Uma proposta de resolução enviada pelos Estados Unidos ao Conselho de Segurança foi vetada pela Rússia e China nesta sexta-feira. A Argélia também votou contra, enquanto Guiana se absteve e os demais 11 países votaram a favor do texto.
A proposta afirmava ser “imperativo” ter “um cessar-fogo imediato e sustentado para proteger os civis de todos os lados”, facilitar a entrega de ajuda “essencial” e apoiar as negociações em andamento entre Israel e os militantes do Hamas para um fim sustentado da violência, vinculado à libertação de todos os reféns.
Texto americano
Após semanas de negociações entre os membros do Conselho de Segurança, a minuta dos EUA marca uma mudança de posição em relação à última vez que os membros se reuniram, em 20 de fevereiro, quando a diplomacia americana vetou uma resolução da Argélia que exigia um cessar-fogo imediato.
O documento também exige acesso humanitário a reféns, proteção aos civis e reconstrução liderada pela ONU. Condena atos de terrorismo, pede respeito aos acordos humanitários e reitera apoio à solução de dois Estados.
Ao abrir a reunião explicando a proposta, a embaixadora americana, Linda Thomas-Greenfield, disse que os EUA desejam um cessar-fogo imediato e duradouro. No entanto, ela pontuou que é necessário fazer “o trabalho árduo da diplomacia” para tornar esse objetivo uma realidade e isso tem que se tornar “real no terreno”.
Para ela, a resolução ajudaria a pressionar o Hamas a concordar com um acordo sobre o fim dos combates e a libertação dos reféns. Ela argumentou que a resolução finalmente condenaria o Hamas, mas também aliviaria o terrível sofrimento e a violência que assolam Gaza. A embaixadora americana também destacou que uma invasão de Rafah seria um erro.
Oposição russa
Antes de votar contra a resolução, o embaixador da Rússia, Vassily Nebenzia, disse que os EUA haviam prometido um acordo para acabar com os combates repetidas vezes.
O representante russo afirma que os EUA reconheceram a necessidade de um cessar-fogo em um momento em que “mais de 30 mil habitantes de Gaza morreram”. Para o diplomata, os Estados Unidos estavam tentando “vender um produto” para o Conselho ao usar a palavra imperativo em sua resolução. Segundo ele, “isso não é suficiente” e o Conselho deve “exigir um cessar-fogo”.
Vassily Nebenzia disse que não havia nenhum pedido de cessar-fogo no texto, acusando a liderança americana de “enganar deliberadamente a comunidade internacional”. Ele afirmou que a proposta está apenas “jogando com os eleitores dos EUA”.
Segundo o embaixador russo, um projeto de resolução alternativo, que ele considera “equilibrado e apolítico”, está sendo distribuído por alguns outros membros do Conselho.
Situação humanitária
Em meio a relatos de bombardeios contínuos em Gaza na sexta-feira, os trabalhadores humanitários da ONU destacaram “níveis chocantes de doenças e fome” depois de visitar um hospital sobrecarregado no norte do enclave.
O principal funcionário da ONU responsável pela ajuda no Território Palestino Ocupado, Jamie McGoldrick, chegou ao hospital Kamal Adwan em Beit Lahia na quinta-feira, onde as crianças com fome grave e em risco de morte estão sendo tratadas em uma nova instalação de alimentação especializada apoiada pela Organização Mundial da Saúde, OMS.
Segundo o Escritório de Assistência Humanitária da ONU, sem tratamento rápido, essas crianças correm risco iminente de morte. O Ocha ainda fez um apelo para que todas as partes do conflito respeitem as leis da guerra e o direito humanitário internacional.
Combustível e suprimentos médicos foram entregues ao hospital Kamal Adwan, “mas a ajuda é apenas uma gota”, de acordo com Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa.
Relatos da mídia indicaram que o ataque militar israelense ao Hospital Al Shifa na Cidade de Gaza continuava pelo quinto dia consecutivo. A instalação é o maior centro de saúde de Gaza e só recentemente restaurou serviços “mínimos”. Segundo o Ocha, a violência dentro e ao redor da instalação colocaram pacientes, equipes médicas e tratamento em risco.
A violência contínua, os “bombardeios incessantes” e o colapso da ordem civil, além das restrições de acesso, “continuam a impedir a resposta humanitária”, insistiu o escritório da ONU. “Com os combates agora em seu sexto mês, e Gaza cada vez mais perto da fome, precisamos inundar o enclave com ajuda”, destacou.