Um militar ucraniano com ligações com o serviço de inteligência de seu país coordenou o ataque ao gasoduto russo Nord Stream no ano passado, diz reportagem colaborativa entre o jornal americano Washington Post e a revista alemã Der Spiegel publicada neste sábado (11).
O nome apontado pelas publicações, que consultaram indivíduos da Ucrânia e da Europa que pediram anonimato, é o do ex-oficial de inteligência Roman Tchervinski, 48, que serviu nas Forças Armadas especiais ucranianas.
Ele teria liderado uma equipe de seis pessoas, alugado um veleiro usando identidades falsas e usado equipamentos de mergulho em para posicionar explosivos nos dutos. Tchervinski não idealizou, porém, o ataque, segundo a reportagem.
O militar nega qualquer envolvimento. “Todas as especulações sobre meu envolvimento no ataque ao Nord Stream estão sendo espalhadas pela propaganda russa sem qualquer base”, disse ele por meio de seu advogado ao Post.
De acordo com a reportagem, ele teria recebido ordens de autoridades ucranianas superiores que respondiam ao general Valeri Zalujni, o militar de escalão mais alto do país.
Em setembro de 2022, três explosões ocorreram perto da ilha dinamarquesa de Bornholm e romperam três das quatro linhas do gasodutos Nord Stream 1 e 2, com capacidade de entregar gás russo a milhões de pessoas na Europa pelo mar Báltico.
Ninguém assumiu a responsabilidade pelo ataque, embora não as acusações abundassem de todos os lados. Na época, Alemanha, Dinamarca e Suécia começaram investigações sobre as explosões, que lançaram plumas de metano na atmosfera em um vazamento que durou vários dias.
Desde então, os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental fundada em 1949) têm chamado o ataque de sabotagem; Moscou, por sua vez, diz que o ocorrido foi um ato de terrorismo internacional.
Antes da explosão, Kiev já havia reclamado que o Nord Stream possibilitaria à Rússia fornecer gás à Europa sem uma via que passasse pela Ucrânia, fazendo com que o país invadido perdesse uma importante fonte de receitas. O conglomerado estatal russo Gazprom detinha 51% do gasoduto, que contava com investimentos de empresas alemães, francesas e holandesas.
No início da Guerra da Ucrânia, a estratégia de Moscou para erodir o apoio europeu a Kiev no conflito era reduzir o envio de gás ao continente —o Nord Stream 1 estava praticamente inoperante quando foi atacado, e o 2 nunca chegou a funcionar. Apesar do conflito, o gás seguiu fluindo por dutos que passavam pelo território ucraniano.
Procurado pela agência de notícias Reuters, um porta-voz do Exército da Ucrânia disse que não tinha informações sobre a alegação. Já o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia e o serviço de segurança doméstica de Kiev, o SBU, não responderam imediatamente a pedidos de comentário.
O Washington Post também informou que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que negou o papel de Kiev nas explosões, não estaria ciente da operação.
Atualmente, Tchervinski está preso por desacato a autoridade após uma tentativa de convencer um piloto russo a desertar para a Ucrânia em 2022. Investigadores dizem que isso está na origem de um ataque letal de Moscou a uma base aérea ucraniana.
Crítico contundente da administração de Zelenski, Tchervinski disse que o caso contra ele tem motivações políticas e que ele estava seguindo ordens naquela operação. Seu comandante na época, o general Viktor Hanushtchak, disse à mídia ucraniana no início deste ano que a liderança militar sênior havia aprovado o plano para atrair o piloto russo.