Quem viu na hora, ao vivo, viu. Quem não viu precisa procurar na internet e ver.
A atuação de Vinicius Junior pelo Real Madrid em partida no Santiago Bernabéu, na capital espanhola, nesta semana pela Champions League foi um primor, possivelmente a melhor da carreira do atacante de 24 anos.
Três gols em um intervalo de meia hora, todos no segundo tempo de um jogo que o Real virou em cima do Borussia Dortmund (a quem derrotou na decisão deste ano da Liga dos Campeões) depois de estar perdendo por 2 a 0, e poderiam ter sido quatro os gols dos alemães, a não ser pelas grandes defesas do belga Courtois, o melhor goleiro do mundo.
O primeiro gol de Vini Jr. veio de um lance de oportunismo. Estava no lugar certo para pegar uma sobra em tentativa frustrada de finalização do badaladíssimo colega francês Mbappé, que em fulgor, desde que desembarcou em Madri, na metade deste ano, está aquém do brasileiro.
O segundo gol, e esse você realmente não pode deixar de assistir, é daqueles para serem lembrados eternamente.
O camisa 7 recebeu a bola na lateral esquerda do campo de defesa e percorreu 65 metros conduzindo-a em alta velocidade. Ninguém conseguiu acompanhá-lo –o capitão do Dortmund, Can, desistiu de correr no meio do caminho– ou confrontá-lo .
Direcionando-se para o meio, próximo à meia-lua, Vini Jr. chutou, forte e colocado, no canto do goleiro Kobel.
Nesse golaço, não precisou dar um único drible. Guardou o repertório para o tento final, marcado nos acréscimos.
Antes de finalizar para as redes de pé esquerdo (como no primeiro gol e diferentemente do segundo, que foi com o direito), deixou para trás, com fintas, Süle, Gross e Anton. Outro golaço.
A performance portentosa do craque aconteceu a poucos dias da entrega da Bola de Ouro, tradicional prêmio dado desde 1956 pela revista France Football ao melhor jogador do mundo –naquele ano, ganhou o inglês Stanley Matthews. A premiação será na segunda-feira, dia 27, no Théâtre du Châtelet, em Paris.
Esse desempenho, contudo, não terá influência na escolha, pois a votação, feita por cem jornalistas de cem diferentes países, que decidem entre 30 jogadores pré-selecionados, já foi encerrada.
Mesmo que não tivesse sido, o terceiro hat-trick (três gols no mesmo jogo) da vida profissional de Vini Jr. deveria ser desconsiderado, já que o período a ser analisado é o da temporada 2023/2024 (1º de agosto do ano passado a 31 de julho deste ano).
Até junho, o brasileiro era tido como o favorito disparado para faturar a Bola de Ouro, depois de ótima temporada pelo Real, com os títulos do Campeonato Espanhol (com 15 gols, artilheiro da equipe), da Supercopa da Espanha (com hat-trick no 4 a 1 em cima do Barcelona) e, por fim, da Champions (com o segundo gol do 2 a 0).
Aí vieram a Copa América, na qual Vini Jr. foi mal pelo Brasil, e a Eurocopa, na qual dois atletas se destacaram pela campeã Espanha: o lateral direito Carvajal, 32, colega do brasileiro no Real e eleito o melhor jogador da decisão da Champions, e o volante Rodri, 28, escolhido o melhor jogador da Euro e pilar do Manchester City, atual tetracampeão inglês.
O fracasso da Inglaterra no Campeonato Europeu teria servido para tirar o meia Bellingham (outro do Real) do páreo.
A partir daí, a mídia começou a fazer comparações, e a preferência de vários jornalistas (em especial europeus e norte-americanos) por Rodri foi se tornando escancarada, em tom muitas vezes “lobístico”, fazendo parecer que o espanhol é mais merecedor do troféu que o brasileiro.
Não é, e será doído, e a meu ver injusto, se Vini Jr. não for o primeiro brasuca desde Kaká, no já longínquo 2007, a conquistar a Bola de Ouro.
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