*Coluna escrita por Eduardo Cosomano
De tanto ouvir falar em inteligência artificial, muita gente passou a esperar que ela seja a solução para todos os nossos problemas, ou a causa deles. De fato, ela vai ajudar muito em diversos aspectos, tanto na vida pessoal quanto na profissional, e também trará desafios de ajuste.
Ao mesmo tempo, porém, há uma falta de atenção gritante para a inteligência humana, que está por trás de toda e qualquer mudança tecnológica que a humanidade atravessa.
Não estou falando sobre habilidades técnicas, ainda que elas também sejam importantes. Estou falando, principalmente, de maturidade, empatia e uma aptidão emocional. Essas competências podem parecer distantes do assunto, mas garanto que não são.
Quem treina a IA? A partir de que tipo de conteúdo a tecnologia aprende e se desenvolve? Exatamente: o feito por humanos. A máquina pode encontrar facilmente regras de gramática e fórmulas científicas na sua base de dados, mas para formular respostas coesas e novas ideias, ela também bebe de conceitos estritamente humanos. E, se esses conceitos estiverem enviesados, a IA também será.
A inteligência artificial bebe de conceitos estritamente humanos
Nossas emoções, nosso raciocínio crítico, nosso modo de lidar com as pressões diárias, tudo isso também entra no funil de informações das IAs. E aí corremos o risco de criar, ao invés de inteligências artificiais, “burras artificiais”.
Isso porque a tecnologia não tem como se conectar com a realidade de nenhuma outra maneira que não seja através dos dados.Se aqueles que providenciam esses dados também estão desconectados da realidade, o resultado não tem como ser positivo.
E o que isso significa, na prática? É só olhar para o tanto de aprendizados que ainda não absorvemos como sociedade. Não aprendemos com as guerras, que continuam acontecendo; com a crise climática, que segue de mal a pior; com debates eleitorais que mais parece um circo.
Até mesmo individualmente, ainda é fácil encontrar pessoas presas em suas bolhas. É assim que vemos empresários fazendo publicações que ofendem milhares de pessoas, sem nem terem parado para pensar nas consequências, de tão distante que estavam dos seus arredores.
Portanto, eu não acho que a inteligência artificial conseguirá resolver tantos problemas, assim como também não será a causa de uma era desastrosa para os seres humanos. Ao que tudo indica, é a própria humanidade que continua seguindo por caminhos perigosos, e com muito mais dificuldade de “machine learning”.
No fim das contas, a inteligência artificial é superestimada, enquanto a burrice humana é subestimada. Temo que Nelson Rodrigues estava certo quando disse que “os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.
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Eduardo Cosomano é jornalista, fundador da agência EDB Comunicação, e coautor dos best-sellers “Saída de mestre: estratégias para compra e venda de uma startup” e “Ouvir, Agir e Encantar: a estratégia que transformou uma pequena empresa em uma das líderes do seu setor”, ambos publicados pela Editora Gente.