Dezenas de milhares de manifestantes lotaram os arredores do Parlamento de Taiwan nesta sexta-feira (24) para protestar contra reformas que julgam ser fruto da influência da China sobre a ilha.
Se aprovadas, as reformas darão mais poder aos legisladores, que poderão solicitar ao Exército, a empresas privadas e a indivíduos a divulgação de informações consideradas relevantes. O texto também prevê a criminalização do desacato ao Parlamento por parte de funcionários do governo.
O protesto, que foi pacífico e acompanhado pela polícia, aconteceu em uma semana agitada no território.
Nesta sexta, a China fez o segundo dia consecutivo de exercícios militares ao redor de Taiwan, três dias depois de outra manifestação lotar as ruas na região do prédio do Legislativo. A tensão na ilha aumentou após a posse do novo presidente, Lai Ching-Te, considerado um separatista por Pequim.
Sua sigla, o Partido Democrático Progressista (PDP), argumenta que os tópicos abordados no projeto são vagos. A legenda tenta frear os planos da oposição, que alega estar tentando aumentar a supervisão dos atos do governo. Juntos, os dois principais partidos da oposição, o Kuomintang (KMT) e o Partido Popular de Taiwan (PPT), formam maioria no Parlamento.
Os manifestantes, em sua maioria estudantes e trabalhadores jovens, usaram discursos e cartazes para acusar a oposição de trabalhar para os interesses chineses.
Uma das presentes era a dona de casa Mucha Kung, que foi ao protesto com seu filho de 9 anos. “Eles estão se tornando os porta-vozes do Partido Comunista Chinês em Taiwan, tentando erodir nossa democracia”, disse ela, em referência aos políticos da oposição. “A China está nos ameaçando com força bruta e tentando mudar nossas opiniões com propaganda.”
“Eu acho que a China é quem precisa de reformas. Por que precisam se meter conosco quando eles não têm um sistema democrático?”, disse, por sua vez, o aposentado Fong Jye-mei, 66.
Dentro do Parlamento, os políticos gritavam palavras de ordem enquanto o debate se estendia até o fim da noite. O parlamentar Wang Ting-yu, do PDP, disse que as leis expandiriam ilegalmente o poder dos legisladores. “[O texto] dá o poder aos legisladores de punir o povo”, disse ele. “Vocês foram eleitos para puni-los?”
Já o KMT, que apoia laços mais estreitos com a China, mas nega ser pró-Pequim, acusou o partido no poder de tentar “espalhar rumores e pintá-los de vermelho”, as cores do Partido Comunista Chinês, para sufocar o projeto. “O PDP trava a reforma parlamentar porque tem medo de não conseguir esconder suas más condutas e mentiras”, disse a sigla, em nota.