra comercial com a UE.

Entretanto, há governos na Europa que rompem com o consenso pró-Kamala. Giorgia Meloni, da Itália, tem raízes políticas na extrema direita e pode se sentir bem posicionada para fazer a mediação entre Trump e a UE. Viktor Orbán, da Hungria, construiu um relacionamento especial com a extrema direita nos Estados Unidos. Eles compartilham sua aversão à imigração e parecem interessados em aprender com seu sucesso em minar as instituições democráticas da Hungria.

Orbán veria uma vitória de Trump como um sinal de que os ventos ideológicos estão soprando em sua direção no Ocidente. Os partidos populistas e de extrema direita na Europa —como a Reunião Nacional, da França, e o Alternativa para a Alemanha (AfD)— também podem olhar para a Casa Branca de Trump em busca de orientação e apoio. Com Trump de volta ao cargo, as democracias liberais da Europa correriam o risco de serem pegas em um impasse entre EUA, Rússia e a extrema direita dentro da própria Europa.

A ênfase de Trump na política de poder e sua indiferença à democracia e aos direitos humanos preocupam a UE. Mas isso faz dele o parceiro preferido de Israel de Binyamin Netanyahu, da Arábia Saudita de Mohammed bin Salman (MbS) e da Índia de Narendra Modi.

Kamala é vista com desconfiança em Israel porque ela tem sido um pouco mais crítica em relação a Tel Aviv do que Joe Biden —e evitou comparecer ao recente discurso de Netanyahu no Congresso, afirmando que tinha um compromisso anterior. Como me disse um executivo israelense: “80% dos judeus americanos votarão em Kamala. Mas 80% dos israelenses votariam em Trump”.

O governo Biden há muito tempo abandonou a conversa de tornar o príncipe MbS um pária e, em vez disso, está trabalhando para um novo tratado de segurança entre a Arábia Saudita e os EUA, como forma de reforçar a influência americana no Oriente Médio. Mas MbS se lembrará de que os democratas lideraram o esforço para evitá-lo após o terrível assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. O líder saudita também pode ter percebido indícios de que a equipe de Kamala é mais cética quanto ao fornecimento de garantias de segurança para seu país do que os conselheiros de Biden. Por outro lado, o príncipe e seu círculo há muito tempo desfrutam de estreitos laços diplomáticos e comerciais com o grupo de Trump e, em particular, com o genro do ex-presidente, Jared Kushner.

O compromisso com um relacionamento sólido com a Índia agora é bipartidário em Washington. O governo de Modi assinou acordos importantes com o governo Biden. Mas Modi e seus seguidores veem os democratas como muito inclinados a pressioná-los em relação aos direitos das minorias e à proteção da democracia.

Na Índia, agora é comum culpar os liberais americanos interferentes pela “mudança de regime” em Bangladesh no início deste ano —que os indianos temem que leve islâmicos ao poder. Como um líder forte e etnonacionalista, Modi se sentiria mais à vontade com Trump do que com Kamala, apesar dos laços familiares dela com a Índia.

No leste da Ásia, entretanto, os aliados dos EUA têm todos os motivos para se preocupar seriamente com a perspectiva de uma Presidência de Trump. A equipe de Biden fez um bom trabalho na construção do sistema de alianças dos EUA no Indo-Pacífico, em uma tentativa de conter o poder chinês. Mas Trump deixou claro que considera os principais aliados dos EUA, como Japão e Coreia do Sul, como parasitas. Ele também deu a entender, às vezes, que tem pouco interesse em defender Taiwan.

Tudo isso deve ser música para os ouvidos da liderança chinesa, que adoraria ver Taiwan abandonada e a destruição do sistema americano de alianças na Ásia. Por outro lado, Trump também prometeu impor tarifas de até 60% sobre as importações chinesas —e os EUA continuam sendo o maior mercado de exportação da China.

Trump também está cercado por falcões anti-China, como Mike Pompeo, seu ex-secretário de Estado. Se os falcões tiverem rédea solta, a política dos EUA em relação à China poderá se tornar muito mais conflituosa.

Para muitos governos estrangeiros, a diferença crucial entre Trump e Kamala não é apenas ideológica, mas temperamental. Um governo democrata seria estável e previsível. Trump traria a selvageria e a volatilidade de volta ao Salão Oval.

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