Nikki Haley confirmou sua saída da corrida pela nomeação republicana, deixando o caminho livre para Donald Trump. A ex-governadora da Carolina do Sul discursou na manhã desta quarta-feira (6) de sua terra natal, após o massacre sofrido na Super Terça, quando perdeu em 14 dos 15 estados que foram às urnas.
“Chegou a hora de suspender minha campanha. Eu disse que desejava que os americanos tivessem suas vozes ouvidas. Eu fiz isso. Eu não tenho arrependimentos”, afirmou.
A republicana parabenizou o ex-presidente por suas vitórias, mas não anunciou seu endosso a ele, algo que já havia sinalizado que faria. Citando a conservadora Margaret Thatcher, Haley disse que um sábio conselho da ex-primeira-ministra britânica é “não siga o bando”.
Em suas palavras, cabe ao empresário agora conquistar os votos que não obteve durante as primárias. Embora minoritários no partido, os apoiadores da republicana são os que mais resistem a Trump e podem fazer diferença em uma eleição apertada contra Joe Biden em novembro.
A decisão de não apoiar imediatamente Trump a diferencia de Ron DeSantis, que endossou o empresário no mesmo discurso em que anunciou sua desistência.
Nas declarações feitas nesta quarta, Haley também enfatizou a necessidade de unir o partido e o país, e levantou suas bandeiras em política externa, uma prioridade para ela em toda campanha. A republicana disse que é um “imperativo moral” os EUA manterem seu apoio a aliados.
Haley era o último obstáculo para a nomeação de Trump no Partido Republicano. A desistência confirma uma nova disputa entre o ex-presidente e Joe Biden pela Casa Branca neste ano, embate rejeitado pela maioria dos americanos.
O fracasso da candidatura da republicana, que tentou se vender como uma alternativa menos caótica e mais moderada a Trump, ilustra a transformação da base do partido desde a ascensão do empresário na última década.
Haley demonstrou força nas primárias entre os republicanos tradicionais, de maior renda e formação, e independentes. Embora tenha conquistado um apoio significativo nesse grupo, ele não foi suficiente para superar o engajamento da base de Trump, mais pobre e menos qualificada.
Em New Hampshire, por exemplo, estado de perfil mais moderado, ela alcançou 43,2% dos votos, mas ainda assim ficou atrás do ex-presidente. O pleito era um dos poucos em que analistas viam alguma chance de Haley vencer, e sua derrota foi um banho de água fria em que desejava uma alternativa a Trump.
Dali em diante, foi ladeira abaixo para a ex-embaixadora dos EUA na ONU: ela perdeu para a opção “ninguém” na primária de Nevada, em que Trump não concorreu, e no estado da qual foi governadora, a Carolina do Sul, onde ficou 20 pontos atrás do empresário.
Suas únicas vitórias foram entre o pequeno —e fora da curva— eleitorado republicano de Washington (Distrito de Colúmbia) e em Vermont. Ainda assim, foram históricas: ela se tornou a primeira mulher a vencer uma primária republicana na história.
Haley ganhou projeção com os debates entre os pré-candidatos republicanos no segundo semestre do ano passado, sobretudo em temas ligados a política externa. Seu bom desempenho atraiu eleitores e doadores, que passaram a apostar nela, e não mais em Ron DeSantis, como a melhor alternativa a Trump.
No entanto, assim como o governador da Flórida, ela não conseguiu encontrar o equilíbrio tênue entre conquistar, ao mesmo tempo, críticos e parte dos apoiadores do empresário no partido.
A insistência da ex-governadora em seguir concorrendo irritou Trump, que a pressionava para desistir, afirmando que poderia estar gastando seus recursos na campanha contra Biden.
As atenções da corrida agora se voltam para quem Trump escolherá como vice. A própria ex-governadora chegou a ser aventada, mas o fato de ter prolongado sua campanha teria irritado o empresário.
Um conterrâneo de Haley, porém, vem sendo frequentemente citado: o senador Tim Scott, ele próprio um ex-candidato à nomeação do partido para a vaga na corrida presidencial. Conservador e negro, sua escolha é vista como uma forma de expandir o alcance de Trump.