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A praticamente um mês da eleição, o ponto alto da campanha nesta semana é o debate entre os candidatos a vice, que acontece nesta terça às 22h (horário de Brasília). De um lado, o louco dos gatos J.D. Vance e, do outro, o labrador humano Tim Walz.
Como me disse um cientista político esses tempos: “eu nunca vi alguém falar ‘não gosto do fulano para presidente, mas vou votar nele porque gosto do vice’”. Se o embate de amanhã tiver algum impacto na eleição, será o de atrapalhar Kamala Harris ou Donald Trump.
O duelo de coadjuvantes deste ano está atraindo muito mais atenção do que o que acontece normalmente. Há dois motivos para isso. Primeiro, porque deve ser o último momento cara a cara entre as duas chapas, diante da recusa de Trump de participar de um novo debate. Segundo, porque os dois oferecem entretenimento.
Tanto Vance quanto Walz são homens do Meio-Oeste, uma região mais branca, rural e duramente penalizada pelo declínio da indústria americana. Ambos foram escolhidos com o objetivo claro de atrair famílias trabalhadores e de classe média deMichigan e Wisconsin.
Mas uma coisa importante para entender essa ficha também é a fama do pessoal dessa região. Eu vou arriscar uma tradução: seria algo como o mineiro. O estereótipo é de um povo simpático, educado, sem frescura, meio caipira –mas pisa no calo para você ver. Alguém aí assiste Fargo?
TIM WALZ
Governador de Minnesota, Walz tem se apoiado pesadamente nessa imagem para dar uma amenizada na californianice de Kamala. O problema para ele no debate vai ser justamente conciliar ataques a Vance com o ar de bonachão que cultivou até agora.
A preocupação da campanha democrata é que o vice acabe parecendo agressivo demais, bobo demais, ou liberal demais.
Apesar de ser mais experiente em debates do que o adversário, Walz não se considera um bom debatedor. Relatos de pessoas próximas a ele na imprensa americana dizem que o democrata já havia sido sincero sobre isso com Kamala em sua “entrevista para vice”, e que essa insegurança só cresceu nos últimos dias.
Vance vai tentar pintar o governador como um radical de esquerda, seguindo a estratégia de colar essa imagem em Kamala. Aguarde comentários sobre a reação de Walz aos protestos após o assassinato de George Floyd pela polícia e suas políticas pró-direitos de pessoas trans.
O republicano deve ainda cutucar problemas na biografia de Walz. O democrata, por exemplo, afirmou que usou FIV (fertilização in vitro) para gerar a primeira filha, mas, depois de questionada, a campanha esclareceu que o casal usou inseminação intrauterina.
Outro ponto que deve ser abordado é seu serviço militar. No passado, Walz disse que carregou armas em guerra, mas ele nunca esteve em uma zona de combate.
Ao ser pressionado pela jornalista da CNN Dana Bash, em uma das poucas entrevistas que deu, ele se defendeu dizendo que foi mal-interpretado pelo jeito simples de falar.
J.D. VANCE
A contribuição mais notória de Vance à campanha até agora foi mexer no vespeiro das orgulhosas proprietárias de gatos (disclaimer: eu estou neste grupo). É dele o famigerado comentário de que pessoas sem filhos deveriam ter menos poder político.
Mas apesar do barulho gerado por esse tipo de comentário, o republicano tem se saído melhor do que Trump em “permanecer na mensagem”: há semanas, faça chuva ou faça sol, ele está martelando imigração e economia em comícios e entrevistas.
Vance tem pouca experiência como político propriamente –disputou apenas uma eleição até agora–, mas é uma figura frequente na televisão nacional desde que seu livro “Hillbilly Elegy” se tornou um bestseller. Sua desenvoltura midiática teria sido uma das razões para a escolha de Trump.
Um problema para ele será acabar parecendo arrogante e descolado da vida real em contraste com Walz. O democrata deve rememorar as declarações mais polêmicas de Vance, como a mentira de que imigrantes haitianos estariam comendo pets, para atacar tanto o adversário quanto Trump como lunáticos radicais.
Outros itens para este bingo são as críticas feitas pelo próprio Vance a Trump no passado, a quem comparou com uma espécie de Hitler americano, e o Projeto 2025.
Se quiser desmontar o rival, o republicano precisa dar um jeito de responder sem reforçar a visão negativa que o eleitorado já tem dele.
Segundo o agregador de pesquisas do FiveThirtyEight, 46% têm uma opinião desfavorável de Vance, enquanto 35% o enxergam favoravelmente. No caso de Walz, a situação se inverte: 40% favorável e 36% desfavorável.
Ao vivo de Nova York
Como não poderia deixar de ser, o humorístico Saturday Night Live estreou sua 50ª temporada no último sábado (28) com uma abertura sobre a eleição.
As reviravoltas durante o verão americano haviam criado um burburinho sobre a escalação –Maya Rudolph voltou ao elenco para encarnar Kamala Harris, e uma campanha foi feita para que Steve Martin interpretasse Tim Walz (sem sucesso, infelizmente).
Rudolph entregou todas as expectativas, e fez cada trejeito e entonação de Kamala praticamente à perfeição na estreia. Mas quem roubou a cena foi Dana Carvey como Joe Biden.
“Pessoal, muitos esqueceram que eu sou presidente, inclusive eu”, começa ele. “Mas adivinhem só. E por falar nisso. O fato da questão é…”, emenda Carvey (talvez eu só ache isso engraçado por ter visto uma quantidade exorbitante de discursos de Biden no último ano. Mas é exatamente assim).
Completam o campo democrata Andy Samberg como Doug Emhoff (“alguém que me deu uma filha muito Brooklyn”, diz Rudolph) e Jim Gaffigan como Walz.
Do lado republicano, James Austin Johnson segue interpretando Donald Trump (Alec Baldwin anda vivendo tempos turbulentos) e Bowen Yang foi escalado para interpretar Vance.
“Esta tarde, ele [Trump] me falou: J.D., você é como um filho para mim porque eu não gosto de você, e estou preso com você”, diz Yang após Jonhson sair de cena –levando um vidro à prova de balas junto.
O esquete está disponível aqui no YouTube ou, se não estiver disponível, no Instagram do programa: @nbcsnl.
Rápidas
NOT GUILTY. Ryan Wesley Routh, o homem acusado de tentar matar Trump em seu campo de golfe na Flórida em 15 de setembro, declarou-se inocente.
3ª VIA. Após sair da corrida e apoiar Trump, Robert F. Kennedy Jr. conseguiu tirar seu nome da cédula de 4 dos 7 estados-chave (Arizona, Carolina do Norte, Geórgia e Nevada), mas a situação nos 3 restantes é incerta.
BAIXO NÍVEL. Trump falou usou o termo “deficiente mental” para se referir a Kamala em um comício no final de semana. Até colegas de partido do empresário têm criticado o ataque.
BRIGANDO POR HOMENS. Kamala foi brigar com Trump no campo dos podcasts para brigar pelo voto masculino. A vice-presidente deu uma entrevista ao “All the Smoke”, dos ex-jogadores de basquete Matt Barnes e Stephen Jackson.
FURACÃO. Carolina do Norte e Geórgia, dois estados-chave, estão entre os mais afetados pelo furacão Helene. Trump já foi para uma área afetada hoje, dizendo levar mantimentos. A campanha de Kamala disse que ela vai assim que sua presença não atrapalhar os esforços de resgate.