“Sou de onde o Messi é,” disse Esther Cunio, 90, aos dois terroristas armados e mascarados que tinham invadido sua casa momentos antes.
Era a manhã do 7 de Outubro, e o Hamas atacava uma série de comunidades próximas à Faixa de Gaza, em episódios que deixariam cerca de 1.200 mortos. Um dos locais invadidos foi Nir Oz, um kibutz localizado no sul de Israel.
Os homens armados exigiam saber de Esther onde estava o resto de sua família. “‘Não fale comigo’, eu disse, ‘porque eu não conheço sua língua. Você fala árabe e eu mal falo o hebraico. Eu falo espanhol argentino'”, conta ela. “Então ele me diz: ‘O que é Argentina?'”
Em uma mistura de hebraico, espanhol e linguagem gestual, a mulher direcionou a conversa para Lionel Messi. “‘Você assiste futebol?’ e ele me responde, ‘Sim, sim, eu gosto de futebol’. Eu conto a ele, ‘Eu sou de onde o Messi é’. Ele me fala, ‘Messi! Eu gosto do Messi’.”
Neste momento aconteceu talvez um dos momentos mais imprevisíveis em meio aos ataques que deram início à guerra Israel-Hamas: o homem se inclinou sobre a mulher sentada, colocou seu fuzil no colo dela e pediu para um colega tirar uma foto dele com Esther Cunio.
“Eles tiraram nossa foto, e, bem, eles partiram.” O registro de Esther com o AK-47 em seu colo e o terrorista ao seu lado viralizou nas redes sociais. O homem usava uma faixa do Jihad Islâmico, um grupo terrorista que se juntou ao Hamas para realizar os ataques, e tinha uma bandeira palestina em seu colete militar.
Em outra parte de Nir Oz, a família de Esther foi feita refém. Seus netos David, 33, e Ariel, 26, ainda estão sendo mantidos em cativeiro em Gaza. David foi sequestrado junto com sua esposa e seus filhos gêmeos, que foram posteriormente libertados durante uma breve trégua em novembro em troca de prisioneiros palestinos. Agora Esther diz esperar o retorno de seus “meninos de ouro”.
A história de Esther Cunio é uma entre várias presentes no documentário espanhol “Voces del 7 de Octubre” [vozes do 7 de outubro, em tradução livre]. A produção tem como objetivo dar um foco especial à comunidade latino-americana que mora em Israel e foi afetada pelos ataques em outubro de 2023.
Atualmente, a guerra Israel-Hamas contabiliza, somente em Gaza, quase 32 mil mortos e mais de 74 mil feridos, e completará seis meses no início de abril. Tanto a Argentina quanto o Peru disseram que cidadãos de seus países foram mortos no conflito, enquanto o México disse ter cidadãos entre os sequestrados.
Outro dos prováveis reféns é o brasileiro-israelense Michel Nisenbaum, natural de Niterói. Quando, no início do mês, o Exército de Israel comunicou a cerca de 30 famílias de reféns que seus entes haviam morrido em Gaza, os familiares de Michel não foram procurados, o que os mantém com a esperança de que ele esteja vivo.