Titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2018, na Rússia, e convocado para a de 2022, no Qatar, Gabriel Jesus disse após a derrota da semana passada para a Argentina por 1 a 0, no Maracanã, acreditar que o gol “não seja o meu ponto forte”.
Vindo de um atacante, que atualmente joga em seu clube, o inglês Arsenal, como centroavante, a declaração trouxe uma alta dose de incompreensão.
Afinal, todo atacante que se preze, especialmente o que joga centralizado, deveria considerar fazer gol a sua grande qualidade.
Se alguém não vê assim, talvez seja o caso de repensar a posição em que joga e dar espaço na equipe para outro alguém –que esteja certo de que seu ponto mais forte é balançar a rede adversária.
Afinal, o Brasil, que vai mal nas Eliminatórias sob a batuta do treinador interino Fernando Diniz, está precisando muito de gols. Nos cinco jogos mais recentes, marcou apenas três, uma péssima média de 0,6 por partida.
Diniz chamou para as duas últimas apresentações da seleção nada menos do que nove atacantes. Atualmente, algum deles tem o gol como ponto forte?
A resposta depende muito da exigência de quem acompanha futebol. O que é suficiente? Um gol por partida (cujo tempo regulamentar é de 90 minutos)?
Talvez seja exigir demais, pois é incomum um atacante ter esse desempenho.
Tem que estar em uma fase estupenda ou ser um craque da estirpe do norueguês Erling Haaland, 23, do Manchester City, que nesta temporada (2023/24) registra média de um gol a cada 85 minutos (clube mais seleção).
Gabriel Jesus, na atual temporada, marcou quatro gols em 929 minutos –perdeu alguns jogos devido a lesões no joelho e na coxa. Ou seja, demorou 232 minutos, ou perto de dois jogos e meio, para conseguir superar o goleiro adversário.
Isso o deixa em posição de vantagem em relação a três dos convocados recentemente por Diniz (Pepê, Raphinha e Martinelli) e em desvantagem na comparação com cinco (João Pedro, Paulinho, Rodrygo, Endrick e Vini Jr).
A seguir, os números de cada um, em gols por minuto, considerando a temporada de 2023 no Brasil e de 2023/24 na Europa, em jogos por competição disputados pelo clube e pela seleção.
- João Pedro (Brighton, 22 anos): 1 gol a cada 134 minutos (1.071 minutos, 8 gols)
- Paulinho (Atlético-MG, 23 anos): 1 gol a cada 162 minutos (4.531 minutos, 28 gols)
- Vinicius Junior (Real Madrid, 23 anos): 1 gol a cada 194 minutos (1.165 minutos, 6 gols)
- Rodrygo (Real Madrid, 22 anos): 1 gol a cada 200 minutos (1.799 minutos, 9 gols)
- Endrick (Palmeiras, 17 anos): 1 gol a cada 210 minutos (2.515 minutos, 12 gols)
- Gabriel Jesus (Arsenal, 26 anos): 1 gol a cada 232 minutos (929 minutos, 4 gols)
- Raphinha (Barcelona, 26 anos): 1 gol a cada 278 minutos (835 minutos, 3 gols)
- Gabriel Martinelli (Arsenal, 22 anos): 1 gol a cada 334 minutos (1.002 minutos, 3 gols)
- Pepê (Porto, 26 anos): 1 gol a cada 1.376 minutos (1.376 minutos, 1 gol)
Na metade de baixo da lista, Jesus não deveria, em teoria, ter sido titular diante da Argentina, como foi (jogou a partida inteira), e sim João Pedro ou Paulinho (o atual artilheiro do Campeonato Brasileiro), que só esquentaram o banco.
Apesar da boa performance (1 gol a cada jogo e meio), João Pedro, que está na Europa desde 2019 (antes defendeu o Fluminense), não é titular absoluto do modesto (porém competitivo) clube inglês pelo qual atua, tendo iniciado só 4 dos 13 jogos do Brighton na Premier League.
Já Pepê (ex-Grêmio), na rabeira na relação dos nove atacantes comparados, começou 9 das 11 partidas de seu time no Campeonato Português, fazendo… zero gol. A única vez que ele marcou na temporada foi na Champions League, na derrota do Porto por 2 a 1 para o Barcelona nesta terça (28).
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