O principal negociador brasileiro na cúpula do G20, o embaixador Mauricio Lyrio, ficou fechado em uma sala com os negociadores dos outros países das 13h às 19h30 deste sábado (16), tentando chegar a um acordo para os temas geopolíticos da declaração final da cúpula.
Os sherpas, como são chamados os líderes diplomáticos responsáveis por encaminhar as discussões e negociações de seus países até o encontro final, não saíram da sala no hotel Prodigy, ao lado do aeroporto Santos Dumont, nem para almoçar —pediram refeições para comer lá mesmo.
Apesar da maratona de seis horas e meia, os sherpas ainda não conseguiram chegar a um consenso. Eles iriam prosseguir com as deliberações. Um dos principais entraves é a ênfase na linguagem sobre as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia.
Os países árabes queriam uma condenação mais veemente das mortes de civis em Gaza —o Ministério da Saúde local, controlado pelos terroristas do Hamas, contabiliza mais de 43 mil mortos, sem distinção entre civis e combatentes.
Mas países europeus pressionam para que a condenação das mortes de civis na Ucrânia seja tão enérgica quanto a linguagem usada para as mortes em Gaza, em uma tentativa de que haja algum tipo de equilíbrio diplomático entre as duas guerras.
Há uma discussão sobre como o G20 deve se posicionar em relação a um conflito que envolve um de seus membros —caso da Rússia na Guerra da Ucrânia— e a outro que não envolve diretamente integrantes do grupo, como Gaza e Líbano.
Negociadores brasileiros trabalham com a possibilidade de a Argentina se recusar a assinar a declaração. Seguindo instruções do presidente Javier Milei, os sherpas argentinos já se opuseram a menções a equidade de gênero e taxação de bilionários na declaração.
Nesse caso, se a delegação do país concordar, a declaração poderia seguir os modelos adotados em 2017, 2018 e 2019, durante o o primeiro mandato de Donald Trump. Os EUA incluíram na declaração um parágrafo extra especificando que, diferentemente dos outros membros do G20, não apoiava o Acordo de Paris, que àquela altura Washington considerava prejudicial a trabalhadores e contribuintes.
A delegação técnica argentina também abandonou a COP29, a cúpula de clima da ONU que ocorre no Azerbaijão, sob ordens de Milei. Na OEA, a Organização dos Estados Americanos, e no Mercosul, Buenos Aires também bloqueou debates ligados à Agenda 2030 —conjunto de metas da ONU que Javier Milei elegeu como inimigo.