Nem o ataque de Pearl Harbour abalou tanto o poderio americano quanto o ataque terrorista às Torres Gêmeas, em Nova York e ao Pentágono em Washington. O ataque japonês foi o auge de uma disputa pelo mercado asiático tinha se iniciado 50 anos antes. Japão e Estados Unidos disputavam a supremacia no Extremo Asiático e o grande botim era o controle do Pacífico e do mercado da China.
A surpresa do ataque contra a base da frota americana no Pacífico se deu depois que os americanos bloquearam todos os bens de empresas e bancos nos Estados Unidos, deixando o Japão a um passo da bancarrota. É verdade também que o império fazia parte do eixo nazi-fascista com a Alemanha e a Itália e tinha pretensões imperialistas em toda a Ásia, onde disputava com a Inglaterra e Estados Unidos a hegemonia na região.
Planejar um ataque não é coisa simples. Tem que ser coisa de gênio. O Almirante Yamamoto planejou o ataque, com a diretiva de liquidar com a base militar americana mais próxima do Japão, mas sabia que se ele não tivesse sucesso, o poderio industrial do inimigo sufocaria o seu país. Ele mesmo viveu em Washington e sabia do que a máquina de guerra americana era capaz de produzir.
O ataque foi um sucesso, os aviões partiram dos porta-aviões, e enquanto uns jogavam torpedos nos navios da frota fundeados no porto, outros destruíram os aviões da USAF no aeroporto. Foi um sucesso? Sim, porém o morango da frota não estava lá. Os porta-aviões foram retirados secretamente e enviados para o canal do Panamá.. Sem atingir esses navios, o sucesso do plano foi comprometido.
O gênio de Osama Bin Laden tinha que suplantar o paradigma de atacar o país mais forte do mundo, a primeira potência nuclear, com as maiores e mais eficientes forças armadas. Um ataque surpresa estava descartado. Não haveria força militar estrangeira capaz disso. Pergunte aos soviéticos. Porém, ele quebrou o paradigma ao usar contra o inimigo suas próprias forças, como em uma lição de aiquidô.
Treinou pilotos nos Estados Unidos, sequestrou aviões americanos, voou no território do Tio Sam e jogou quatro aviões civis, de grande porte, como centenas de passageiros a bordo, no que considerava ser os símbolos do inimigo. Dois no World Trade Center, o símbolo do capitalismo ianque, outro no Pentágono, o cérebro das forças militares nacionais, e outro na Casa Branca ou no Capitólio, símbolos do poder político.
Teve sucesso? Sim, dos quatro alvos, acertou três. Atingiu o coração do inimigo partindo de dentro dele mesmo, ou a síntese que a destruição está dentro do próprio sistema e não fora dele. Um ataque sem esquadra, sem soldados uniformizados, sem tanques, nem foguetes ou outras armas conhecidas.
Transformou um equipamento civil e pacífico, um avião de passageiros, em uma arma mortífera. Capilarizou o conceito de inimigo, ele não tinha bandeira, nem território, nem Estado, nem bases militares, nem capital. Estava em lugar nenhum e, ao mesmo tempo, em todos os lugares. A reação foi mobilizar a maior máquina de guerra do mundo, a um custo de bilhões de dólares para se atacar não se sabe que país, e prender não se sabe quem nem onde.
O sucesso de Osama durou uma década, o de Yamamoto, alguns meses com a volta dos porta-aviões que passaram a atacar o Japão. A invasão do Iraque depois do Afeganistão foi uma tentativa de dar um recado ao mundo que ninguém fica impune se ataca a nação mais poderosa da Terra.
Há quem diga que o século XXI começou depois dos ataques terroristas, quando a história passou da Idade Contemporânea à Idade do Conhecimento. É uma tese, mas de fato o advento da multilateralidade, o declínio da hegemonia americana, a ascensão dos países de média periferia do sistema, os BRICs, o advento da internet e das redes sociais mudaram a cara do mundo. E estão mudando o processo histórico nunca foi tão rápido, ainda que a um custo de vidas, perda de monumentos e crises sistêmicas constantes.