Há milhares de anos, os cientistas antigos acreditavam que a Terra estava em uma região especial do universo, talvez até fosse o centro de tudo. Atualmente, a ciência sabe que não estamos em nenhum lugar tão especial e, que o planeta, a vida e tudo o que conhecemos foram formados a partir de diversas coincidências e acasos. Mas a hipótese da Terra Rara sugere que o corpo celeste seja mais incomum do que parece.
O físico italiano Enrico Fermi questionou onde estão todos os alienígenas, pois, se planetas como a Terra não são tão especiais e o universo é tão amplo, teoricamente, deveriam existir extraterrestres. A resposta para essa questão talvez esteja na hipótese da Terra Rara, uma ideia que sugere que um corpo celeste com características da Terra é algo muito mais difícil de encontrar do que podemos imaginar.
Até o momento, nenhuma missão científica encontrou qualquer evidência concreta de vida extraterrestre em outros planetas e exoplanetas, seja de vida molecular ou de seres semelhantes a nós. Aparentemente, tudo está muito quieto no cosmos, e só há uma região com festas noturnas, aviões e brigas por todos os lados: a Terra.
Em meados dos anos 2000, o paleontólogo Peter Ward e o astrônomo Donald Brownlee publicaram o livro Rare Earth: Why Complex Life is Uncommon in the Universe (Terra Rara: por que a vida complexa é incomum no universo) e descreveram a hipótese que considera nosso planeta excepcional. Mas quão correta é essa teoria?
“A Terra parece ser uma verdadeira joia — um planeta rochoso onde não só pode existir água líquida por longos períodos, mas onde a água pode ser encontrada como um oceano saudável — nem muito pouco, nem muito. Nosso planeta parece residir em uma região benigna da galáxia, onde o bombardeio de cometas e asteroides é tolerável e planetas da zona habitável podem comumente crescer até o tamanho da Terra”, é descrito no livro.
A hipótese da Terra Rara
Para desenvolver a hipótese da Terra rara, os cientistas argumentam que o planeta apresenta diversas características que são significativamente específicas e que, consequentemente, advêm de outras características específicas do Sistema Solar.
Eles explicam que foram necessárias várias condições únicas para que a vida se desenvolvesse na Terra, o que pode ser ‘atestado’ pela ausência de outros planetas com características iguais às do objeto cósmico que chamamos de casa.
Os autores não afirmam que a Terra seja especial ou que seja o centro do universo, mas que, por diferentes coincidências na formação do cosmos, o planeta desenvolveu características únicas que possibilitaram a formação da vida biológica complexa — como nós, seres humanos.
A lista de características citadas pelos autores no livro inclui muitos atributos, como: uma inclinação planetária ‘perfeita’ para permitir mudanças leves nas estações, e não severas; uma lua com o tamanho necessário para estabilizar o eixo do planeta; a presença de placas tectônicas; um núcleo derretido que gera o campo magnético para nos proteger das radiações do Sol; entre outros.
Gliese 12b é um exoplaneta no tipo Super Terra, pois apresenta algumas semelhanças com as características da Terra.Fonte: NASA / JPL-Caltech / R. Hurt
“Talvez estejamos realmente sozinhos. Essa é a conclusão instigante de Terra Rara, um livro que certamente terá um impacto de longo alcance na consideração do nosso lugar no cosmos. Embora seja amplamente acreditado que a vida complexa é comum, até mesmo disseminada, pelos bilhões de estrelas e galáxias do nosso Universo, os cientistas Peter Ward e Donald Brownlee argumentam que a vida avançada pode, de fato, ser muito rara, talvez até única”, é descrito na capa do livro.
Mas a Terra é tão rara assim?
A Terra realmente aparenta ser um corpo celeste raro, mas talvez não seja tão raro quanto os pesquisadores do livro acreditavam. Quando publicaram o livro, nos anos 2000, a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos EUA (NASA) havia descoberto pouquíssimos exoplanetas em comparação com o atual número.
Na época, apenas 11 exoplanetas haviam sido detectados e, atualmente, já foram confirmados mais de 5.743 na Via Láctea. Mas há mais de 10 mil que estão sendo analisados para os cientistas compreenderem se eles se encaixam nas características necessárias para um exoplaneta.
Conforme a tecnologia e a ciência avançam, logo podemos encontrar outras ‘terras raras’, como o nosso planeta. Fonte: Getty Images
Existem estudos que sugerem a existência de bilhões de planetas na Via Láctea, então, ainda só encontramos alguns deles. Atualmente, muitos cientistas acreditam que podem existir objetos cósmicos que apresentem atributos semelhantes aos da Terra. Inclusive, existem estudos sobre alguns planetas que são potencialmente semelhantes, como os exoplanetas TOI 700 d e Gliese 12b.
Em resumo, talvez planetas como a Terra não sejam tão raros quanto imaginávamos, mas as missões espaciais ainda não conseguiram confirmar nenhum que apresente as mesmas características do corpo celeste. Por enquanto, a Terra é única, mas pode não demorar para encontrarmos um corpo celeste muito semelhante.
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