Prefácio – A memória se organiza de jeitos misteriosos. Todas as informações que adentram nossas vias sensoriais são capazes de ativar padrões minimamente reconhecidos de redes neurais no nosso cérebro.
Para alguns, a memória está ligada a capacidade que temos de reativar essas mesmas redes, conhecidas como engramas, em dias diferentes, a partir de estímulos externos, ou por evocação intencional, como quando você quer se lembrar do número ou nome da pizzaria.
Mas como exatamente nosso cérebro diferencia e divide os eventos do dia-dia, sem que nos recordemos dos fatos como um contínuo sem diferenciação? Pesquisadores da Universidade de Columbia podem ter feito uma descoberta interessante.
Mas como a memória se organiza?Fonte: Getty Images
Capítulo 1 – A pesquisa
Os pesquisadores da Universidade da Columbia se perguntaram sobre como o cérebro conseguia guardar as informações, e de certo modo, diferenciá-las em tempo e espaço.
As hipóteses da equipe consideravam, em um primeiro cenário, que nosso cérebro fazia essa quebra de informação ao ter uma mudança de ambiente, ou seja, todas às vezes que você muda de ambiente o cérebro abriria uma nova aba, criando uma nova memória.
Segundo essa hipótese, o “simples” mudar de ambiente ativaria uma nova memória.Fonte: Getty Imagesm
Já a segunda linha de investigação partia da premissa de que as memórias são guardadas e organizadas a partir de eventos significativos. Assim, todas às vezes em que algum fato, independentemente do ambiente, fosse significativo ou que chamasse atenção da pessoa, isso iniciaria um novo episódio no seu cérebro.
Capítulo 2 – O experimento
Para testar suas teorias, os pesquisadores desenvolveram 16 narrativas de áudio que ocorriam em quatro locais diferentes, aeroporto, mercado, restaurante e sala de aula.
Os áudios continham entre três e quatro minutos de duração, e contavam histórias de término de relacionamento, pedido de casamento, negociação de um contrato de negócio e um encontro apaixonado. Os pesquisadores perceberam que o cérebro dividia os acontecimentos em espécies de capítulos.
A cada novo fato significativo ou interessante o cérebro abre um novo capítulo, organizando nosso dia.Fonte: Getty Images
Os participantes da pesquisa foram submetidos a exames de imagem enquanto ouviam os áudios e quando eram questionados sobre os acontecimentos das narrativas. Ao ouvirem os áudios, pode-se perceber que o cérebro ativava constantemente redes neuronais, e que iam formando “capítulos”, que faziam com que a informação fosse categorizada na memória.
Mas essa organização não estava ligada à mudança de ambiente, mas aos fatos narrados, mostrando que os engramas eram formados e armazenados em capítulos segundo a significância do fato.
Capítulo 3 – Os capítulos da nossa vida
Graças a essa constatação, mais um pedacinho do nosso cérebro pode ser desvendado, nos dando pistas sobre como nossa memória organiza as informações para serem acessadas posteriormente. Ao criar capítulos, nossa mente se mostra em constante atividade, organizando e categorizando o que é significativo para nós.
Assim, se você fizer uma longa viagem, apenas os fatos mais interessantes, ou marcantes, ficarão registrados na sua memória, e o restante, menos significativo, podem nunca mais serem acessados. Graças a essa habilidade, conseguimos organizar e capitular os acontecimentos e diferenciá-los.
Contudo, outra informação importante foi observada, essa capacidade de capitular as memórias não é imutável. Foi solicitado aos participantes, armazenar informações como, o lugar, o que você pediu para o almoço, itens de compras do carrinho, dentre outras informações que estavam à margem da narrativa principal.
Os capítulos cerebrais se modificavam, incluindo na narrativa e na organização dos dias, detalhes que antes poderiam ser desconsiderados ou mesmo ignorados em um primeiro momento. Sendo assim, nossas memórias são maleáveis, podendo conter apenas o que nos é significativo ou o que nos é solicitado.
Capítulo 4 – O final?
Os capítulos memoriais do nosso cérebro nos ajudam a organizar, categorizar e especificar quais acontecimentos aconteceram no dia, nos fazendo diferenciar em que momentos os eventos aconteceram.
No entanto, o quão durável é essa divisão? Essa questão ainda irá levar algum tempo para ser respondida, no entanto, já está sob escrutínio da equipe.
Apesar de conhecermos os mecanismos-base para o armazenamento da memória, não é completamente conhecido sobre quais fatores podem evocar ou “apagar” uma memória.Fonte: Getty Images
O próximo passo é saber como será a qualidade dessa memória. Podendo ser armazenada em curto, médio ou longo prazo, a depender de diversos outros fatores, não apenas o de significância para cada indivíduo, mas sim com base na qualidade das sinapses que comandam esse armazenamento.
Contudo, é interessante pensar que nosso cérebro cria para nós uma minissérie diária, com direito a trilha sonora, caso você escute músicas constantemente, em núcleos e lugares diversos. Qual novela você viveu hoje?
Fique sempre atualizado com as últimas pesquisas, cientificas aqui no TecMundo. Se desejar, aproveite para conhecer o ‘jamais vu’, outra peça que seu cérebro pode te pregar. Até mais!